Moisés Naím*
Ambos concorrem com presidentes que são políticos hábeis; as semelhanças acabam aqui
Mitt Romney é o candidato de uma das máquinas políticas mais poderosas
do mundo, o Partido Republicano dos EUA. Henrique Capriles é o candidato
de uma amálgama rudimentar de grupos políticos venezuelanos.
Ambos concorrem com presidentes que são políticos hábeis e gozam de amplo apoio popular. As semelhanças entre eles acabam aqui.
Romney compete numa democracia madura em que o titular da Presidência
enfrenta limites rígidos ao uso que pode fazer dos recursos do Estado em
sua campanha.
Capriles, enfrenta Hugo Chávez, um dos chefes de Estado no poder há mais
tempo no mundo, que nunca se esquivou de tratar a riqueza do petróleo
como sua.
Capriles travou uma campanha sem erros que no próximo domingo fará
Chávez enfrentar o maior desafio que ele já encarou nas urnas.
Contrastando com isso, a campanha de Romney foi descrita por Peggy Noonan, colunista republicana, como "calamidade ambulante".
Logo, a pergunta é: existe algo que Mitt Romney, o experiente político,
possa aprender com um político de um país atrasado, dotado de uma
democracia profundamente falha? Sim, e não é pouca coisa.
Seja entusiasticamente inclusivo: procure aproximar-se de eleitores que,
de acordo com seus assessores, nunca o apoiarão. Capriles já teve
contato até mesmo com os partidários mais firmes de Chávez.
Romney, ao invés disso, disse que não tinha esperanças de atrair os 47%
dos eleitores cujo estilo de vida e situação econômica os aproximam de
Obama.

- Henrique Capriles -
Cuidado com a ideologia: não se paga o aluguel ou trata um filho doente
com ideologia. "O que aprendi como prefeito e governador é que as
pessoas querem soluções concretas para seus problemas concretos", diz
Capriles com frequência.
Já o discurso de Romney se alonga sobre princípios ideológicos e escamoteia os detalhes.
Não discuta sobre picuinhas: enquanto Chávez regularmente despeja uma
enxurrada de insultos horríveis contra seu rival, Capriles sempre tratou
o presidente com respeito. Capriles entendeu que, não obstante a
polarização, existe uma sede popular crescente por reconciliação e um
grande desejo de que os políticos parem de brigar.
Embora nos EUA a polarização não seja tão pronunciada quanto é na
Venezuela, pesquisas indicam que os americanos sentem que as altercações
dos políticos estão frustrando o progresso. Há benefícios políticos
importantes a serem auferidos satisfazendo a vontade dos eleitores por
mais harmonia.
A lição final: a despeito da campanha sem erros de Capriles, ele ainda
pode perder a eleição do domingo e, apesar da campanha cheia de falhas
de Romney, ele pode ganhar a eleição em novembro.
Obama pode revelar-se uma presa eleitoral vulnerável e, graças a seu
carisma, o petróleo e seu jogo sujo, Chávez pode revelar-se invencível
nas urnas.
Mas talvez a lição mais importante que Capriles acabe ensinando ao mundo
será vencer no domingo. Sua vitória mostrará que autocratas abusivos
podem ser derrotados.
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* Redator da revista americana Foreign Polcy, especializada em economia, política internaciona e globalização. PhD du MIT. Foi ministro da indústria e comércio na Venezuela em 1989 e diretor executivo do Banco Mundial.
Tradução de CLARA ALLAINFonte: Folha on line, 05/10/2012
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