segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A santa sem nome

 Jean-Jacques Fdida*
Conto
Era uma vez uma pequena que servia numa quinta – já não se sabe onde... Esta jovem parecia de tal maneira insignificante que só a chamavam por “Ei, tu aí”, “Psst, pequena” ou “Ó miúda”. O seu nome havia sido completamente esquecido e ela própria também já não o recordava.
Depois da sua morte, quando se encontrou no paraíso, qual não foi a surpresa ao ver que a conduziam diante dos maiores santos do céu! Sim, porque apesar de uma vida discreta e pouco notável, a jovem tinha chegado, sem se dar conta – e talvez por causa disso – ao maior estado de santidade.
E se, cúmulo da inocência, ela estava surpreendida e perturbada com tantas atenções, os outros santos estavam muito embaraçados. Todos sabiam que, por não ter nome próprio, a nova santa nunca poderia receber orações particulares, pedidos que só a ela fossem dirigidos.
Desde logo os santos mais generosos propuseram-lhe partilhar os seus nomes, mas ela recusava educadamente, dizendo que até aí tinha vivido bem dessa maneira, e assim poderia continuar. Foi então que Deus se pronunciou:
- À nova santa sem nome irão todas as preces sem nome.
Depois desse dia é esta pequena, de quem nada se sabe, que recolhe no céu a maior parte das orações. Com efeito, é a ela que sobem todos os impulsos dos nossos corações cada vez que, mesmo sem termos consciência, somos atravessados por uma inclinação para o bem ou um desejo impreciso de tornar o mundo melhor.
Diz-se que cada sorriso, cada lágrima
Das nossas emoções mais puras
é no mesmo instante recolhida e abençoada pela santa sem nome.
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*In Contes des sages juifs, chrétiens et musulmans, ed. Seuil
Trad. / adapt.: rm
© SNPC (trad.) | 31.10.10 
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