Por Álvaro Campos, Valor — São Paulo
O professor emérito de psicologia e relações públicas em Princeton e vencedor do prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman — Foto: Reprodução/TED Talks
Daniel Kahneman, professor emérito de psicologia e relações públicas em Princeton e vencedor do prêmio Nobel de economia, fez uma previsão sombria sobre o futuro da inteligência artificial (IA). “O futuro é preocupante e não vamos ter como competir com IA”, comentou em painel de encerramento do Febraban Tech.
Kahneman é especialista em economia comportamental e estuda, há décadas, o comportamento humano. Ele criou dois conceitos, que levam à conclusão de que o ser humano não deve confiar em sua intuição. O primeiro deles é o viés cognitivo, ou seja, padrões mentais sistemáticos que ocorrem em situações particulares e se desviam do julgamento racional. O segundo é o ruído, quando ocorre um uma falha, uma variabilidade de julgamentos que deveriam ser idênticos.
“Nós tendemos a ter muita confiança nas nossas intuições, e muitos especialistas, líderes, CEOs, governantes, tomam suas decisões com base na intuição. Mas a IA e mesmo outras tecnologias mais simples são superiores ao raciocínio humano”, comentou.
Ele apontou que as máquinas superam o ser humano no xadrez e em breve darão diagnósticos muito melhor que os médicos. O mesmo deve acontecer também com os carros autônomos. “Nós aprendemos apenas com nossas próprias experiências, enquanto a IA pode aprender com os registros de milhares, milhões de automóveis”.
Kahneman aponta que a intuição humana só é válida se houver três fatores: regularidade de dados, ou seja, um padrão que se repete ao longo do tempo; muita experiência da pessoa no assunto; e feedbacks rápidos, para poder se comparar o que aconteceu com o que se previa. Na maioria dos casos, no entanto, isso não ocorre.
O professor estudou a atuação de seguradoras ao subscreve riscos e as decisões de juízes criminais nos EUA e encontrou uma variância muitíssimo maior do que se supunha. “Quando existem regras bem definidas, não há ruídos. O que torna a opinião humana tão imprecisa é justamente ter tanto ruído.”
Questionado sobre o que prevê para o desenvolvimento da IA, o prêmio Nobel disse que nem ele — e nem os maiores especialistas (que confiam em suas intuições) — tem a menor noção.
“Eu não tenho a menor ideia se humanos e IA vão cooperar no futuro. É tão complicado e está acontecendo com tamanha rapidez, que é impossível prever. Só sabemos que algo vai acontecer, e muito rapidamente.”
Kahneman também desenvolveu o conceito de auditoria de viés, que seria uma forma de tentar tirar imprecisões e melhorar o julgamento do ser humano. Ainda assim, é pessimista. “A resposta é ter uma padronização, criar processos. Isso é como lavar as mãos, eu não sei exatamente quais germes estão lá, mas o sabão mata. A padronização elimina vieses. Mas há anos eu sou muito pessimista sobre a possibilidade dos indivíduos melhorarem seu modo de pensar.”
Segundo ele, ainda, se individualmente as pessoas não conseguem melhorar sua capacidade de pensar, as organizações sim.
“As organizações pensam lentamente, tem procedimentos. Se elas desenvolvem procedimentos, superam tendências, vieses, reduzem ruídos, e isso é a única coisa que podem fazer. Nos preocupamos muito sobre o amanhã, mas não vamos ter como competir com a IA.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário