quarta-feira, 11 de maio de 2022

O custo da cobertura midiática para a integração latino-americana

 Beatriz Bidarra e Johidson Ferraz

 (Créditos: Unsplash)

Em 24 de fevereiro de 2022 acordamos com a sensação de estar no século passado. Em tempos em que outros tipos de guerras – como a híbrida – são mais comuns, nos deparamos com imagens de investidas militares convencionais: tanques nas ruas, caças, bombas, mísseis, mortes e falta de diálogo. Ocorre que isso acontece em um período em que a disputa de narrativas define os cenários. Se um conflito internacional dessa envergadura desequilibra as balanças de poder, há de se pensar que as mudanças também ocorrem em âmbito local e regional, e muito provavelmente o tabuleiro das relações latino-americanas também continuará se mexendo. Nesse cenário de guerra, há elementos estratégicos em jogo, como fertilizantes, gás e trigo. Mas não só. É necessário refletir sobre o papel da comunicação – o que se difunde, veicula e quais decisões são tomadas a partir disso –, uma vez que não haverá desenvolvimento e integração regional da América Latina sem trazer a comunicação para o centro do debate. A comunicação, além de ser tema transversal a todas as áreas, tem relação total e intrínseca com nossa autonomia enquanto nações e regiões, integradas ou não.

Revisitamos aqui, em primeiro, o conceito de autonomia para, em seguida, verificar como ele nos ajuda a observar a primeira semana de cobertura jornalística do conflito Rússia × Ucrânia em três meios brasileiros e um argentino – O Globo, Folha de S.Paulo, BBC Brasil e Clarín, utilizando os preceitos de agendamento e enquadramento multimodal das notícias.

Do ponto de vista político, o conceito de autonomia nas Relações Internacionais remonta, precipuamente, aos escritos de Hélio Jaguaribe, no Brasil, e Juan Carlos Puig, na Argentina. Os dois pensadores, individualmente, cunharam aportes teóricos inéditos à época, da década de 1960 à de 1980 sobretudo, com precisão estratégica na visão regional dos desafios para a inserção internacional dos países latino-americanos, de maneira ampliada, ou da América do Sul, de modo específico.

Cunhado no debate pós-dependentista cepalino, o conceito de autonomia foi importante para localizarmos o Brasil e a região em um mundo totalmente hierarquizado, diferentemente do que o Direito Internacional e algumas teorias das Relações Internacionais estabelecem acerca da anarquia do sistema internacional. Esse ponto, vale salientar, talvez gere desconforto aos mais críticos à real contribuição da Escola da Autonomia, ou mesmo àqueles que estabelecem níveis de anacronismo a ela por, segundo eles, estar circunscrita a uma época em que o mundo ainda se organizava geopoliticamente sob a ótica da bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética – ou basicamente sob as tensões entre Washington e seus aliados “ocidentais” e de Moscou com seus aliados “vermelhos”.

Com solidez teórica, Jaguaribe e Puig, de modo separado, escreveram concepções de autonomia que são congruentes e proporcionaram variáveis explicativas que inter-relacionam as capacidades domésticas com fatores externos como formas de projeção e inserção internacional dos países latino-americanos frente às potências e superpotências mundiais. Essas proposições instituíram um entendimento próprio da região no que tange o funcionamento e a organização do sistema internacional, de modo geral, e de análise de política externa, em particular.

A concepção de autonomia concebida por Jaguaribe[1] parte principalmente das limitações consideradas por ele da Escola da Dependência. Para o autor, não bastaria apenas a identificação dos problemas estruturais dos países da América Latina, pois uma vez descartadas as “alternativas” da “dependência” e da “revolução”, a região só poderia avançar com traços estratégicos que envolvessem a construção de mecanismos de autonomia. No mesmo sentido, para Puig,[2] a autonomia era definida como a “máxima capacidade de decisão própria que se pode ter, levando em conta os condicionantes do mundo real”. Assim, para os autores, a grosso modo, as fontes propiciadoras do avanço na hierarquia do sistema internacional passariam necessariamente pela construção de bases e mecanismos autonômicos provenientes da inter-relação de condicionantes domésticas e externas.

As condicionantes domésticas têm relação com a viabilidade nacional – a disponibilidade de recursos humanos e naturais, o nível de tecnologia e de coesão dos diferentes grupos sociais a partir de uma identidade integradora –, enquanto as externas têm relação com o que Jaguaribe[3] chamou de permissibilidade internacional, a qual se dava a partir de momentos de mutabilidade do cenário internacional de um lado e, de outro, das capacidades e condições que determinado país teria, a partir das suas relações internacionais e situação geopolítica, para exercer formas eficazes de prevalecer suas estratégias e objetivos. Cientes da área de influência imperialista que os países sul-americanos estavam inseridos, os autores delimitaram que deveriam ser empreendidas estratégias autonomizantes provenientes dos níveis domésticos/internos e/ou regionalizados (especificamente para Puig) para inserção internacional autônoma na seara internacional. Desse modo, seriam impulsionadas estratégias autonomizantes em todas as esferas da vida social, política, econômica e cultural da região, o que se inclui a comunicação.

Narrativas dominantes

Esse breve panorama teórico nada tem de obsoleto e anacrônico quando analisamos o momento histórico em que vivemos, especialmente a partir de 24 de fevereiro, quando se intensificou o conflito entre Rússia e Ucrânia. Escolhemos aqui evidenciar a construção de narrativas e dos elementos da comunicação como influenciadores na construção de identidades e de percepções políticas, muitas vezes distantes do locus da realidade social que nossa região está inserida contemporaneamente, ou mesmo de seus objetivos e interesses. A rápida análise proposta, respaldada em preceitos de agendamento e enquadramento multimodal das notícias, fixa o olhar em uma amostragem de textos informativos de O Globo, Folha de S.Paulo, BBC Brasil e Clarín no período de 24 de fevereiro a 3 de março. Editoriais, colunas e demais publicações de caráter opinativo não foram objeto de análise.

Vale salientar, contudo, que este texto se esquiva de analisar as motivações, estratégias, responsabilidades e consequências locais da guerra ou fazer qualquer análise de conjuntura. Uma guerra não tem vilões, mocinhos, salvadores ou quaisquer outros personagens uníssonos quanto às percepções de uma determinada visão. Obviamente, os custos humanos e ambientais, de toda ordem, são altíssimos em um conflito armado, mas nosso intuito aqui é observar para que, e para quem, servem as narrativas veiculadas através da imprensa brasileira e argentina sobre essa guerra, entendendo como elas demonstram, enquanto influenciadoras de identidades, a distância de ideias autonomizantes do ponto de vista político e social do nosso país e região.

Fazendo um panorama rápido dos resultados e/ou influências à nossa região da guerra Rússia/Ucrânia sob a perspectiva da Escola da Autonomia, temos no cerne do conflito, seja intencional ou resultado factual, a tentativa de acelerar a reorganização do sistema internacional sob um novo prisma. Os indícios de perda de influência unilateral mundial dos Estados Unidos e a ascensão chinesa percebidas efetivamente nos últimos 25 anos dão azo para toda essa reconfiguração que põe o “império americano” sob forte tensão. Como na Guerra Fria, as áreas de influência necessitam dar respaldo, ao menos discursivo, às ações da superpotência. É desse rastro que, de um lado, evidencia-se o afastamento de qualquer ideal ou perspectiva minimamente autonomizante dos e nos Estados sul-americanos – ideia retroalimentada pela falta deles do lado institucional – e, de outro lado, demonstra os interesses e alinhamentos de conglomerados midiáticos na preservação do status quo, através, por exemplo, do tipo de cobertura jornalística desse conflito.

As coberturas nos primeiros dias do conflito evidenciaram a construção de um inimigo comum, o da superpotência, que deve ser combatido por todos que estão ou deveriam estar sob seu signo. Poucas são as matérias que fazem paralelo com algum fator que influencie em nossa realidade latino-americana, seja ele econômico ou cultural. Mais raros ainda são textos que trazem uma visão analítica da guerra, com elementos históricos que situem o leitor. Há certa predominância de uso de fontes ligadas à ONU e a atores políticos dos Estados Unidos. Com relação à temática das matérias, é recorrente a veiculação a respeito de aumento da ofensiva Russa, o drama de famílias ucranianas e, ainda, reportagens que tratam sobre a visão que a Rússia quer transmitir aos seus conterrâneos sobre o conflito e o bloqueio das redes sociais no país.

Memorando o cenário internacional anterior ao início do conflito propriamente dito, é interessante perceber que em 4 de fevereiro, ante o convite da abertura das Olimpíadas de Inverno em Pequim, os presidentes Xi Jinping e Vladmir Putin se reuniram e emitiram um documento chamado “Declaração Conjunta da Federação Russa e República Popular da China sobre as Relações Internacionais entrarem em uma nova era e do Desenvolvimento Global Sustentável”, no qual estabeleceram novos olhares políticos para a ordem mundial que se inicia. Porém, meios brasileiros dos grandes conglomerados não noticiaram tal ação. Ficou a cargo de artigos de opinião a existência desse documento.

No Brasil, de forma muito semelhante à Argentina, quem domina ainda a narrativa e a influência da opinião pública são os grandes conglomerados midiáticos, embora agora, com um cenário comunicacional mais difuso, eles disputem a atenção com as redes sociais, com produtores de conteúdo e inclusive com fake news e notícias enganosas. De qualquer modo, é nitidamente maior o espaço dado a esse conflito se comparado a outros que têm ocorrido em nível internacional, como Palestina e Israel, Afeganistão, Síria ou guerras na África.

Enquadramentos

Em breve análise em O Globo, Folha de S.Paulo, BBC Brasil e Clarín, percebe-se que na maior parte da cobertura o enfoque é na ofensiva Russa sobre a Ucrânia, mas não necessariamente pontuando razões ou circunstâncias que levaram ao conflito, nem trazendo para o debate fontes analíticas, que façam correlação a respeito do que isso influenciaria de fato em nossa realidade, em termos econômicos, como exportação e importação, matéria-prima para a indústria e diversos outros fatores que afetam mais diretamente a América Latina.

Em O Globo, no dia 2 de março, na matéria “Rússia adapta tática, aumenta poder de fogo e concentra ataque em quatro frentes na Ucrânia”, fontes como “Segundo a maioria dos analistas militares” são utilizadas sem muito rigor ao não especificar para o leitor que tipo de fonte exatamente se trata e sob qual perspectiva ela está falando. No Clarín, em 28 de fevereiro, a matéria “Guerra Rusia-Ucrania: Europa denunció que la invasión rusa se torna cada vez más brutal”, que reproduz conteúdo de agência internacional de notícia, utiliza expressões que enfatizam a violência sobre os corpos como elemento de destaque, tais como “Cadáveres destrozados en las calles!”. Cumpre ressaltar que essa matéria se utiliza de apenas uma fonte, que é o chefe da diplomacia da União Europeia.

Outra matéria veiculada no Clarín, também de agências internacionais de notícia, no dia 27 de fevereiro, intitulada “Estallan protestas en Rusia contra la invasión de Ucrania: más de 5.000 arrestados”, usa de fonte a OVD-info, uma organização especializada no seguimento de prisões e defesa de detentos, e também a Levada, ONG russa que realiza pesquisas de opinião. Ao longo do texto, são trazidas algumas percepções dos cidadãos russos a respeito da guerra. No conteúdo jornalístico, observar as fontes utilizadas na construção da reportagem é, sobretudo, olhar para o lugar de onde se fala. As fontes, sejam elas oficiais ou especializadas, vão dar a tônica do conteúdo produzido e veiculado.

Um pouco mais próxima da realidade latino-americana, ao menos no campo econômico, uma matéria da Folha de S.Paulo, de 24 de fevereiro, intitulada “Guerra na Ucrânia vai deixar pão mais caro no Brasil”, tenta corroborar a visão de que os preços dos produtos internamente vão se elevar, considerando que Rússia e Ucrânia são dois grandes produtores mundiais de trigo – sendo a Rússia o 4° maior produtor do mundo e a Ucrânia o 7° –, ainda que a reportagem afirme que as maiores importações do produto pelo Brasil advêm da Argentina. Para justificar o aumento do custo no Brasil, alegando que haverá elevação também na Argentina, a reportagem utiliza como fonte um pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Contudo, apesar da busca por vozes especializadas, o texto não vai além, ao tratar de outros impactos possíveis em nossa cadeia produtiva.

A respeito dos impactos da guerra sobre a realidade brasileira, também da perspectiva econômica, uma matéria da Folha de S.Paulo, intitulada “Como a guerra na Ucrânia afeta empresas com ações na Bolsa brasileira”, dava conta de analisar brevemente produtos que importamos e exportamos e deveriam ser encarecidos em razão das dificuldades impostas pelo conflito. Contudo, além de o texto focar no impacto que as empresas brasileiras enfrentam e não no que o país como um todo passa, não há análise, nem mesmo superficial, sobre nosso cenário de dependência externa ou necessidade de incremento da industrialização no país. Até mesmo nossa indústria cultural, por meio das novelas exportadas, foi tema de reportagem sobre os efeitos da guerra. A matéria da Folha de S.Paulo intitulada “Globo boicota Rússia e deixa de exportar novelas por causa da guerra na Ucrânia” relata que o conglomerado de comunicação Grupo Globo fornece novelas para o país desde 1976, quando Escrava Isaura se tornou produto de exportação para todo mundo, mas que esse fluxo foi interrompido agora.

Embora nossa breve análise do conteúdo jornalístico tenha considerado mais especificamente os dias entre 24 de fevereiro e 3 de março, pode-se observar que, posteriormente a isso, algumas questões como a dependência do Brasil de fertilizantes russos e a preocupação com o setor econômico do país entraram na agenda midiática, a exemplo de matéria veiculada na Folha de S.Paulo em 7 de março, intitulada “Crise de fertilizantes com guerra na Ucrânia faz governo antecipar plano nacional para o setor”.

A pergunta que propomos que todos façamos é: qual o custo da atual cobertura midiática do conflito Rússia × Ucrânia para a integração da América Latina? Para refletir sobre isso, é preciso rememorar que a influência do capital externo possibilitou avanços tecnológicos de setores estratégicos do Brasil, tal como o energético e o da comunicação. Esse capital estava, sobretudo, em países hegemônicos, com realidades e interesses muito distintos dos nossos. Para esses países, tal como preconizado por Puig e Jaguaribe, continuamos servindo como se colônia fôssemos, incluindo o campo comunicacional, ou seja, para além do campo estritamente da política internacional. A busca pela autonomia dos países da nossa região a partir de condicionantes internas, como a industrialização, os avanços tecnológicos em setores estratégicos, como o energético, ou mesmo a busca por formação da coesão regional por meio de resinificação ou formatação de identidades a partir da comunicação nos foi, em grande parte do tempo, relegada.

 

Nosso contexto comunicacional, redes sociais e fake news

Na discussão sobre o aprofundamento de nossa crise, enquanto país e América Latina, cabe pensar sobre o nosso “não lugar”. A despeito das alianças do passado terem se convertido em recursos financeiros para o progresso tecnológico comunicacional, não nos cabe seguir o padrão e não refletir no impacto da informação que se vende e da opinião pública que se forma sobre realidades que nos são muito distantes e distintas. No contexto geopolítico, a correlação de forças e os movimentos feitos pelas nações ditam os rumos no âmbito político, econômico ou cultural. A comunicação e as mídias inserem na agenda pública assuntos de interesses específicos e os resinificam à sociedade, fazendo-a tomar o discurso midiático como relevante e assumir a posição a qual os meios se prestam. Portanto, nem na área das Relações Internacionais, nem em qualquer outra que pense em integração regional, pode ser desconsiderado o papel estratégico da comunicação.

O Brasil, tal qual outros casos emblemáticos da América Latina, possui sua comunicação de massa ainda muito calcada na concentração, nos grandes conglomerados multimidiáticos, que agora se redesenham um pouco, caminhando para o streaming, mas a propriedade dos meios e o centro de poder continuam os mesmos desde o início da televisão, nos anos 1950 e 1960. Pouco ou nada se fala em equilíbrio e democratização dos meios. A Argentina, contudo, conseguiu colocar o tema em pauta com legislação específica para o setor, a fim de garantir maior pluralidade nos meios de comunicação. A Lei 26.552/2009, ou “Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual”, foi um passo importante no quesito da pluralidade de vozes e autonomia comunicacional. E não se traduziu, na prática, em restrição ou censura à atuação dos veículos de imprensa. O que é necessário observar é que a discussão sobre o tema na Argentina, por si só, já foi um avanço. O Brasil, por sua vez, não dá um passo nesse sentido. Giuliano Da Empoli, em Engenheiros do Caos (2019), ao trazer a importância do uso de dados como reconfiguração do cenário político, comunicacional, sobretudo em eleições, destaca que a democracia trata de um “sistema que permite aos membros de uma comunidade exercer o controle do próprio destino”.

Outro elemento novo, e não menos importante, do conflito atual é o fato de essa ser a primeira guerra transmitida, de fato, pelas redes sociais. Em 2016, na Primavera Árabe, as redes sociais tiveram papel relevante na coordenação do movimento. Atualmente, o uso das mídias sociais se intensificou e ficou ainda mais complexo, tanto pelas já conhecidas fake news, quanto pelas notícias enganosas – que, tentando dar mais veracidade ao conteúdo, usam parte da história com fatos verídicos e o restante com elementos inventados. Um fator igualmente relevante são as deep fake news, que se utilizam da inteligência artificial para manipular rostos, voz e produzir um conteúdo muito similar ao real, o que em hipótese alguma tem relação com jornalismo sério e comprometido com princípios éticos. De qualquer modo, é inegável que esse tema deve ser observado com cautela, na medida em que faz parte do contexto comunicacional.

A matéria da BBC no dia 2 de março, intitulada “Invasão da Ucrânia: as notícias falsas sobre a guerra que continuam a viralizar”, analisa algumas publicações que saíram em vários locais sobre o conflito e sugere que sites pró-Rússia divulgaram informação falsa ao dizerem que algumas imagens eram de atores e não de pessoas reais. Outro texto publicado no mesmo dia, também pela BBC, intitulado “Condenação da Rússia na ONU é símbolo da falta de aliados de Putin no mundo, dizem analistas”, utiliza-se de fontes especializadas, como professores de Relações Internacionais de universidades brasileiras, para trazer uma visão mais analítica da guerra. Ao mesmo tempo, usa expressões reforçando o isolamento russo, tal como “Ao votar amplamente pela condenação da Rússia por sua invasão na Ucrânia, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) simbolizou o tamanho do isolamento de Vladimir Putin no mundo, do qual a pilha de sanções aplicadas pela Europa, Estados Unidos e Japão nos últimos sete dias já era forte indicativo”.

Outra matéria da BBC, do dia 26 de fevereiro, intitulada “Guerra na Ucrânia: Rússia bloqueia acesso a Twitter e ameaça Facebook”, usa como fonte uma ONG de segurança cibernética e, ao citar a questão da restrição do uso das mídias no país e o posicionamento da plataforma, utiliza como fonte um senador norte-americano para corroborar a visão de que as empresas de mídia social estão corretas nos filtros que fazem dos conteúdos. Ao sustentar que isso vem de fato ocorrendo no país, o texto apenas cita que “usuários corroboram isso”, sem trazer relatos dos mesmos. É evidente e compreensível que em um cenário de cobertura de guerra não se pode cobrar uma cobertura muito mais complexa do que a que já tem sido feita, dadas as condições de se notificar um conflito armado, mas justamente por se tratar de um conflito devemos manter maior atenção.

Por fim, as observações apontadas a partir dessa breve análise dão conta de identificar a carência de dados, abordagens e pautas para além da defesa discursiva de um lado da guerra, que está mais preocupado com as implicações geopolíticas desse conflito. Todavia, revela-se também que as coberturas feitas do referido conflito pelos conglomerados midiáticos, ao focar na defesa de um “Ocidente”, que nada tem de categoria geográfica, distanciam-se de enfoques que poderiam ser relevantes para a realidade latino-americana e impedem que o público possa ser levado a refletir sobre outra perspectiva que não somente a da crueldade de uma ofensiva militar.

 

Beatriz Bidarra é jornalista, mestre em Integração Contemporânea da América Latina pelo PPG ICAL/ Unila e assessora de imprensa da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu. Johidson Ferraz é internacionalista, assessor parlamentar e doutorando em Práticas Políticas e Relações Internacionais no Prolam/ USP. Ambos são membros do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (Neegi), da Unila.

Desafios da integração | América Latina
6 de maio de 2022

Referências

[1] JAGUARIBE, H. Desarrollo económico y político. México: Fondo de Cultura Económica, 1973.

[2] PUIG, J. C. Doctrinas Internacionales y Autonomía Latinoamericana. Instituto de Altos Estudios de América Latina. Caracas: Universidad Simón Bolívar, 1980.

[3] JAGUARIBE, H. Autonomía periférica y hegemonía céntrica. Revista Estudios Internacionales, n. 49 Santiago de Chile, Instituto de Estudios Internacionales, Abr-Jun. 1979.

Fonte:  https://diplomatique.org.br/o-custo-da-cobertura-midiatica-para-a-integracao-latino-americana/

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