Hélio Schwartsman*
Muito interessante o exercício do Datafolha de
mensurar o conservadorismo/liberalismo da população paulistana. O
ligeiro excesso de pessoas com ideias mais à direita (34% contra 27%)
ajuda a explicar o fenômeno Russomanno, mas isso é só a ponta do
"iceberg".
Desde que a ciência começou a investigar a orientação política das
pessoas, há cerca de 40 anos, tivemos algumas surpresas. Para começar, o
papel do DNA é maior do que se suspeitava. Um estudo de John Hibbing de
2005 que envolveu mais de 8.000 pares de gêmeos nos EUA estimou que
genes respondiam por 53% da variação no perfil ideológico.
Cuidado, não se deve imaginar aqui que existe o gene do PT e o do PSDB. O
efeito é bem mais indireto. Fatores hereditários têm peso importante na
formação da personalidade, que é razoavelmente estável ao longo da vida
e determinante para definir como nos sentimos em relação a uma série de
questões como igualdade, justiça, autoridade, pureza -itens que
constituem a base da identidade moral de cada indivíduo.
Outro ponto interessante é que já quase dá para ver a coloração política
das pessoas em exames de neuroimagem. Um trabalho de 2011 de Ryota
Kanai mostrou que conservadores tendiam a ter amígdalas, estruturas
cerebrais envolvidas na memória das emoções, maiores e mais ativas. Já
liberais exibiam maior quantidade de massa cinzenta no córtex anterior
cingulado, que processa informações contraditórias. O conservador seria
assim um sujeito mais intuitivo e com baixa tolerância a incertezas. O
liberal, por seu turno, seria mais reflexivo. Não liga tanto se o mundo é
um lugar meio sem sentido.
O bacana aqui é que, como o voto é o resultado de interações complexas
entre indivíduo e sociedade, por mais que avancemos no entendimento do
cérebro ideológico e da política partidária, eleições, ainda que
encerrem alto grau de previsibilidade, sempre nos reservarão surpresas.
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* Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 25/09/2012
helio@uol.com.brImagem da Internet
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