quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Matthias Holwich, arquiteto: "A beleza da vida é ficar mais velho"


"Subir um lance de escadas pode aumentar sua expectativa de vida em 6 minutos", diz o arquiteto Matthias Hollwich Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
 "Subir um lance de escadas pode aumentar sua expectativa de vida em 6 minutos", 
diz o arquiteto Matthias Hollwich - 

Fernando Lemos / Agência O Globo
Criador da plataforma digital de arquitetura Architizer, alemão veio ao Rio como palestrante de um fórum sobre longevidade
 
“Nasci em Munique, vivo em Nova York e tenho 46 anos. Portanto, ultrapassei 50% da minha expectativa de vida e já seria considerado uma pessoa velha. Entre as pessoas com quem cresci estava a minha avó, que me deixou muito curioso a respeito da vida. Essa experiência me acompanha até hoje.”

Conte algo que não sei.
Subir um lance de escadas pode aumentar sua expectativa de vida em seis minutos. Se alguém sobe dez andares para chegar em casa, ganha uma hora a mais por aqui. Exercícios diários como esse podem contribuir para um envelhecimento saudável.

No que as pessoas erram em termos de envelhecimento?
Hoje, o maior problema é que a sociedade tem medo de envelhecer, quando a beleza da vida é ficar mais velho, porque corresponde a uma transição natural. Ao se conformar com o envelhecimento, passa-se a olhar o futuro com menos medo e a tomar melhores decisões. A sociedade precisa mudar o modo como enxerga a si mesma e abraçar esta jornada comum a todos.

Como a arquitetura pode ajudar a corrigir esse erro?
Passamos 95% do tempo envolvidos com arquitetura. Só precisamos ter certeza de que ela dê suporte aos nossos desafios e oportunidades. As superfícies de uma cidade, por exemplo, devem ser seguras e não exigir muito esforço, para se adaptar às necessidades de pessoas idosas e garantir que as conexões sociais continuem como antes. Não podemos esquecer que, ao envelhecer, nossos desejos se mantêm os mesmos da juventude. Lugares e construções têm de ser pensados pela ótica dos mais velhos, para criar um ambiente que não os exclua.

Como aliar tecnologia à dificuldade das pessoas mais velhas de interagir com mecanismos modernos?
A tecnologia está passando por uma incrível transição. Passamos pelos notebooks, estamos nos celulares e teremos ainda a geração do controle de voz. Esse último recurso ainda é muito controlado por telas, que podem ser difíceis de ler e tocar, mas o plano é fazer tudo se desenvolver pelo ar. Um sistema de voz pode estar vinculado a um alerta de emergência, de maneira que, em determinadas situações, um simples comando possa acionar ajuda. Ou seja, a integração da tecnologia quase transforma a arquitetura em outra pessoa, pronta para dar suporte a qualquer momento. A tendência é que, no futuro, os idosos sejam mais independentes do que são hoje.

Projetos que seguem diretrizes específicas, como os sustentáveis e humanizados, podem ficar baratos?
Há muitas questões em relação a isso. Primeiramente, a tecnologia está cada vez mais acessível. Outro ponto é que os governos gastam muito dinheiro administrando asilos e casas de cuidado. O custo de manutenção de ambientes integrados, dentro de casa, é bem menor. Com isso, as gestões deveriam investir mais em ferramentas que tornem os idosos pessoas mais independentes. Mas não dá apenas para ficar aguardando uma atitude pública. Podemos reconfigurar nossos lares para conviver com amigos e reduzir o custo de vida.

Como essas propostas podem ajudar a desbancar o senso comum brasileiro de que pessoas idosas são desimportantes para o funcionamento da sociedade?
Precisamos ser inclusivos e transparentes com as pessoas mais velhas. Ao deixá-las de lado, os mais jovens perdem a oportunidade de criar uma conexão emocional e de perceber como elas se sentem. Devemos exigir seus direitos, porque essa luta não é apenas dos idosos. Todos ficaremos velhos e ocuparemos essa posição no futuro

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