Para Vidal, que concorrera sem sucesso ao Congresso e ao Senado
apenas depois de se estabilizar financeiramente como autor de roteiros
para a televisão e o cinema, nos anos 1950 e 1960, o presidente Bush
soubera dos ataques às Torres Gêmeas antecipadamente e os utilizara em
proveito político. Mesmo os que defendiam como superior a capacidade de
Gore Vidal de julgar a história, revelada em volumes como United States: Essays 1952-1992, negavam a validade de uma avaliação como essa e outras recentes.
Um consenso silencioso ditava ainda em Vidal um autor incapacitado
para a ficção, já que apenas saberia expor a exuberante opinião própria.
Mas como seria possível negar-lhe o dom de observar seu tempo com prosa
refinada e humor ácido? E, ao fim, ele escreveu grandes romances, como Juliano, sobre o imperador que tentou converter
os cristãos ao paganismo, e livros de senso balzaquiano como Kalki, no qual, por exemplo, durante uma reunião social, uma mulher com câncer exercia o status nascido da própria doença.
os cristãos ao paganismo, e livros de senso balzaquiano como Kalki, no qual, por exemplo, durante uma reunião social, uma mulher com câncer exercia o status nascido da própria doença.
Apoiado por uma convivência de 53 anos com Howard Auster, Vidal não
parecia se incomodar com o que diziam dele. O escritor Italo Calvino
acreditava que, morador da Itália por muitos anos e apresentado com
glamour em Roma, de Fellini, Vidal não tinha um inconsciente.
“Sou exatamente o que aparento ser”, justificou o americano. “Não há uma
pessoa amável, cálida, dentro de mim. Por trás de meu frio exterior,
depois que você quebra o gelo, encontra água gelada.”
Ele não deixava que se esquecessem de sua amizade com Eleanor
Roosevelt ou de seu parentesco com Jackie Kennedy. Parecia apoiar-se em
boa linhagem para dizer as coisas difíceis a um país que, aos poucos,
perdia o senso de humor e a liberdade.
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*Rosane Pavam é jornalista, editora de Cultura de CartaCapital . Autora
do livro O Sonho Intacto - Nas Palavras de Ugo Giorgetti e do blog
Contos Invisíveis.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/cultura/o-arauto-do-declinio/?autor=24
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