Oração de Jesus no horto
Sebastiano Ricci
Sebastiano Ricci
O objeto último da nossa oração, como do nosso
desejo, deve ser sempre a vida eterna, a união com Deus. Tudo o resto
não tem valor se não for subordinado a este fim, quer para nós quer
para os outros. É assim que a nossa vontade se conforma radicalmente à
de Deus, que quer a nossa salvação.
Mas a salvação, o Reino de Deus, é misterioso, e muitas vezes temos dele uma ideia bem mesquinha.
Frequentemente, na nossa oração concreta, pedimos
a aquisição de certa virtude, a obtenção de determinado dom, o
apaziguamento de tal sofrimento ou qualquer outra coisa. Acreditamos
que esse pedido é para o nosso bem espiritual ou para o bem do nosso
próximo. Mas a resposta de Deus pode ser: «Basta-te a minha graça,
porque a força manifesta-se na fraqueza» (2 Coríntios 12, 9). A dor que
experimentamos é, segundo o plano de Deus, para nosso bem. E pode
muito bem ser possível que, para nós, a via do Amor seja a via da
pobreza e da cruz.
Se eu peço o que é necessário à salvação, serei sempre acolhido. Mas se eu peço o que me parece
necessário à salvação, serei ouvido segundo a substância do meu
pedido, e não necessariamente segundo o seu teor explícito. Daí a
condição “se é verdadeiramente de acordo com a tua vontade, com o teu
amor” deve estar sempre subentendida numa prece dirigida a Deus.
Se nem sempre sabemos pedir o que Deus quer para
nós, o Espírito Santo sabe-o. O Espírito, que está em nós, retifica as
nossas súplicas, inspirando-nos o que é preciso pedir.
«O Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza,
pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser;
mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E
aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é
de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos» (Romanos 8,
26-27).
Orar com piedade
Para ser acolhida, a nossa oração deve ser a
expressão de uma atitude justa diante de Deus. Cristo revela-nos essa
atitude, ele que «nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e
súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e
lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade» (Hebreus 5, 7).
Numa nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém diz:
«O termo “piedade” implica respeito e submissão (...) A oração de Jesus
em agonia foi sempre inspirada pela obediência total à vontade do seu
Pai. Foi por isso que ele foi ouvido e acolhido.».
A nossa oração deve revestir-se das mesmas disposições das de Jesus Cristo:
- O amor de um filho para o seu Pai.
- Uma confiança absoluta: Creio em Ti.
- Uma esperança concreta na benevolente omnipotência da sua Providência, que vela sobre todas as coisas: «Mesmo os cabelos da tua cabeça estão contados».
- Uma humildade que reconhece a sua indigência: «A oração do humilde penetrará as nuvens» (Ben Sira 35, 17).
- A obediência à vontade do Pai, mesmo nos sacrifícios que Ele nos pede para fazer chegar o seu Reino.
- Em síntese, a pureza de um coração que só procura a glória de Deus.
- O amor de um filho para o seu Pai.
- Uma confiança absoluta: Creio em Ti.
- Uma esperança concreta na benevolente omnipotência da sua Providência, que vela sobre todas as coisas: «Mesmo os cabelos da tua cabeça estão contados».
- Uma humildade que reconhece a sua indigência: «A oração do humilde penetrará as nuvens» (Ben Sira 35, 17).
- A obediência à vontade do Pai, mesmo nos sacrifícios que Ele nos pede para fazer chegar o seu Reino.
- Em síntese, a pureza de um coração que só procura a glória de Deus.
Rei David em oração (Pieter de Grebber)
É isto que significa «rezar em nome de Jesus». «Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá» (João 15, 16).
Desta maneira compreendemos melhor o esforço
obstinado dos Padres do Deserto para obter a pureza do coração.
Compreendemos também que ela não se pode obter unicamente através dos
nossos esforços.
Ela não pode ser senão dom de Deus, graça, amor
de Deus «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Romanos 5,
5). Todo o nosso esforço consistirá em superar os obstáculos para que
sobressaia do fundo do nosso coração a oração-amor do próprio Cristo,
em toda a sua pureza e em toda a sua extensão, para abraçar todos os
homens.
Aqui encontram lugar as práticas penitenciais, os
jejuns, as mortificações para sustentar a oração, reparar,
restabelecer uma ordem perturbada pelo pecado (o nosso próprio pecado
ou o daquele por quem se reza). Desta forma, a oração torna-se mais
abrangente, comprometendo todo o ser e tomando um peso existencial
maior.
Oração de Jesus no horto
Orar com perseverança
Jesus insiste repetidamente: é preciso rezar com
perseverança e não desencorajar se Deus não responde logo a seguir. Ele
certamente ouve-nos. É preciso que tenhamos fôlego, saber persistir na
oração.
Já sublinhámos que aquilo que pedimos na oração
nem sempre está de acordo com o nosso interesse espiritual. Mais eis a
sabedoria infinita de Deus: pela nossa oração perseverante, se o Senhor
não nos concede o que a nossa vontade deseja, é a nossa vontade que se
ajustará pouco a pouco ao que o Senhor deseja. Foi o que aconteceu com
as preces de Jesus no Getsemani. A oração faz-nos compreender melhor e
aceitar a situação, permitindo-nos ver com o olhar de Deus. Um pedido
de cura pode transformar-se, pacientemente, numa oferta reparadora de
uma vida.
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"Por um monge Cartuxo"
© SNPC (trad.) | 07.10.10
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