segunda-feira, 2 de julho de 2018

I CANT


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E quais são os limites da ideia de “I can”?
JS – O interessante do “eu posso”, de fato, é a substituição do “eu penso”. Descartes disse “eu penso” e depois Merleau-Ponty diz “eu posso”. Esse “eu posso”viria antes de pensar. Há algo mais fundamental para os humanos que pensar, que é capacidade de fazer algo. Isso é bom. Mas é claro, é limitado, porque tem esse tom muito positivo: “eu posso fazer isso”. Sim, nós podemos. De certa forma, do ponto de vista filosófico, você pode dizer que estamos frente a uma filosofia existencial, trata-se de dizer que você existe no mundo, mas também tem possibilidades de criar sua própria existência.

Essa é a ideia de ter possibilidades. Mesmo que sua vida seja miserável, sempre há alguma coisa, sempre há uma possibilidade, sempre uma saída, ou algo que você pode fazer. Estou pensando agora nos romances de Sartre, de quando ele estava em uma prisão, e acho que há muitas coisas que você pode fazer na prisão. Mas esta é uma espécie de ideia tão positiva da vida. Claro, pode ser bom, positivo, mas há muitas pessoas com problemas [impaired], por causa de sua corporeidade [embodied being]. Então também há um monte de “eu não posso” ou “não posso mais”. É uma questão muito ampla, o “eu posso”.

Todos podem ter seu próprio “eu posso”. “Eu posso” pode ser atribuído a qualquer sujeito? Quero dizer, uma pessoa com deficiência que não pode caminhar, mas consegue usar um dispositivo, esse é o “eu posso” dela?
JS – Sim, claro. Ela também tem possibilidades. O interessante, é claro, é que se uma pessoa estiver em uma cadeira de rodas, então há “eu posso”. Mas se ela estiver em um prédio sem um elevador, o seu “eu posso” estará limitado. O “eu posso” não é apenas algo na pessoa, mas também é uma coisa que está no social.

Então é mais como “eu posso no mundo”?
JS– ““Eu posso no mundo”. Sim. Não se trata de “eu tenho músculos grandes, então sou forte, posso fazer qualquer coisa”. Mas é “eu tenho possibilidades”. Há também constrangimentos, o que tem a ver com hábitos e técnicas corporais, etc. Portanto, é muito socialmente informado.
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Excerto  entrevista | Por uma filosofia/antropologia do corpo: materialismo fenomenológico ou fenomenologia materialista | Entrevista com Jenny Slatman na Universidade de Maastricht, na Holanda. Atualmente, Jenny é professora titular da Universidade de Tilburg, também na Holanda, em Medical Humanities.
Fonte:  http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/145517/139655 
Imagem de Jenny Slatman da Internet

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