Jorge Nascimento Rodrigues
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O Fundo
Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa as suas previsões para o
crescimento económico mundial em 2012 e 2013. A economia mundial deverá
crescer 3,3% este ano e 3,6% no próximo, contra as previsões anteriores
de 3,5% e 3,9% respetivamente.
Esta revisão em baixa acentua o declínio da taxa de
crescimento económico mundial desde a retoma de 2010 e 2011. A economia
mundial cresceu 5% em 2010, depois de uma recessão de 0,7% em 2009, e
3,9% em 2011. A desaceleração começou logo a verificar-se em 2011.
O crescimento mundial está no patamar dos 3% e há
uma probabilidade de 1 em 6, diz o FMI no seu "World Economic Outlook"
(WEO) divulgado em Tóquio, de ser inferior a 2%, o que implicaria, em
particular, uma recessão nos países desenvolvidos (ao contrário das
previsões atuais ainda apontam para um crescimento de 1,3% em 2012 e
1,5% em 2013). Ainda que longe de um mível de recessão como em 2009
(quebra de 0,7% do PIB mundial), o abaixamento futuro do crescimento
para o patamar dos 2% traria imensos riscos. Alguns analistas falam do
risco de derrapagem para uma depressão.
Por isso, o WEO do FMI afirma que são muito altos -
"alarmantes" - os riscos de uma desaceleração global. A que se associa
uma "confiança frágil no sistema financeiro". Palavras fortes do FMI
que, tal como o Banco Mundial, está reunido em Tóquio.
As razões do temor de uma tal desaceleração
prendem-se a dois elementos centrais de "incerteza" - o andamento da
crise das dívidas soberanas da zona euro e o problema do "penhasco
orçamental" (fiscal cliff) nos Estados Unidos. O FMI considera
esses dois aspetos da atual realidade nos países desenvolvidos como
"componentes que perduram". E que dependem de soluções políticas, umas
no quadro da zona euro (onde a Alemanha é peça central) e outras no seio
do Congresso dos Estados Unidos, que dependerão inclusive dos
resultados das eleições presidenciais norte-americanas de 6 de novembro.
Para a Zona Euro, o FMI prevê uma recessão de 0,4% em
2012 e quebras muito acentuadas em grandes economias da região como
Itália (quebra de 2,3%) e Espanha (quebra de 1,5%). Em 2013 poderá haver
um crescimento de 2% no conjunto da zona monetária única.
Dessa "incerteza" dependerá em 2013 se as previsões
do FMI são "pessimistas" (e a retoma será robusta) ou "otimistas" (e a
desaceleração será muito maior). Se Bruxelas, Berlim e Washington nâo
"agirem proativamente", como reclama o WEO, as previsões do FMI poderão
revelar-se "otimistas" para 2013.
O relatório do FMI considera que o crescimento que
se tem verificado à escala mundial deriva em grande parte das políticas
monetárias dos bancos centrais que têm sido "acomodativas" procurando
manter juros de referência baixos e lançando programas não convencionais
que, em alguns casos, têm sido designados por "alívio quantitativo" (quantitative easing).
Em contracorrente a essas políticas monetárias, a
economia mundial tem sido afetada negativamente por três variáveis: a
simultaneidade de politicas de ajustamento orçamental (austeridade) que
têm tido inclusive um efeito recessivo ainda maior do que se pensava (o
FMI mudou o seu cálculo sobre o efeito multiplicador da austeridade); o
mau funcionamento do sistema financeiro e a sua relação com o
financiamento da economia real; e os desequilíbrios globais que
permanecem entre países excedentários (nomeadamente a Alemanha e a
China) e países deficitários.
Recomendações do FMI
O FMI faz recomendações explícitas sobre a crise da zona euro e sobre a questão dos desequilíbrios globais.
Em relação à zona euro, o FMI aponta: necessidade
de transferências; diminuição da probabilidade de bancarrota soberana em
países membros; onde a bancarrota ocorrer, diminuir os efeitos junto
dos credores e do sistema financeiro; resolver os desequilíbrios dentro
da zona euro entre excedentários e deficitários; adoção de objetivos
ajustados e não em torno de metas nominais; união bancária; maior
flexibilidade do novo Mecanismo Europeu de Estabilidade (que entrou em
vigor ontem, por decisão da reunião do Eurogrupo).
Quanto aos desequilíbrios globais, o FMI considera
que os países excendentários deverão tomar a dianteira com políticas
estruturais: incentivar o investimento na Alemanha (um dos calcanhares
de Aquiles apontado recentemente pelo historiador económico Adam Tooze que o "Expresso" entrevistou
); reformar a rede de segurança social da China e encorajar o consumo
interno na segunda maior economia do mundo; reduzir a acumulação de
reservas oficiais nas economias emergentes.
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