quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Fragilidade do papa Francisco demanda reflexão sobre seu eventual sucessor

José Manuel Diogo*

 O papa Francisco durante audiência semanal no salão Paulo 6º, no Vaticano - Remo Casilli - 29.nov.23/Reuters

Melhor candidato será aquele que souber manter essência da mensagem cristã em mundo cada vez mais tecnológico

É visível a fragilidade do papa Francisco. A impossibilidade de ele participar da COP28 —um marco no diálogo sobre o clima, uma de suas bandeiras— evidencia a proximidade do fim de seu papado e demanda uma reflexão sobre o perfil e as causas que definirão seu sucessor.

Este momento de anunciada transição na Igreja Católica, coincidente com a maior revolução tecnológica da história, suscita um olhar atento às dinâmicas que moldarão a escolha do próximo líder espiritual de mais de um bilhão de católicos.

O país de origem do futuro papa será um indicativo significativo do novo caminho da igreja. A eleição de Francisco, o primeiro papa do hemisfério sul, abriu portas para uma diversificação maior, refletindo a crescente relevância de regiões como a África e a Ásia, hoje amplamente representadas entre os cardeais eleitores. Contudo, não se pode descartar um retorno às raízes europeias, dada a história e a tradição.

A idade e a saúde serão também fatores cruciais, possivelmente inclinando a balança para um candidato mais jovem, capaz de enfrentar os desafios de um pontificado longo e ativo. Isto é particularmente pertinente, considerando os precedentes de renúncia por razões de saúde, um fenômeno quase inédito antes de Bento 16.

As causas que definirão o próximo papado estarão intrinsecamente ligadas às questões globais prementes. A crise climática, central na agenda de Francisco, dificilmente será relegada, considerando sua urgência e sua relevância global.

A justiça social, pedra angular da doutrina católica, continuará a ser um foco, possivelmente com ênfase renovada na luta contra a pobreza e a desigualdade. O diálogo inter-religioso, crucial em um mundo cada vez mais globalizado e plural, permanecerá como uma área-chave, especialmente em tempos de crescente polarização e conflitos religiosos.

A resposta aos escândalos de abuso sexual e as demandas por reformas estruturais internas, como a ordenação de mulheres e a revisão do celibato clerical, serão temas inevitáveis, mas sempre potencialmente divisivos.

Mas será a relação entre fé e tecnologia, particularmente no que tange à ética em campos emergentes como a inteligência artificial e a biotecnologia, que se tornará um território novo e desafiador para o próximo papa.

A escolha, importante como nunca, pede um balanço entre a tradição secular da igreja e as demandas de um mundo em revolução.

O melhor candidato será aquele que souber manter a essência da mensagem cristã em um mundo cada vez mais moldado pela tecnologia. Aquele que melhor interpretar o desafio de compreender como a fé e a ética se entrelaçam com algoritmos e automação. Aquele que melhor souber aproximar Deus dos homens e proteger o mundo dos perigos da inteligência artificial.

 *Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos. 

Fonte:  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/jose-manuel-diogo/2023/11/fragilidade-do-papa-francisco-demanda-reflexao-sobre-seu-eventual-sucessor.shtml?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=newscolunista

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