P. Dennis Clark*
«Dois homens subiram ao templo para orar: um era fariseu e o outro, cobrador de impostos. O
fariseu, de pé, fazia interiormente esta oração: ‘Ó Deus, dou-te
graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos,
adúlteros; nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo.’ O
cobrador de impostos, mantendo-se à distância, nem sequer ousava
levantar os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem
piedade de mim, que sou pecador.’ Digo-vos: Este voltou
justificado para sua casa, e o outro não. Porque todo aquele que se
exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.» (Lucas 18,
10-14)
Sherlock Holmes e o Dr. Watson acampavam na
floresta. Estavam prestes a adormecer, deitados sob o céu estrelado,
quando o detetive perguntou ao seu assistente:
«Watson, observe: o que
vê?».
«Vejo milhares e milhares de estrelas.»
«E o que é que isso quer dizer para si, Watson?»
«Quer dizer que, entre todos os planetas do
universo, somos verdadeiramente afortunados por estar aqui na Terra.
Somos pequenos aos olhos de Deus, mas muito especiais para o seu
coração. E para si, Holmes, o que significa?»
«Significa que alguém roubou a nossa tenda!»
Rogelio Bernal Andreo
*****
Desde a aurora da civilização esteve sempre
presente uma interrogação inquietante: quem é que governa este vasto
universo e como é que nós convivemos com ele?
As pessoas imaginavam que os deuses eram como os
chefes das tribos e reis que conheciam: fortes e poderosos mas
excêntricos, vingativos, caprichosos, não se importando com ninguém a
não ser com eles próprios. Deuses assim precisavam de ser tratados como
peças de porcelana e muitos presentes, subornos, incenso, ofertas
imoladas e, sobretudo, imensas virgens sacrificadas em cerimónias
solenes. A finalidade de tudo isto era amansar os deuses e tê-los sob
controlo, de maneira a que as pessoas se pudesse distender e continuar
as suas vidas.
Era tudo terrivelmente primitivo, mas é onde
muitos continuam presos, tentando controlar e manipular um pequeno e
não muito simpático Deus com subornos, promessas e observâncias
religiosas desprovidas de adesão interior.
Foi aí que o fariseu ficou enclausurado, do lado
de fora da vida, num sítio em parte nenhuma que ele pensava ser
esplêndido. «Obrigado Deus», dizia, «não sou como o resto dos homens».
Não percebia nada de Deus, de si próprio ou do essencial da vida.
Mas o cobrador de impostos, que ele havia
desprezado, tinha a perceção correta: Deus não precisa de ser adulado,
persuadido ou comprado. Ele já nos ama, ele já quer que sejamos
felizes. E ele já sabe que nunca cresceremos inteiramente a não ser que
nos ajude e perdoe constantemente.
Francisco de Zurbarán
Aquele pobre cobrador de impostos, permanecendo
ao longe, com a cabeça inclinada, compreendeu o que está em jogo na
oração e na devoção: a transformação interior com a ajuda de Deus. E o
preço dessa mudança é simplesmente dizer a verdade, ou seja, ser
humilde: Senhor, preciso de mudar, e para isso preciso da tua ajuda e
do teu perdão em doses massivas.
Se a nossa oração e a nossa presença nas
celebrações não nos estão a transformar, devíamos parar de perder o
nosso tempo. Não significa deixar de rezar ou ir à igreja. Significa
mudar o coração, abrindo-o a Deus nas questões essenciais da vida,
prontos a pronunciar as palavras que têm de ser ditas com toda a
verdade:
Senhor, preciso de mudar... muito. E para isso,
preciso que me leves pela mão e não me deixes fugir, ainda que eu não
possa andar depressa e ainda que continue a tropeçar. Eu confio em ti,
Senhor. Sei que sabes por onde ir e eu estou pronto a mudar a minha
direção e deixar que tu me mostres o caminho. Amen.
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P. Dennis Clark
In Catholic Exchange
Trad. / adapt.: rm
© SNPC (trad.) | Atualizado em 28.08.12
In Catholic Exchange
Trad. / adapt.: rm
© SNPC (trad.) | Atualizado em 28.08.12
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