Especialistas explicam que
a tradição das listas de promessas
para o ano que se inicia nasce do conflito
do ser humano com o tempo
Nos dias que precedem a chegada do 1º de janeiro sucessivas listas saem do papel. Desejos e projetos para o ano que se anuncia nascem enumerados um a um. A necessidade de refletir sobre o que passou e lançar o olhar adiante acompanha o ser humano há milênios. Às vésperas do Reveillón, sociólogos, filósofos e outros estudiosos do comportamento humano na Universidade de Brasília refletem sobre a necessidade de encerrar para começar tudo outra vez.
Agnaldo Cuóco Portugal, do Departamento de Filosofia, explica que a tradição das listas nasce do conflito do ser humano com o tempo, um drama que já aparecia nos textos da Grécia Antiga. “Esse anseio de viver em um tempo que não passa, de ser eterno, sempre existiu. Repetir todos os anos as mesmas comemorações é uma maneira de nos dar a sensação confortável de viver em um tempo que não passa. Todo ano comemoramos Natal, Reveillon, Carnaval e outras tradições”, afirma. "Ao mesmo tempo, sabemos que o tempo passa e então projetamos o futuro para, de novo, nos confortar", completa.
“Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça”, já dizia o escritor Mário Quintana.
Para Elimar Nascimento, professor do Departamento de Sociologia, as promessas sinalizam para a oportunidade de ser mais feliz ou mais eficiente, a depender dos valores de cada um. “No desligar você faz o balanço do que fez e do que deveria ter feito. É desligar-se para religar-se”, avalia.
CALENDÁRIO – Vicente Dobroruka, do Departamento de História lembra que desde os calendários babilônicos, por volta de 2800 a.C., até o calendário gregoriano, usado nos dias atuais, o Reveillón mudou de data muitas vezes. A primeira comemoração, chamada de “festival de ano novo” ocorreu na Mesopotâmia por volta de 2000 a.C. Na Babilônia, a festa começava com a chegada da lua nova indicando o início da primavera.
A comemoração do 1º de janeiro surge quando a Igreja Católica adotou o calendário gregoriano em 1582. Porém outros países não seguem o mesmo calendário. A China, por exemplo, tem como base o calendário lunar. Eles comemoram o ano novo no 23º dia do último mês lunar.
TRADIÇÃO – A passagem do ano no Brasil tem características de povos de vários países. O nome é francês, a comida geralmente é italiana e as oferendas às entidades do candomblé vêm da tradição africana. Além destes rituais, o Reveillón tem algumas tradições populares bastante enraizadas. Comer romã, guardar sementes de uva na carteira, vestir branco, pular sete ondas. Tudo para dar sorte e receber bem o ano novo que chega.
O ritual da roupa branca surge no Brasil por influência das religiões afro-brasileiras e também por estar associado ao desejo de paz, segundo Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UnB. “Para a Umbanda, a festa de Iemanjá, rainha dos mares, é comemorado na virada do ano. Quem vai ao mar fazer oferendas, está pedindo a divindade africana um ano de sucesso”.
Evelin Brito, 20, estudante do 6º semestre de Gestão em Saúde Coletiva da UnB Ceilândia, usa branco, come lentilhas e quando pode ir à praia, pula as sete ondinhas. “Faço não porque acredito. Escuto dos meus avós e mais velhos desde pequena. É como se fosse uma regra. Não sei se dá certo, mas prefiro não arriscar e entrar o ano com o pé esquerdo”, conta.
Conheça a origem de outras tradições.
-------------------------- Reportagem por Tatiana Alves - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.
Fonte: http://www.unb.br/noticias - Acesso 03/01/2012
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