quinta-feira, 1 de março de 2012

''Resiliência'': uma palavra no poder

Stefano Bartezzaghi*
A resiliência é uma resistência mais específica,
mais aculturada: uma resistência
 com mestrado.

Mesmo que você não saiba o que significa "resiliente", espere sê-lo. Adquira resiliência. Sempre pode lhe servir, ou, melhor, vai lhe servir, sem dúvida. Pegue um dicionário. Quanto mais recente for o dicionário, mais extenso será o verbete "resiliência". Os dicionários de alguns anos atrás se limitavam à acepção técnica: a capacidade de um material de resistir a deformações e choques sem se romper. Mas, dado que a palavra está se tornando de moda em diversos campos, acrescentam-se acepções sobre acepções.
Há a resiliência têxtil, a capacidade dos tecidos de retomar a sua forma original, no iron, nem ironias. Há a resiliência psicológica, a capacidade de absorver traumas e de enfrentar adversidades. Há a resiliência ecológica, que se refere às espécies e ao seu modo de enfrentar as catástrofes ambientais. Há a resiliência informática, a geriátrica e até uma resiliência que concerne à produção de dentaduras. Mas tudo o que tem a ver com esse conceito, aparentemente tão técnico e na moda, parece ser, no fundo, no fundo, melancólico e velho.
Talvez, seja preciso desconfiar de termos abstratos que não tem um verbo por trás: a resistência é a ação de quem resiste, a residência é a condição de quem reside, mas e a resiliência? Quem de vocês simplesmente já começou a resiliar? Julgando a partir do fim das liberalizações, os lobbies têm uma grande resiliência: depois de cada golpe (decreto ou listagens) voltam ao seu estado original com grande velocidade.
Além disso, pode ser que o resiliente tenha no seu nome ecos do rei exilado, coisas de Shakespeare e do Rei Lear, mas o fato é que ele parece ser como um dote um pouco defensivo demais, em termos futebolísticos, um pouco "retranqueiro" demais.
É verdade que a resiliência é uma resistência mais específica, mais aculturada: uma resistência com mestrado. Mas não faça a piada "Agora e sempre, resiliência". Ela definitivamente incendiou um congresso em Bolonha, convocado justamente com esse título alguns dias. Desta vez, quem deveria ser resiliente é a escola pública. Esperamos que ao menos faça alguns gols no contra-ataque.
--------------------------------------------------
*Jornalista e escritor italiano Stefano Bartezzaghi, professor de Semiótica do Enigma da Libera Università di Lingue e Comunicazione de Milão (IULM),
em artigo publicado no jornal La Repubblica, 29-02-2012.
A tradução é de Moisés Sbardelotto
Fonte: IHU on line, 01/03/2012
Imagem da Internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário