segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cinco páginas

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL*

 Noah Lukeman
Noah Lukeman não é de brincadeiras. É agente literário em Nova York. Lá, a vida é dura. Ele tem 39 anos. Sua carteira de clientes inclui autores premiados e reconhecidos pelo público. Não cultiva preconceitos: tanto promove escritores literários como comerciais. No passado foi editor e, portanto, conhece ambos os lados do balcão.
É dele a afirmativa: “Deus ajude o editor profissional que necessite ler 50 páginas para avaliar todos os originais; ele nunca sobreviverá. Não conseguirá dar conta dos 10.000 manuscritos atrás dele, condição para tocar o seu negócio. Este tipo de trabalho ensina você a tomar decisões instantâneas. Algumas pessoas não conseguem – ou não querem – fazer isso, e então deixam o ramo”.
É de Noah Lukeman um best-seller [ele também escreve] chamado de The First Five Pages, saído pelos editores Simon & Schuster, de NY. O enigmático título é acompanhado de chamadas atraentes: Evite os erros comuns nos originais; atraia a atenção de agentes e editores; eleve a qualidade de seu texto. Na contracapa, uma promessa animadora: “Se você está cansado de rejeições [de editores e agentes, of course], este livro é para você”. Bom marketing, sem dúvida.

"A Bíblia é uma das mais eficientes
aulas de bem escrever. A criação do mundo,
 do primeiro homem e primeira mulher,
 é contada em 30 frases."

O livro não se dirige apenas a romancistas ou contistas; serve também para jornalistas, poetas e escritores de não-ficção. Há vários recados de Lukeman. Um destes: não adianta mandar sinopses para as editoras e agentes. O autor diz que e agentes e editores ignoram sinopses. Se eles se dão conta de que o livro é bom, então é que vão ler a sinopse.E quais são os problemas apontados? Lukeman vai direto: uma abertura com um “gancho” fraco; uso exagerado de adjetivos e advérbios; metáforas fracas ou forçadas, e similares; tom melodramático, lugares-comuns e diálogos confusos; caracterizações pouco desenvolvidas e situações “sem vida”; ritmo irregular e falta de progressão da narrativa ou da exposição. Está recheado de exemplos.
Escritores sorriem ao ler esses conselhos. Talvez não fosse o caso. São muito úteis, especialmente para quem começa e, em geral, ninguém lhe diz essas coisas.
Se o livro ainda não resolver, estão aí as cinco páginas iniciais do Gênesis. Não importa se você é ateu ou crente. Com limpidez e singela elegância, a Bíblia é uma das mais eficientes aulas de bem escrever. A criação do mundo, do primeiro homem e primeira mulher, é contada em 30 frases. E isso alguns milênios antes de Lukeman. Leia e constate.
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* Escritor. Prof. Universitário. Colunista da ZH
Fonte:ZH on line, 27/02/2012
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