Diana Lichtenstein Corso*
Nesse sentido, celebro a resolução do Conselho Federal de Medicina, que se pronunciou sobre os termos do “Testamento Vital”. Trata-se do direito de deixar estabelecidos os limites a respeito dos procedimentos aos quais não desejamos ser submetidos na fase terminal. A morte deveria pertencer a seu protagonista, mas infelizmente, não existe momento de maior entrega.
Duvido que exista alguém que não tenha fantasiado sobre seu enterro. Quem não gostaria de ser uma mosca para assistir à própria despedida? Na derradeira celebração, estaríamos em condições de avaliar a veracidade das lágrimas, estimar nossa importância para os outros. É também oportunidade de, por que não, deixá-los culpados, se por acaso isso nos satisfaz. Dizem que a mãe judia vai mandar gravar em sua lápide: “Eu disse que não estava me sentindo bem”. No enterro, nosso epitáfio está na boca de todos, cada presente oferece uma frase que nos definia, ou uma memória marcante do convívio, dirá em que lhe faremos falta. Enfim, parece o momento em que nossas maiores perguntas estarão por fim respondidas e não estaremos lá para ouvir. Pena.
O problema é que até esse momento, em que nosso ser transforma-se nas palavras dos que permanecem vivos, precisamos passar pela dura transição de morrer. Morrer costuma doer. Dói sentir-se esvair, é absurdamente triste ver-se partir, dói o corpo que colapsa. Tenho mais medo de morrer do que da morte. Talvez, se minha amiga tivesse tido tempo de escrever seu testamento vital, não escolheria outros termos para sua partida.
Há pouco, o mundo assistiu chocado ao suicídio do diretor de cinema Tony Scott, que pulou de uma ponte, dizem que após constatar que possuía uma doença incurável. Abisma-me semelhante ousadia, não só relativa ao ato em si, mas também de assumir essa posição frente aos seres queridos. Morrer é como sair de uma festa, cedo é constrangedor, tarde é melancólico, buscamos a hora certa e sempre ficamos com a sensação de ter errado o momento. Nunca faria um ato como o de Scott, pois o efeito dramático sobre os que ficam é avassalador, também é preciso zelar pela dor deles. Quando chegar a hora, só peço que me poupem de torturas desnecessárias e me deixem partir. Essa é minha vontade e creio que a de tantos.
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dianamcorso@gmail.com
*Psicanalista
Fonte: ZH on line, 30/09/2012
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