sábado, 31 de março de 2012

Testemunhas oculares da ascensão do mal

Em 'Hitlerland', Andrew Nagorski reúne relatos de norte-americanos na Alemanha durante os anos que antecederam a chegada de Adolf Hitler ao poder

Alguns livros sobre a Alemanha nazista suscitam a questão, “O que eu teria feito?” Os leitores de Hitlerland: American Eyewitnesses to the Nazi Rise to Power (Terra de Hitler: Testemunhas oculares norte-americanas da ascensão dos nazistas ao poder) podem, ao invés disso perguntar: “O que eu teria pensado?” Andrew Nagorski escreveu uma crônica interessante das opiniões dos norte-americanos na Alemanha durante os anos entre as guerras até o ataque do Japão a Pearl Harbor, em 1941. O que acham do país que passou da desordem de Weimar para a loucura do Hitlerismo?
A Alemanha era um lugar popular na época, dando a Nagorski um rico elenco de personagens. “O mundo estava sendo criado aqui”, escreveu Philip Johnson, um arquiteto norte-americano, da Berlim pré-nazista. A ascensão de Hitler trouxe ainda mais fascínio. Charles Lindbergh, um aviador americano, foi tolo o suficiente para ser usado por ambos os nazistas e os norte-americanos. John F. Kennedy faz uma aparição energética nas páginas do livro, como um estudante universitário.
Este livro nos reapresenta a Ernst “Putzi” Hanfstaengl, um excessivamente benevolente pós-graduando teuto-americano de Harvard, que se posicionou entre Hitler e a imprensa estrangeira e que se gabava de ser a ponte do Führer para os Estados Unidos. Hitler, por sua vez, cobiçava a esposa de Hanfstaengl, que pegou sua arma antes que ele pudesse atirar em si mesmo após o fracasso do Putsch da Cervejaria, uma mal sucedida tentativa de golpe, em 1923. Hanfstaengl eventualmente caiu em desgraça, e escapou por pouco de ser arremessado de um avião (com um paraquedas) sobre os territórios dominados pelos republicanos na Espanha. Sua paixão por Hitler permaneceu.
 Livro acompanha crescimento do nazismo na visão de norte-americanos na Alemanha

Mais sábia era Martha Dodd, a namoradeira filha do embaixador norte-americano. Ela flertou com o nazismo (por meio de nazistas bonitos), mas depois arranjou um amante soviético e tornou-se uma espiã.
Um jornalista veterano, com passagem pela Newsweek, Nagorski parece mais interessado nas histórias de diplomatas e companheiros jornalistas. Eles ganham um retrato melhor do que seus compatriotas de passeios, mesmo que seus pontos de vista iniciais tenham estado longe da verdade. Dorothy Thompson, jornalista de celebridades e esposa do romancista Sinclair Lewis, publicou um livro em 1932 chamado “I Saw Hitler!” (“Vi Hitler”). Ela o considerou um “homem pequeno com um rosto do ator … capaz de ser empurrado para fora ou para dentro”, enquanto o Presidente Hindenburg parecia “esculpido numa rocha”. A “tragédia” de Hitler, escreveu ela, “é que ele subiu muito alto”. No ano seguinte, ele chegou ao poder.
Em 1934 o tom de Thompson tinha mudado, e seus relatos fizeram dela a primeira jornalista a ser expulsa pelos nazistas. Em seu retorno aos Estados Unidos, ela disse: “A Alemanha já está em guerra e o resto do mundo não acredita nisso”.
George Messersmith, um cônsul geral norte- americano em Berlim, que já antevia a ameaça hitlerista “desenvolveu o hábito de não se deixar enganar pelos nazistas”, escreve Nagorski. “Um homem pequeno tomou as rédeas de homens ainda menores”, observou Edgar Mowrer, que ganhou o prêmio Pulitzer para o Chicago Daily News. No momento em que Hitler se tornou Führer em 1933, sua selvageria era mais difícil de ser ignorada.
Em geral, os norte-americanos na Berlim pré-guerra tiveram a inteligência para perceber o que estava por vir, e assim ajudaram a preparar seus compatriotas para “os anos de derramamento de sangue e luta pela frente”. No entanto, Hitlerland traz de volta à vida algumas ilusões iniciais sobre a ascensão de Hitler que agora parecem impensáveis. Qualquer leitor tentando decifrar o mundo de hoje será perturbado pela lembrança de como é fácil fazer as coisas erradas.
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 http://opiniaoenoticia.com.br/31/03/2012

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