"...Elias Canetti descreve as propriedades das mãos (Massa e Poder). Num deslocamento rápido — Canetti retroage à era em que vivíamos nas árvores — as duas mãos não fazem a mesma coisa, num só momento. Uma tenta alcançar o galho seguinte, outra segura o galho anterior. O ato de segurar é estratégico pois é a única coisa que impede a queda. A mão, sobre a qual pende todo o corpo, não pode soltar o que segura. Assim, ela adquire o hábito de uma grande tenacidade. Quando o outro braço alcança o galho seguinte, o galho anterior deve ser solto. Soltar com a rapidez do relâmpago é a aptidão que se agrega às mãos em nossa pré-história. Pegar-soltar-pegar-soltar. Num mesmo instante, uma das mãos faz o contrário da outra, o que dá aos macacos e ao ser humano que estava nascendo a leveza para seguir em frente.O comércio, diz Canetti, guarda semelhante habilidade manual, pois consiste em dar algo em troca de algo. Uma das mãos agarra o objeto com o qual tenta induzir o interlocutor a comprar. A segunda segue para o outro objeto, que se pretende obter em troca. Quando determinada mão toca o objeto pretendido, a outra solta a sua propriedade. Não antes, porque poderia ser privada do que tem. Para evitar isto, vem o sobreaviso na negociação, observa-se o interlocutor.
A alegria do comércio em parte se explica porque ele perpetua uma das mais antigas formas de movimento, em atitude psicológica. A grandeza da mão está na paciência, os seus processos compassados criaram o mundo em que vivemos."
(Exceto do Artigo de Roberto Romano: Técnica, Guerra e Ética (2) in. Correio Popular/Campinas, 30/05/2007)
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