P. Dennis Clark*
Meditação
Anónimo holandês
Levantou-se, então, um doutor da Lei e
perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para
possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como
lês?»O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o
teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o
teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» Disse-lhe Jesus:
«Respondeste bem; faz isso e viverás.»
Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu:
«Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto.
Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar. ’Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.» (Lucas 10, 25-37)
Uma jovem mãe estava a ter um dos piores dias da
sua vida. O marido havia perdido o emprego; o esquentador tinha
explodido; o carteiro trouxe um monte de contas que ela não podia
pagar; o seu cabelo estava péssimo e sentia-se gorda e feia. Estava
quase no ponto de rutura quando levantou o seu filho de um ano e o
sentou na cadeira de bebé, apoiou a cabeça no tabuleiro e começou a
chorar. Sem um murmúrio, a criança tirou a chucha da sua boca... e
carinhosamente colocou-a na dela!
* * * * *
Compaixão: Ele desconhecia a palavra mas o seu
coração conhecia a necessidade. E deu o que tinha. Nós somos, de tantas
maneiras, os artífices dos mundos dos outros. Minuto após minuto
criamos o mini-mundo em que vivemos juntos. E na maior parte das vezes
nem sequer pressentimos como é enorme a nossa capacidade de levar
alegria ou tristeza, cura ou dor aos outros.
Théodule-Augustin Ribot
Por exemplo, quando participamos na missa estamos a
criar um breve e pequeno mundo. Outras pessoas, cujos nomes nem sequer
conhecemos, prepararam o espaço para nós: limparam o pó e varreram,
arranjaram e colocaram flores, ensaiaram os cânticos. Agora é a nossa
vez de fazer da celebração um espaço calmo, pacífico e acolhedor, um
espaço onde podemos ajudar os outros a experimentar a presença amorosa
de Deus, a sua força, o seu conforto e apoio.
Fazemos isso de inúmeras maneiras: o modo como
entramos e saímos, o modo como cantamos e rezamos em conjunto, o modo
como damos espaço uns aos outros, o modo como fazemos silêncio uns para
os outros. São muitas as maneiras como criamos ou destruímos algo
admirável.
Jan Wynants
Toda a nossa vida é assim: desde o momento em que
abrimos os nossos olhos pela manhã até quando os fechamos à noite, temos
o poder de criar e o poder de destruir, o poder de dar os nossos dons –
grandes e pequenos – e o poder de os recusar.
Provavelmente nenhum de nós encontrará alguma vez
um homem a morrer na berma da estrada. E a maior parte de nós
raramente será chamada a fazer um sacrifício realmente significativo
por outra pessoa. Mas todos nós iremos encontrar milhares de pessoas
cujas vidas podemos tornar um pouco mais ricas, um pouco mais felizes
porque estávamos lá e porque demos o que tínhamos – tal como aquela
criança deu a sua chucha.
Van Gogh
A cada momento cada um de nós tem alguma coisa a dar,
alguma coisa que é precisa. Dá-la-emos? Temos de dar, simplesmente
porque dar os nossos dons é a única maneira possível de encontrar a
felicidade. A vida não é um desporto de bancada! Dar os nossos dons –
todos eles, todos os dias – é a única maneira de realizar a nossa vida,
a única maneira de crescermos à imagem e semelhança de Deus.
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