LETICIA WIERZCHOWSKI*
As pessoas têm pressa, e cada vez mais. Você fala com
os outros por aí, e o papo recorrente é “Estou correndo tanto!”. Temos
vidas cheias: filhos, trabalho, uma provável rotina de atividades
físicas, encontros sociais, cuidados com a casa e a família. Além disso,
contas no Facebook e no Instagram também exigem uma certa manutenção...
Eu ando pela cidade e percebo que as pessoas, mais do que apressadas, estão ansiosas. Tenho comigo o seguinte: corremos tanto não apenas pelo acúmulo de tarefas cotidianas, mas induzidos por uma ansiedade que cresce cada vez mais, multiplicando-se a olhos vistos como aqueles velhos “bichinhos de fazer iogurte” que a minha mãe tinha num pote em cima da geladeira lá de casa. Ninguém mais aguenta esperar por quase nada. É tudo para já, para ontem. Até mesmo a maternidade – último bastião da serenidade e da paciência – vem sofrendo sérios abalos. Cesáreas aos borbotões. Está certo que muitas parturientes acabam na cesárea por problemas como falta de dilatação ou posição fetal delicada para um parto normal, mas conheço muitas mulheres por aí que, antes do sexto ou sétimo mês, já tinham suas cesáreas agendadas “porque assim tudo ficava mais calmo”. E o cúmulo foi uma conhecida minha (famosa, aliás) que marcou a cesárea do filho em função do mapa astral que desejava para a criança. Ah, bom! Pobres mamães angustiadas, não sabem ainda que colocar um filho neste mundo é simplesmente nunca mais ter certeza de nada, mas passar o resto da vida duvidando das próprias asserções e remarcando compromissos. Porque um filho não vem com programa: um belo dia, sem data agendada, ele vai finalmente sorrir, vai dar os primeiros passos, vai perder o primeiro dentinho e, se você não estiver por perto, baubau.
A ansiedade dos nossos tempos se reflete no trânsito. Quem espera 10 segundos para que um pedestre chegue ao outro lado da faixa de segurança? Quem deixa o celular na bolsa ou na pasta enquanto dirige? Quem passa um dia inteiro sem meter a mão na buzina? Todos têm que fazer tudo ao mesmo tempo, e quanto mais rápido melhor. No banco traseiro do carro, nossos filhos aprendem a lição. Não adianta ter o mapa astral mais auspicioso do mundo, quando papai e mamãe passam o tempo todo dando mau exemplo por aí, em cada esquina da cidade. Dia desses, no estacionamento do colégio do meu filho mais velho, depois de buzinar feito louca durante cinco eternos minutos, uma mãe alterada abriu a janela do seu carro e despejou, aos brados, um turbilhão de desaforos para um pai que, momentaneamente, por conta da confusão geral do estacionamento, trancou-lhe a passagem. Não creio que tenha colocado nada daquilo que disse (com o filho por testemunha no banco traseiro) no seu Face. Mas eu vi. Muita gente viu.
Eu ando pela cidade e percebo que as pessoas, mais do que apressadas, estão ansiosas. Tenho comigo o seguinte: corremos tanto não apenas pelo acúmulo de tarefas cotidianas, mas induzidos por uma ansiedade que cresce cada vez mais, multiplicando-se a olhos vistos como aqueles velhos “bichinhos de fazer iogurte” que a minha mãe tinha num pote em cima da geladeira lá de casa. Ninguém mais aguenta esperar por quase nada. É tudo para já, para ontem. Até mesmo a maternidade – último bastião da serenidade e da paciência – vem sofrendo sérios abalos. Cesáreas aos borbotões. Está certo que muitas parturientes acabam na cesárea por problemas como falta de dilatação ou posição fetal delicada para um parto normal, mas conheço muitas mulheres por aí que, antes do sexto ou sétimo mês, já tinham suas cesáreas agendadas “porque assim tudo ficava mais calmo”. E o cúmulo foi uma conhecida minha (famosa, aliás) que marcou a cesárea do filho em função do mapa astral que desejava para a criança. Ah, bom! Pobres mamães angustiadas, não sabem ainda que colocar um filho neste mundo é simplesmente nunca mais ter certeza de nada, mas passar o resto da vida duvidando das próprias asserções e remarcando compromissos. Porque um filho não vem com programa: um belo dia, sem data agendada, ele vai finalmente sorrir, vai dar os primeiros passos, vai perder o primeiro dentinho e, se você não estiver por perto, baubau.
A ansiedade dos nossos tempos se reflete no trânsito. Quem espera 10 segundos para que um pedestre chegue ao outro lado da faixa de segurança? Quem deixa o celular na bolsa ou na pasta enquanto dirige? Quem passa um dia inteiro sem meter a mão na buzina? Todos têm que fazer tudo ao mesmo tempo, e quanto mais rápido melhor. No banco traseiro do carro, nossos filhos aprendem a lição. Não adianta ter o mapa astral mais auspicioso do mundo, quando papai e mamãe passam o tempo todo dando mau exemplo por aí, em cada esquina da cidade. Dia desses, no estacionamento do colégio do meu filho mais velho, depois de buzinar feito louca durante cinco eternos minutos, uma mãe alterada abriu a janela do seu carro e despejou, aos brados, um turbilhão de desaforos para um pai que, momentaneamente, por conta da confusão geral do estacionamento, trancou-lhe a passagem. Não creio que tenha colocado nada daquilo que disse (com o filho por testemunha no banco traseiro) no seu Face. Mas eu vi. Muita gente viu.
-------------
* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3898254.xml&template=3916.dwt&edition=20493§ion=999
Imagem da Internet
Guiotto
ResponderExcluirDe fato, as pessoas estão cada dia mais aceleradas. Pensam que têm que ter inúmeros afazeres para que a vida não se resuma num marasmo total; desaprendem a observar os outros... não num sentido de criticar, ou julgar, mas observar como os animais nos observam, por exemplo... a natureza impõe seu ritmo, e resta-nos viver apenas.
O stress moderno não acrescenta dias em nossa vida, muito pelo contrário...corrói a nossa existência, o humor, e altera inclusive a taxa hormonal, o que para as mulheres é descompasso geral.
Deveríamos ouvir Epitáfio - e amar mais... acertar mais.. conviver mais...etc.
Parabéns pela crônica. Alice Baruch
Leia tbm:
http://lendasdecaissa.blogspot.com.br/2012/09/meu-pe-de-tamarindo-eta-saudade-doida.html
abraços