MORRER PARA ENTRAR NA LUZ
HANS KÜNG
Para mim, pessoalmente, eu aceitei a “aposta” de Blaise Pascal, e ponho todas as minhas fichas em Deus, e contra o zero e o nada – não com base no cálculo das probabilidades, nem na lógica matemática, mas sim com base em uma razoável confiança. Não acredito nas formas legendárias mais tardias da mensagem neotestamentária da ressurreição, mas acredito sim, em seu núcleo original: que este Jesus de Nazaré não morreu por nada, mas sim para Deus. Confiando nesta mensagem, eu, como cristão, e como muitas outras pessoas de outras religiões, acredito que não morro para o nada, o que e parece ao extremo irracional e sem sentido. Acredito, pelo contrário, que morro para a realidade primeira e última, para Deus, o que – na real e oculta dimensão do infinito, além do espaço e do tempo – supera toda a razão e toda imaginação humana. Nenhuma criança, se já não tiver disso conhecimento, espera ver no casulo de uma lagarta a existência livre e luminosa de uma borboleta, não mais presa à terra! Tenho plena consciência, evidentemente, do risco inerente a esta aposta, mas estou convencido de que, mesmo que na morte eu viesse a perder a aposta, nada teria perdido para minha vida, pelo contrário, eu teria de qualquer forma vivido melhor e com mais alegria e sentido do que se não tivesse tido esperança nenhuma.
É esta minha esperança, esclarecida e fundamentada: morrer é um despedir-se para dentro de si, a fim de ingressar e abrigar-se na origem e fonte do mundo, em nossa verdadeira pátria: uma despedida – dependendo do casão – talvez não sem dor e angústia, mas de qualquer modo na segurança e na entrega, ou pelo menos sem lamentos nem queixas, sem amargura ou desespero, mas pelo contrário, em confiante expectativa e silenciosa certeza, e (depois de acertar tudo quanto precisa ser acertado) em tímida gratidão por tudo quanto de bom e de menos bom ficou definitivamente para trás – graças a Deus.
Posso, assim, entender o todo da realidade, mesmo que não seja capaz de apreende-lo:
Deus como Alfa e Ômega, como início e fim de todas as coisas.
E por isso, morrer para entrar na luz.
(KUNG, Hans. O princípio de todas as coisas. Petrópolis, RJ, Vozes, 2007, pg.278,279)
HANS KÜNG
Para mim, pessoalmente, eu aceitei a “aposta” de Blaise Pascal, e ponho todas as minhas fichas em Deus, e contra o zero e o nada – não com base no cálculo das probabilidades, nem na lógica matemática, mas sim com base em uma razoável confiança. Não acredito nas formas legendárias mais tardias da mensagem neotestamentária da ressurreição, mas acredito sim, em seu núcleo original: que este Jesus de Nazaré não morreu por nada, mas sim para Deus. Confiando nesta mensagem, eu, como cristão, e como muitas outras pessoas de outras religiões, acredito que não morro para o nada, o que e parece ao extremo irracional e sem sentido. Acredito, pelo contrário, que morro para a realidade primeira e última, para Deus, o que – na real e oculta dimensão do infinito, além do espaço e do tempo – supera toda a razão e toda imaginação humana. Nenhuma criança, se já não tiver disso conhecimento, espera ver no casulo de uma lagarta a existência livre e luminosa de uma borboleta, não mais presa à terra! Tenho plena consciência, evidentemente, do risco inerente a esta aposta, mas estou convencido de que, mesmo que na morte eu viesse a perder a aposta, nada teria perdido para minha vida, pelo contrário, eu teria de qualquer forma vivido melhor e com mais alegria e sentido do que se não tivesse tido esperança nenhuma.
É esta minha esperança, esclarecida e fundamentada: morrer é um despedir-se para dentro de si, a fim de ingressar e abrigar-se na origem e fonte do mundo, em nossa verdadeira pátria: uma despedida – dependendo do casão – talvez não sem dor e angústia, mas de qualquer modo na segurança e na entrega, ou pelo menos sem lamentos nem queixas, sem amargura ou desespero, mas pelo contrário, em confiante expectativa e silenciosa certeza, e (depois de acertar tudo quanto precisa ser acertado) em tímida gratidão por tudo quanto de bom e de menos bom ficou definitivamente para trás – graças a Deus.
Posso, assim, entender o todo da realidade, mesmo que não seja capaz de apreende-lo:
Deus como Alfa e Ômega, como início e fim de todas as coisas.
E por isso, morrer para entrar na luz.
(KUNG, Hans. O princípio de todas as coisas. Petrópolis, RJ, Vozes, 2007, pg.278,279)
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