quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Estados Unidos: era uma vez o casamento

Cenas de um casamento americano - Imagem da Internet
Um relatório publicado nos últimos
dias pelo Pew Research Center afirma
que agora apenas 51% dos adultos
dos EUA estão atualmente casados.
Se fizermos uma comparação com 1960, quando 72% de todos os adultos (então considerado aqueles que tinham 18 anos ou mais) eram casados, esse número representa um mínimo histórico para os Estados Unidos e, segundo o relatório, é representativo das muitas outras "sociedades pós-industriais avançadas".
"Se esta tendência continuar – escreve um dos redatores do relatório, D'Vera Cohn –, o percentual dos adultos que estão atualmente casados se reduzirá em mais da metade em poucos anos. Os outros métodos e sistemas de vida dos adultos – incluindo a convivência, famílias compostas por uma única pessoa e famílias monoparentais –, tudo isso se tornou prevalente nas últimas décadas".
O relatório também revela que o número de adultos que nunca se casaram quase duplicou desde 1960, passando de 15% para 28% do total, e que a idade média para o primeiro casamento subiu de 20,3 anos para 26,5 anos para mulheres, e de 22,8 para 28,7 para os homens.
Nesse fenômeno, deve-se considerar também a atitude da opinião pública, assim como ela foi se formando com base na cultura dominante propagandeada pela mídia, e da sociedade permissiva que surgiu dos anos 1960. "A atitude pública com relação à instituição matrimonial é mista", observa Conh. "Cerca de quatro em cada dez norte-americanos defendem que o matrimônio está se tornando obsoleto, segundo uma pesquisa realizada pelo Pew Research concluída em 2010. Mas a mesma pesquisa constatou que a maior parte das pessoas que nunca se casaram, isto é, 61%, adoraria fazê-lo um dia ou outro".
O estudo de 2010 demonstrava, de fato, que, apesar dos números crescentes, no que se refere à convivência, ao divórcio e às crianças com apenas um progenitor, 95% dos norte-americanos com menos de 30 anos tinham em seus projetos um futuro casamento. "O matrimônio, embora esteja em declínio em todos os grupos, continua sendo a norma para os adultos que têm educação de nível college e uma boa renda, mas agora está marcadamente menos prevalente nos degraus mais baixos da escala socioeconômica", declarava o relatório Pew, explicando que as pessoas de grupos menos favorecidos provavelmente desejam o casamento exatamente como todos as outras, mas consideram como prioritária a segurança econômica como pré-condição para o casamento.

"As pessoas não religiosas
"têm mais probabilidade de se divorciar
do que aquelas que são comprometidas religiosamente",
e a convivência é mais comum entre os não religiosos.
Os norte-americanos,
nas últimas décadas, se descomprometeram
progressivamente de muitas instituições,
incluindo as Igrejas."


O relatório do qual falamos revela que cerca de dois terços dos adultos com um grau acadêmico superior são casados (64%), enquanto esse número cai para pouco menos da metade do total para aqueles que tiveram uma educação de nível college (48%) ou de ensino médio (47%).
Se considerarmos a idade com relação ao casamento, a pesquisa demonstra que o declínio do casamento entre os adultos é dramaticamente mais evidente entre os jovens. Apenas 9% dos adultos entre 18 e 24 anos se casaram em 2010, enquanto em 1960 eram 45%. Entre os adultos entre 25 e 34 anos, menos da metade se casou em 2010 (exatamente 44). Em 1960, chegava-se a 82%. Embora a maior parte dos norte-americanos a partir da metade dos 30 anos seja casada, as proporções diminuíram notavelmente com relação a 1960.
O estudo também considerou as estatísticas do casamento de acordo com a raça, concluindo que mais da metade (55%) dos adultos brancos são casados, com uma diminuição líquida de 74% em 1960. Entre os hispânicos, o número de casados é de 48%, enquanto em 1960 era de 72%. E, entre os negros, apenas 31% são casados, enquanto em 1960 era de 61%. "Algumas diferenças entre os grupos podem ser explicadas pelo fato de que as comunidades de hispânicos e negros, por estrutura, são formadas por pessoas mais jovens do que os brancos", especulam os pesquisadores. No entanto, em comparação com 50 anos atrás, chega-se ao matrimônio seis anos mais tarde, em média, na vida de cada um.
E há outra descoberta da relação. O número de novos casamentos nos Estados Unidos caiu em 5% entre 2009 e 2010, uma queda seca no período de um ano, provavelmente ligada à situação econômica.
O fenômeno, entretanto, não é apanágio exclusivo dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos não são, de fato, o único país em que o casamento está perdendo posições há meio século. A mesma tendência ganhou espaço na maior parte das sociedades pós-industriais avançadas, e estas quedas de longo prazo parecem amplamente não relacionadas ao ciclo econômico. A queda se manteve constante em períodos econômicos bons, assim como nos ruins".
Na realidade, segundo o sociólogo W. Bradford Wilcox, a queda constante do número dos casamentos deve ser atribuído a três fatores concomitantes: a mudança dos valores da sociedade, as decisões políticas e os fatores econômicos. Segundo Wilcox, a maior dificuldade em encontrar um trabalho estável pode levar os casais a viver juntos e a retardar o momento do casamento. Além disso, é evidente que a cultura da sociedade se tornou mais individualista e pronta para aceitar alternativas ao casamento, como o sexo pré-matrimonial e a convivência. Wilcox também evidencia que o casamento não é mais privilegiado pelas políticas públicas e às vezes é penalizado pela lei de um ponto de vista financeiro, criando assim um incentivo para que os casais não formalizem a sua união.
A religião eu afastamento dela também têm um papel próprio. Um relatório do National Marriage Project, concluído em 2010, destaca algumas características. As pessoas não religiosas "têm mais probabilidade de se divorciar do que aquelas que são comprometidas religiosamente", e a convivência é mais comum entre os não religiosos. Os norte-americanos, nas últimas décadas, se descomprometeram progressivamente de muitas instituições, incluindo as Igrejas.
Segundo Wilcox, a tendência a abandonar o casamento pode causar danos à sociedade norte-americana. As pessoas casadas, estatisticamente, são mais felizes, e as crianças são melhores quando cresceram junto a progenitores casados. Dentre outras coisas, demonstram uma menor tendência à depressão e ao uso de drogas.
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A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 03-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 04/01/2012

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