JORGE MASSAROLO*
Prepare seu lenço. O festival de comerciais emotivos
envolven
do papais e seus pimpolhos está a mil por hora em
todos os canais de televisão. Tem uns que deixam realmente emocionado e
outros indignado. Geralmente, as imagens são de cinema e o enredo pega
você pelo coração, então você vai mergulhando na história do pai herói,
com closes de rostos, lágrimas, abraços e sorrisos, tudo em câmera
lenta, com aquela trilha sonora fantástica ao fundo. Então ele acaba e
você vê que o patrocinador daquele momento emotivo é o banco para quem
você está devendo às turras e que te cobra um juro exorbitante no cheque
especial. Ah, bem que eu preferiria que ele fizesse um comercial mais
feinho, e em contrapartida baixasse a taxa de juros da minha dívida.
Seria um pai mais feliz.
A história se repete no comercial do carro maravilhoso — numa linda
viagem com a família sorridente —, que você sabe que nunca vai comprar, a
menos que aconteça um milagre na sua vida. Pelo menos não tenho visto
mais aqueles comerciais da rica família feliz que se contenta com um
pote de margarina no café da manhã.
Mas, um comercial que tem passado com frequência na última semana e
que, juro, não entendi qual é o seu propósito, é de uma famosa
fabricante de perfumes. A história é a seguinte: o moleque está numa
balada malhando com a namorada, quando de repente chega um tio-sukita
metido a garotão — só falta a blusa sobre os ombros. O moleque, meio que
assutado, larga a moça e exclama: “Pai?”. O tio-sukita vira-se, pensa
por uns segundos e responde: “Eu lá tenho filho desse tamanho, eu
hein?”, e desaparece na balada. O menino volta ao malho.
A próxima cena, já no dia seguinte, mostra o filho dando de presente o
tal perfume ao pai e agradecendo-o por não ter se identificado como
sendo seu pai na balada. Juro que não entendi. Acho que tô careta
demais. Para mim, que sou pai de três filhos, é um ato insano. Primeiro,
que o tal pai-sukita deveria era buscar um ambiente para a idade dele e
não se meter na balada de adolescentes. Tudo bem é um pai moderno,
dirão os publicitários. O único problema do comercial é que ele mostra
só jovens na balada.
Ok, mas não entendi como ele estaria ajudando o filho negando ser seu
pai. Não seria muito mais moderno o pai se aproximar, dar um belo
abraço em seu filho e conhecer a namorada dele, ou ficante, ou sei lá o
que? Enfim, mostrar que são companheiros, como pais e filhos devem ser. E
mais, um ter orgulho do outro. Tudo bem, o moleque está com vergonha de
ver o pai na balada e isso é normal na adolescência. Então
papai-sukita, vá procurar sua turma e deixe o moleque em paz. O que um
pai não deve é ensinar o filho a mentir.
Para mim, esse comercial foi um tiro pela culatra. Prefiro aquela
zoada propaganda de um título de capitalização, feito, aparentemente,
com poucos recursos, ou então, aquele que me faz sonhar com o carro que
nunca vou ter, ou que me faça ficar emocionado lembrando os bons
momentos vividos com meu pai e, agora, com meus filhos. Sem o logotipo
de um banco no final.
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* Editor de Cidades
Fonte: Correio Popular on line, 11/08/2012
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