“Relationship Status” | obra do fotografo Nicolas Ritter que reinterpreta o Facebook.
Geração Superficial, muito prazer. Segundo o pesquisador Nicholas
Carr e seu livro “O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros:
Geração Superficial”, estamos nos tornando incapazes de adquirir
concentração e profundidade. Na minha opinião, trata-se de um
reducionismo de como o fetiche por telas e abas simultâneas afeta nossa
forma de pensar e, indo mais longe, nossa relação com nós mesmos. O Caio
Braz levantou esse raciocínio ao afirmar que a Internet é o novo crack e
que, ao nos conectarmos com o mundo, nos desconectamos de nós mesmos.
A psicóloga norte-americana Sherry Turkle tem uma visão muito
interessante sobre o assunto. Para a autora de “Alone Together”, nossa
relação com a tecnologia precisa ser revista, porque esta realidade
intermediada por telas nos acostuma à escolher e controlar
excessivamente nossa atenção. Nada grave quando você está naquela fila e
começa a jogar angry birds – situação na qual você escolhe não “viver” a fila, mas sim o angry birds.
Mas talvez seja um pouco mais sério se pensarmos em pessoas que
escolhem “viver” o Facebook em um velório e escolhem não lidar – pelo
menos não integralmente – com o início do processo de luto.
Escolhemos com quem e quando queremos interagir, substituindo algumas
conversas por conexões. Nesse cenário, parece que estamos
constantemente falando sem necessariamente saber se alguém está
realmente ouvindo. É como se estivéssemos criando a capacidade de nos
esconder dos outros ao mesmo tempo que estamos 100% conectados. Como
consequência, estamos perdendo nossa capacidade de reflexão.
A Psicanálise nos permite aprofundar a discussão. Segundo Lacan, a
lógica psicológica na qual operam os indivíduos segue 3 esferas: o Real,
o Simbólico e o Imaginário [RSI]. “Normalmente”, o humano confere
significação àquilo que é Real [e cru] através do Imaginário – ou seja,
reveste o que não compreende inteiramente com diversas significações. No
entanto, esse processo só opera por causa do Simbólico, campo da
linguagem, do discurso, e dos significantes que está ligado ao
inconsciente. Ou seja, é o processo através do qual cada um atribui sua
visão e, consequentemente, realiza questionamentos básicos [na linha
“quem sou eu e o que eu quero”].
No entanto, alguns pensadores atuais afirmam que vivemos uma crise
dessa “elaboração subjetiva”. É o caso, por exemplo, do Slavoj Žižek e
seu memorável título “Bem-vindo ao deserto do Real”. O filósofo
esloveno combina interpretações, digamos, ousadas da obra do Lacan com
teoria social e análise cinematográfica para construir uma crítica à
ausência do processo simbólico no contemporâneo, como se “pulássemos” do
real para o imaginário automaticamente, sem elaboração ou reflexão.
Ainda que essa seja uma interpretação resumida [e quase grosseira] do
pensamento do Žižek, acredito que faça sentido se pensarmos que o
filósofo emprestou essa frase célebre do primeiro Matrix, obra que
também coloca em pauta a relação homem X tecnologia [ou máquina].
Refletindo um pouco mais, me pergunto sobre as consequências disso
[se já não afeta significativamente] para a nossa habilidade de tomar
decisões ou mesmo criar empatia com o outro. Quais os desdobramentos
desse processo para a formação de expectativas ou mesmo a capacidade de
cometer e aceitar os nossos próprios erros. Acima de tudo, conforme
provoca a Sherry Turkle, as implicações mais sérias dizem respeito à
capacidade de ficarmos a sós com nós mesmos, nos tornarmos mais íntimos
de nossas próprias emoções ou adquirirmos consciência do que somos e do
que buscamos. Recomendo assistir o TED Talk dela, “Connected, but
alone?”.
Claro que esse raciocínio pode parecer exagero, ainda mais para nós
brasileiros, que tanto valorizamos o contato e o calor humano. Ainda
assim, ao longo de diversos trabalhos sobre tecnologia tenho visto esse
quadro em diversos perfis comportamentais, etários e econômicos em
centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro. Preenchemos todos os
cômodos da casa com TVs e notebooks, estamos substituindo pausas e
lacunas por telas e, em muitos casos, novas abas têm tomado o lugar dos
pensamentos.
Sendo assim, gostaria de deixar algumas provocações: estamos
incentivando as pessoas a assistir, conectar e compartilhar em prol do
que? Como é possível incentivar mais o debate e a reflexão entre as
pessoas? A visão clássica do publicitário mad men é o cara que
não estimula ninguém a pensar, afinal a massa deve permanecer ignorante
para comprar aquilo que não precisa. Será? Não quero promover
raciocínios rasos ou extremistas, mas colocar esse assunto em pauta e,
principalmente, criar espaços para o debate. Talvez os comentários sejam
uma ótima oportunidade para iniciar esse processo ou, quem sabe, uma
conversa de verdade, não?!
PS1: As reflexões e referências à Psicanálise são crédito da
Maria Lúcia Homem, psicanalista, professora na FAAP, pesquisadora na USP
e líder do coletivo Pancinema sobre cinema e Psicanálise. Para saber
mais, http://pancinema.com.br/
+ Livro da Susan Cain
http://www.amazon.com/Quiet-Power-Introverts-World-Talking/dp/0307352145
+ Link do texto do Caio Braz – A internet é o novo crack
http://caiobraz.com.br/internet-e-o-novo-crack-e-a-velocidade-da-desinformacao/
http://www.amazon.com/Quiet-Power-Introverts-World-Talking/dp/0307352145
+ Link do texto do Caio Braz – A internet é o novo crack
http://caiobraz.com.br/internet-e-o-novo-crack-e-a-velocidade-da-desinformacao/
---------------
Reportagem Por André Oliveira Brand Connections na Limo Inc.
@andrelucas1303
Reportagem Por André Oliveira Brand Connections na Limo Inc.
@andrelucas1303
Fonte: http://unplanned.com.br/coluna/mistura/netscapismo-vivemos-uma-era-de-desconexao/
Nenhum comentário:
Postar um comentário