MARTHA MEDEIROS*
Como toda mulher, também gasto alguns minutos em frente ao espelho
com as mãos espalmadas no rosto tentando imaginar como seria se eu
puxasse um pouquinho aqui, um pouquinho ali, mas nunca fui além da
simulação – ainda não tive coragem de enfrentar o bisturi. Amigas
aconselham: não precisa partir para algo radical, faça apenas um
preenchimento, ora. Toda mulher moderna e inteligente faz, mas não gosto
nadinha da ideia de injetarem no meu rosto coisas assustadoras como
polimetilmetacrilato ou ácido hialurônico. Outro dia, uma moça me
explicou como o dermatologista, depois da aplicação, ficou moldando a
substância com os dedos até que se assentasse no lugar certo. Quase
passei mal. Não deviam contar esses detalhes para mulheres
impressionáveis. E, como se não bastasse eu ser de outro século, ainda
deparei com as fotos da mãe do Stallone. Aí, ferrou.
Preenchimento estava na minha lista de resoluções para 2012. Também esteve na de 2009, 2010 e 2011. Acaba de ser adiada, mais uma vez, para 2013 ou 2014, dependendo da minha capacidade de evoluir. Enquanto esse dia não chega, vou continuar me preenchendo com material obsoleto como livros, filmes, exposições, teatro. Não irão me deixar mais jovem nem mais bonita, mas ao menos o cérebro não ficará flácido. Como bem lembrou, recentemente, a linda atriz Aline Moraes, “a beleza pode desmoronar quando se abre a boca”.
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Preenchimento estava na minha lista de resoluções para 2012. Também esteve na de 2009, 2010 e 2011. Acaba de ser adiada, mais uma vez, para 2013 ou 2014, dependendo da minha capacidade de evoluir. Enquanto esse dia não chega, vou continuar me preenchendo com material obsoleto como livros, filmes, exposições, teatro. Não irão me deixar mais jovem nem mais bonita, mas ao menos o cérebro não ficará flácido. Como bem lembrou, recentemente, a linda atriz Aline Moraes, “a beleza pode desmoronar quando se abre a boca”.
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Mudando de assunto, mas nem tanto,
também me abismei com os erros de português que foram detectados nas
legendas da propaganda eleitoral na TV, em que se viram preciosidades
como “ensentivo”, “disperdiço”, “trofel”, “concurço” e “pulitica”,
palavras que não possuem nem de longe o grau de dificuldade de um
polimetilmetacrilato. Cheguei a iniciar uma crônica, mês passado, sobre
esse assunto: escrever errado todos escrevem, eu erro, tu erras, ele
erra. Não depõe contra o caráter de ninguém, mas não se pode relaxar. É
preciso continuar estudando, ler mais, consultar dicionários. Não
cheguei a publicar a crônica porque ela foi inspirada nos bilhetes
deixados pelo bioquímico que assassinou a mulher e o filho na zona sul
de Porto Alegre. Diante de uma tragédia daquela magnitude, não cairia
bem falar dos assassinatos gramaticais que ele também praticou. Eram
tragédias incomparáveis. Mas a mim doeu tudo.
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(Sei lá
como se escreve.) Quem de nós, durante um bilhete, um e-mail, um tuíte,
não colocou essa frase entre parênteses diante da dúvida sobre como
escrever uma palavra difícil ou uma expressão estrangeira? Então, para
não encerrar essa crônica com tragédia, e sim com tragicomédia, dê uma
espiada no site http://seilacomoseescreve.tumblr.com/page/2 e
divirta-se. Rir também rejuvenesce – e não dói.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 29/08/2012
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