Jean-Jacques Fdida*
Conto
Era uma vez uma pequena que servia numa quinta –
já não se sabe onde... Esta jovem parecia de tal maneira insignificante
que só a chamavam por “Ei, tu aí”, “Psst, pequena” ou “Ó miúda”. O seu
nome havia sido completamente esquecido e ela própria também já não o
recordava.
Depois da sua morte, quando se encontrou no
paraíso, qual não foi a surpresa ao ver que a conduziam diante dos
maiores santos do céu! Sim, porque apesar de uma vida discreta e pouco
notável, a jovem tinha chegado, sem se dar conta – e talvez por causa
disso – ao maior estado de santidade.
E se, cúmulo da inocência, ela estava
surpreendida e perturbada com tantas atenções, os outros santos estavam
muito embaraçados. Todos sabiam que, por não ter nome próprio, a nova
santa nunca poderia receber orações particulares, pedidos que só a ela
fossem dirigidos.
Desde logo os santos mais generosos
propuseram-lhe partilhar os seus nomes, mas ela recusava educadamente,
dizendo que até aí tinha vivido bem dessa maneira, e assim poderia
continuar. Foi então que Deus se pronunciou:
- À nova santa sem nome irão todas as preces sem nome.
Depois desse dia é esta pequena, de quem nada se
sabe, que recolhe no céu a maior parte das orações. Com efeito, é a ela
que sobem todos os impulsos dos nossos corações cada vez que, mesmo
sem termos consciência, somos atravessados por uma inclinação para o
bem ou um desejo impreciso de tornar o mundo melhor.
Diz-se que cada sorriso, cada lágrima
Das nossas emoções mais puras
é no mesmo instante recolhida e abençoada pela santa sem nome.
Das nossas emoções mais puras
é no mesmo instante recolhida e abençoada pela santa sem nome.
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*In Contes des sages juifs, chrétiens et musulmans, ed. Seuil
Trad. / adapt.: rm
© SNPC (trad.) | 31.10.10
Trad. / adapt.: rm
© SNPC (trad.) | 31.10.10
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