O cardeal Ravasi fala do evento Pátio dos gentios em Assis, do Sínodo e de um novo modo de evangelizar que deve ser refletido também numa renovada didática de ensino
No final da conferência de apresentação do Pátio dos Gentios, “Deus
esse desconhecido. Diálogo entre crentes e não-crentes”, que acontecerá
do 5 ao 6 de outubro, em Assis, ZENIT entrevistou o cardeal Gianfranco
Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.
***
ZENIT: O evento do Pátio dos gentios foi um evento de
pré-evangelização que criou um terreno fértil para o iminente Sínodo dos
bispos dedicado à Nova Evangelização. O que espera, no entanto, o Pátio
dos Gentios, da grande assembleia de outubro?
CARDEAL RAVASI: Além do fato de que o mesmo Sínodo cita o Pátio dos Gentios no Instrumentum laboris,
o que nós esperamos é que a apresentação da fé aconteça de uma forma,
com uma linguagem, o mais compreensível possível, não somente para os
fiéis mas também para o horizonte cultural geral. Ou seja, que não seja
somente auto-referencial ou ligado a fórmulas que, embora valiosas, já
são ultrapassadas.
Eis aqui a importância da comunicação da fé, que é aquilo que, de certa forma, fazemos também nós, sem porém querer evangelizar.
ZENIT: E nesta direção, qual poderia ser uma fórmula eficaz
para vencer também aquele mar de indiferença que o senhor, durante a
conferência, acusou ser a atitude mais perigosa do mundo atual?
Cardeal Ravasi: Acho que, para vencer o "nevoeiro" de
superficialidade, de banalidade, de indiferença generalizada, haja duas
estradas. Uma delas é a adotada por algumas Igrejas americanas,
especialmente protestantes, que é o propor o essencial, o mínimo,
compromentendo-se, especialmente, no lado da caridade, do voluntariado e
do compromisso social. Este é certamente um componente importante, mas,
na minha opinião, insuficiente, porque a Igreja não é uma "agência de
caridade".
O outro caminho, porém, é aquele das verdades últimas, ou seja, da
coragem de colocar sobre a mesa, em linguagem acessível, os temas da
vida, da morte, do bem, do mal, da justiça, do sofrimento, do amor.
Todas essas perguntas, ou seja, que são depositadas em todas as
pessoas e que re-emergem quando atravessam um sofrimento como, por
exemplo, um familiar que morre de câncer ou também quando se apaixonam,
estão em contato com a beleza e assim por diante. Tais questões precisam
ser repropostas com uma linguagem incisiva e culturalmente eficaz: é o
único caminho para fazer que a humanidade encontre uma resposta. Só
assim a superficialidade seria mexida como por um eletro-choque.
ZENIT: No encontro de Assis haverá um diálogo entre o senhor e
o presidente Giorgio Napolitano. Qual é a função do Presidente da
República no diálogo entre crentes e não-crentes?
Cardeal Ravasi: Representa dois componentes fundamentais: por um
lado, encarna a figura da Itália em todas as suas dimensões e portanto
de um País da grande tradição cristã. É a voz de uma itália que sempre
tem no panorama da tradição cultural o tema religioso. Não é possível
entrar numa pinacoteca ou numa cidade sem “encontrar-se” com catedrais,
monumentos, pinturas que evocam o sagrado.
Por outro lado, o presidente Napolitano representa uma grande
personalidade que repropôs os valores, também no meio da degradação
cultural, social e política. Ele insiste muitas vezes, especialmente com
os jovens, no tema dos grandes valores. É bem aí que se cria uma
sintonia: quando ambos começamos a questionar-nos temas fundamentais
para a mesma sociedade.
ZENIT: Nestes dias, o Ministro da Educação, Francesco
Profumo, à margem de uma conferência do Miur, falou de uma revisão de
temas como religião e geografia, considerando já a forte presença nas
escolas de alunos de diferentes culturas e religiões. Qual é a sua
opinião sobre esta questão?
Cardeal Ravasi: Acho que seja definitivamente importante renovar a
didática, antes de mais nada, no método. Pensamos agora sobre o como a
comunicação ocorre, não com o papel escrito ou a caneta como na minha
infância, mas com a tecnologia e outras formas diferentes. Mesmo nos
conteúdos, no entanto, é preciso uma renovação! Existem componentes que
são fundamentais, que não podem ser ignorados, não só para a religião,
mas também para as ciências. Ao mesmo tempo, no entanto, há sempre novas
questões: pensemos nos problemas da Bioética, termo que há 50 anos nem
sequer existia. Acho que, portanto, o ensinamento da religião, de modo
correto, na base da mensagem evangélica e dos grandes ensinamentos
cristãos, que sempre devem ser transmitidos, deve entrelaçar-se com a
mudança da sociedade e com a evolução dos tempos e da cultura.
ZENIT: Na perspectiva de uma transmissão inovadora e, ao
mesmo tempo, essencial da cultura, como se encaixa um evento dedicado a
Dante, como o que o senhor anunciou para o dia 12 de Novembro na Igreja
do Gesù, em Roma?
Cardeal Ravasi: Tudo conforme o que dissemos até agora. A herança que
nós temos é tão grande e gloriosa que não pode ser considerada uma
coisa do passado, marginal ou que deva ser jogada fora. É uma das bases
mais fecundas. Lembremos, porém, que o método é fundamental, no sentido
de que um evento de tal importância cultural não deve ser apresentado
como uma operação filológica, mas como estímulo sobre o qual construir
além. Expressa melhor esse conceito as palavras do filósofo Bernardo di
Chartres: "Nós somos anões nos ombros de gigantes, mas é por isso que
podemos ver mais longe."
[Trad. TS]-----------------
Reportagem Por Salvatore Cernuzio
Fonte: ROMA, terça-feira, 25 de setembro de 2012 (ZENIT.org) -
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário