Adriele Marchesini*

Na visão de especialistas, quanto
maior a rede, menos funcional ela fica. Trabalho de microconexões é
saída para não sobrecarregar o usuário
O Facebook atingiu oficialmente um bilhão de usuários ativos mensais
nesta quinta-feira (04/10). A informação foi passada pelo fundador e CEO
da empresa, Mark Zuckerberg, pela sua página na rede social. “Se você
está lendo isto, obrigado por dar a mim, e ao meu pequeno time, a honra
de servir você.”
Outros números chamaram a atenção neste ano envolvendo a rede social.
Foi em janeiro de 2012 que o Facebook ultrapassou o Orkut no Brasil,
segundo informações da comScore. Os dados mostravam que, à época, a rede
social havia crescido 192% em um ano, contabilizando 36 milhões de
usuários no País. Os dados, claro, não ficaram congelados: em maio, uma
pesquisa da Social Bakers contabilizou 46 milhões de brasileiro ativos
na rede social, o que colocou o Brasil na segunda posição mundial no
ranking de principais nações que usam a ferramenta, ficando atrás
somente dos Estados Unidos, que na ocasião possuíam 157 milhões de
inscritos.
Seu tamanho, sua base de dados e sua capacidade em distribuir
anúncios direcionados, à semelhança do concorrente Google, só que em
menor proporção, obviamente, fizeram com que ele conseguisse, também
neste ano, captar US$ 16 bilhões em sua oferta inicial de ações (IPO, da
sigla em inglês), o que elevou seu valor de mercado a US$ 104 bilhões.
Segundo reportagem publicada recentemente pelo The Brain Yard,
Michael Raanan, presidente da Landmark Tax Group, indicou que Facebook
não apresenta uma vantagem significativa para os empresários e que
outras redes sociais estão preenchendo essa lacuna. “O Facebook limita
as ações dos proprietários com perfis corporativos, como possibilitar
apenas a ‘curtida’ de outras páginas e postagens. O Twitter, por outro
lado, fornece publicidade em tempo real e o Pinterest provê a
possibilidade de publicidade e marketing com um elemento mais visual”,
afirmou.
Jeffrey M. Stibel, que previu a derrocada do MySpace enquanto escrevia seu livro Wired for Thought (Conectado
pelas Ideias, lançado no Brasil pela DVS Editora), explicou que o
destino do Facebook é o mesmo. Em entrevista exclusiva ao IT Web, o
executivo, que, atualmente, é presidente da Web.com, empresa de capital
aberto que ajuda empreendedores a iniciar e desenvolver seus negócios
na web, explicou que a rede social de Zuckerberg beira ficar tão popular
a ponto de se tornar ineficiente para seu propósito inicial, o de
conectar pessoas de forma eficiente.
Na visão do especialista, o futuro da web, cada vez mais, se mostra
centrado em pequenas comunidades, e que, para ser uma rede social de
sucesso no longo prazo, é preciso atingir, muito bem, determinados
nichos. O complexo, portanto, não tem vez: e é neste ponto que o
Facebook deveria aprender com o Google, segundo Stibel. “O mais
importante é que você não quer interação demais, não quer muitos dados,
não quer muito porque acontece o que você disse: ficamos
sobrecarregados. Então, um dos maiores problemas que vão atingir todas
as redes sociais – seja a do Google, o Facebook ou a próxima nova coisa –
é que quando elas ficam grande, ao ponto de funcionar extremamente bem,
elas não conseguem crescer mais e acabam implodindo. É isso o que
acontece: você vê isso no cérebro, você vê que as atividades neurais,
quando ficam muito grandes, há explosões neurais, avalanches neurais,
que é o que joga você de volta à uma linha base.”
Para o especialista, é preciso “crescer pensando menor. Nós, como
animais sociais, não conseguimos lidar com tanta interação social. A
melhor coisa é tornar cada vez maior em número mas pensar pequeno, em
termos de nichos. Como manter pequenas conexões com grande interação
entre elas”, comentou. Segundo o executivo, em geral, uma rede neural
(isso mesmo, do cérebro) trabalha razoavelmente bem com algo em torno de
150 a 200 “notes”. Então são cerca de 150 amigos mais próximos. O que
você encontra com computadores e internet é um número além disso, que
acaba ruindo sozinho: sua interação passa a se tornar mais esparsa,
menos profunda, e a rede social, por si só, começa a sofrer como um
todo.
Os grupos de discussão são uma boa resposta a essa necessidade de
menores nichos de relacionamento. O Facebook também atualizou seu
sistema de feeds para evidenciar na linha do tempo do usuário os
contatos com os quais ele mais interage. É uma forma de manter a
usabilidade da plataforma diante de tantas conexões.
Fadiga?
Voltando à reportagem do The BrainYard,Gina Schreck,
presidente da SynapseConnecting, também percebe o que é conhecido com a
“fadiga do Facebook”. Parte disso, ela diz, pode ser atribuído ao desejo
dos usuários de tentar algo novo, mas a rede social não faz o
suficiente para engajar as pessoas e as empresas.
“Vejo uma tendência que aponta para queda do Facebook – as pessoas
mais jovens se afastarão das atividades e descobrirão o Pinterest e
outras redes. Também ouço adultos falando sobre a exaustão do Facebook e
as empresas cansadas de tentar conseguir fãs para subir no ranking do
EdgeRank. A rede social afirma estar focada em ajudar as pequenas
empresas, cobrando para promover postagens para fãs que você já tem e
não ter ainda um aplicativo móvel mais funcional para gerenciar páginas
corporativas, mostrando que ainda não ouve a maioria de seus usuários”,
observou Gina.
Mas não existem apenas previsões negativas. Matt Karolian, gerente
de mídia social da empresa de publicidade Arnol Worldwide, prevê um
futuro brilhante para a rede social em e-commerce, apesar de ser algo
que soe um pouco assustador para usuários que prezam pela privacidade.
“Não vejo muitas pessoas falando sobre o potencial da rede em se
aprofundar no comércio. No momento, o Facebook tem muitas das peças no
lugar para que o comércio funcione, apenas não estão corretamente
conectadas. Possui IDs verificadas, centenas de milhares de
proprietários de empresas e conhecem suas preferências. O Facebook
Connect o meio primário para a inscrição e muitos serviços online é um
exemplo. Está tudo lá”, esclareceu Karolian.
April J. Rudin, da Rudin Group, percebe uma evolução social que
afetará todas as plataformas. Ela não prevê qual plataforma “ganhará”,
mas que logo chegará o dia em que usaremos um único hub para acessar
múltiplas plataformas. “Por que temos que usar tantas diferentes?”.
E o sucesso, inegável até então, obviamente, é percebido pelos concorrentes. Em entrevista ao IT Web,
Amit Singh, vice-presidente do Google,concordou que a concorrência com o
Facebook deixou marcas na empresa. “Realmente acho que há tendências
que perdemos, como a social - essa definitivamente foi uma perda”,
afirmou.
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* Formada em jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e com o
estigma de “geração Y” pelo ano em que nasceu, Adriele Marchesini é
editora do IT Web, o primeiro portal de tecnologia do Brasil voltado
para profissionais da área. Até 2010 era especializada em economia, o
que lhe rendeu empregos no Estadão, Diário do Comércio e Indústria e
Infomoney, além de um MBA em Análise Econômica na Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe). Apaixonada pela série Jornada nas Estrelas e
por temas envolvendo transumanismo e inteligência artificial, aflorou
seu lado geek quando assumiu o IT Web. E não pretende mudar de
especialização tão cedo – ao menos enquanto a inquietude da geração Y
não dá as caras.
Fonte: http://itweb.com.br/colaborador/adriele-marchesini/
Imagem da Internet
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