segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Alemanha Oriental:o lugar mais sem Deus na Terra

Germany Celebrates 20 Years Fall Of The Berlin Wall 

Mulher vestida como um anjo em um telhado no 20º aniversário da queda do Muro de Berlim (Reprodução/Internet)

Ateísmo alemão pode ser visto como uma forma de identificação política e regional - e um caminho para o futuro

Um estudo recente sobre a crença em Deus através dos tempos em diversos países constatou que 52,1% dos alemães orientais se identificam como ateus. Isso em comparação com apenas 10,3% no Oeste da Alemanha. De fato, a pesquisa não foi capaz de encontrar uma única pessoa com idade inferior a 28 anos no Leste da Alemanha que acreditasse em Deus. Obviamente existem alguns, mas a pesquisa não foi capaz de encontrá-los. Tendo em vista que isso é um achado extraordinário é preciso cuidado para encontrar uma explicação.

Diferentes razões são invocadas para a ausência de religião na Alemanha Oriental. A primeira é o fato da região ter sido governada pelo Partido Comunista (1945-1990) que, com  sua hostilidade explícita à religião, pode ter ajudado a erradicar a prática. No entanto, essa não é uma justificativa completa. Após a hostilidade inicial, nos primeiros anos de liderança, o Partido Comunista chegou a um consenso relativamente confortável para a participação da igreja no socialismo. As igrejas ganharam até um alto grau de autonomia para os padrões do governo e tornaram-se o foco organizacional do movimento dissidente da década de 1990, que foi, de certa forma, liderado por pastores protestantes.

Além da tolerância à religião, o partido também deliberadamente criou pólos alternativos de integração para a população. Os jovens eram criados em um ambiente altamente ideológico e obrigados a passar pelo chamado Jugendweihe – uma espécie de confirmação do ateísmo. Curiosamente, esta cerimônia sobreviveu ao fim do comunismo e muitos jovens voluntariamente ainda participam dela. Na Alemanha Oriental há uma tentativa de criar uma espécie de patriotismo, em que figuras da história prussiana, como Frederico, o Grande, foram colocados de volta em seus pedestais em Berlim. Martinho Lutero, Thomas Munzer e outras figuras da história Comunista também foram recrutados para a festa.

Outro fator é que a religião no Leste da Alemanha é predominantemente protestante, tanto historicamente como na atualidade. Dos 25% que se identificaram como religiosos, 21% são protestantes e 4% católicos, muçulmanos e adeptos de outros novos grupos evangélicos ou de seitas e religiões alternativas. A igreja protestante está em declínio, com o dobro de pessoas deixando a religião do que o número dos que aderem.


 
Secularização mundial 

Se fôssemos seguir a linha weberiana sobre isso, então a Alemanha Oriental seria uma área altamente protestante, que hoje passa por uma rápida modernização, lado a lado com a industrialização, em um processo que foi acelerado pela obsessão comunista pela indústria pesada.

No entanto, quando olhamos para a Alemanha Ocidental, vemos que os católicos são maioria e, de fato, o poder político da região tem sido tradicionalmente construído com o apoio católico. Na verdade, o primeiro chanceler da Alemanha Ocidental do pós-guerra, Konrad Adenauer, mesmo tendo sido prefeito de Colônia, na década de 1930, era a favor da divisão do país e de uma aliança, como uma espécie de União Europeia.

O que tudo isso significa é que, em vez de simplesmente ser uma área que foi ocupada pela União Soviética e seus líderes do partido comunista do leste alemão, a parte oriental da Alemanha tem uma identidade que – quase um quarto de século depois – continua a fazer da unificação um ideal mais difícil do que o esperado. A confissão religiosa, ou melhor, a falta dela, desempenha um papel importante nesse processo. O ateísmo é uma forma de continuar uma identificação política e regional. Por exemplo, em 2000, o teólogo católico Eberhard Tiefensee identificou o que chamou de “ateísmo folclórico alemão”, que constitui uma posição ideológica contra a dominação católica no resto da Alemanha.

Processos de secularização estão em andamento em todo o continente e o papel da religião e da igreja na modernidade estão sendo questionados em todos os lugares, seja com o casamento gay, a ordenação de mulheres ou  a liberação do aborto. O que a pesquisa vislumbra é a possibilidade de o ateísmo popular, amplamente aceito na Alemanha Oriental, também representar o futuro da Europa.
 ----------------------------------
 http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/alemanha-orientalo-lugar-mais-sem-deus-na-terra/24/09/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário