Mulher vestida como um anjo em um telhado no 20º aniversário da queda do Muro de Berlim (Reprodução/Internet)
Ateísmo alemão pode ser visto como uma forma de identificação política e regional - e um caminho para o futuro
Um estudo recente
sobre a crença em Deus através dos tempos em diversos países constatou
que 52,1% dos alemães orientais se identificam como ateus. Isso em
comparação com apenas 10,3% no Oeste da Alemanha. De fato, a pesquisa
não foi capaz de encontrar uma única pessoa com idade inferior a 28 anos
no Leste da Alemanha que acreditasse em Deus. Obviamente existem
alguns, mas a pesquisa não foi capaz de encontrá-los. Tendo em vista que
isso é um achado extraordinário é preciso cuidado para encontrar uma
explicação.
Diferentes razões são invocadas para a ausência de religião na
Alemanha Oriental. A primeira é o fato da região ter sido governada pelo
Partido Comunista (1945-1990) que, com sua hostilidade explícita à
religião, pode ter ajudado a erradicar a prática. No entanto, essa não é
uma justificativa completa. Após a hostilidade inicial, nos primeiros
anos de liderança, o Partido Comunista chegou a um consenso
relativamente confortável para a participação da igreja no socialismo.
As igrejas ganharam até um alto grau de autonomia para os padrões do
governo e tornaram-se o foco organizacional do movimento dissidente da
década de 1990, que foi, de certa forma, liderado por pastores
protestantes.
Além da tolerância à religião, o partido também deliberadamente criou
pólos alternativos de integração para a população. Os jovens eram
criados em um ambiente altamente ideológico e obrigados a passar pelo
chamado Jugendweihe – uma espécie de confirmação do ateísmo.
Curiosamente, esta cerimônia sobreviveu ao fim do comunismo e muitos
jovens voluntariamente ainda participam dela. Na Alemanha Oriental há
uma tentativa de criar uma espécie de patriotismo, em que figuras da
história prussiana, como Frederico, o Grande, foram colocados de volta
em seus pedestais em Berlim. Martinho Lutero, Thomas Munzer e outras
figuras da história Comunista também foram recrutados para a festa.
Outro fator é que a religião no Leste da Alemanha é predominantemente
protestante, tanto historicamente como na atualidade. Dos 25% que se
identificaram como religiosos, 21% são protestantes e 4% católicos,
muçulmanos e adeptos de outros novos grupos evangélicos ou de seitas e
religiões alternativas. A igreja protestante está em declínio, com o
dobro de pessoas deixando a religião do que o número dos que aderem.
Secularização mundial
Se fôssemos seguir a linha weberiana sobre isso, então a Alemanha
Oriental seria uma área altamente protestante, que hoje passa por uma
rápida modernização, lado a lado com a industrialização, em um processo
que foi acelerado pela obsessão comunista pela indústria pesada.
No entanto, quando olhamos para a Alemanha Ocidental, vemos que os
católicos são maioria e, de fato, o poder político da região tem sido
tradicionalmente construído com o apoio católico. Na verdade, o primeiro
chanceler da Alemanha Ocidental do pós-guerra, Konrad Adenauer, mesmo
tendo sido prefeito de Colônia, na década de 1930, era a favor da
divisão do país e de uma aliança, como uma espécie de União Europeia.
O que tudo isso significa é que, em vez de simplesmente ser uma área
que foi ocupada pela União Soviética e seus líderes do partido comunista
do leste alemão, a parte oriental da Alemanha tem uma identidade que –
quase um quarto de século depois – continua a fazer da unificação um
ideal mais difícil do que o esperado. A confissão religiosa, ou melhor, a
falta dela, desempenha um papel importante nesse processo. O ateísmo é
uma forma de continuar uma identificação política e regional. Por
exemplo, em 2000, o teólogo católico Eberhard Tiefensee identificou o
que chamou de “ateísmo folclórico alemão”, que constitui uma posição
ideológica contra a dominação católica no resto da Alemanha.
Processos de secularização estão em andamento em todo o continente e o
papel da religião e da igreja na modernidade estão sendo questionados
em todos os lugares, seja com o casamento gay, a ordenação de mulheres
ou a liberação do aborto. O que a pesquisa vislumbra é a possibilidade
de o ateísmo popular, amplamente aceito na Alemanha Oriental, também
representar o futuro da Europa.
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http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/alemanha-orientalo-lugar-mais-sem-deus-na-terra/24/09/2012
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