quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Elizabeth Bishop: ‘a arte de perder não é nenhum mistério’

article image

O livro 'Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop' reúne os principais poemas da autora, alguns inéditos em português

Elizabeth Bishop (Worcester 1911 — Boston 1979) é considerada uma das maiores poetisas do século XX. Com uma capacidade extraordinária de observação psicológica e subjetiva para descrever a textura do mundo, lugares e animais, Bishop escreveu sobre temas como o tempo, a memória, a natureza e o amor.
Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop, Companhia das Letras, 416 páginas, R$ 43,50, com seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto, reúne os principais poemas da autora, alguns já traduzidos por Britto como “Poemas do Brasil” e “O Iceberg Imaginário e Outros Poemas”. A antologia apresenta também 17 poemas ainda inéditos em português.
Entre eles alguns foram publicados postumamente como o lindíssimo poema que encerra o livro, “É Maravilhoso Despertar Juntas…”: 

“É maravilhoso despertar juntas
No mesmo minuto, maravilhoso ouvir
A chuva começando de repente a crepitar no telhado.
Sentir o ar limpo de repente
Como se percorrido pela eletricidade
Numa rede negra de fios no céu.
No telhado, a chuva cai, tamborilando.
E cá embaixo, caem beijos brandos…
Tal como o ar muda ou o relâmpago cai sem piscarmos.
Como estão mudando nossos beijos sem pensarmos.”

Em 1951, com o dinheiro de uma bolsa, Bishop fez uma viagem pela América Latina, que foi interrompida no Rio de Janeiro em razão de uma forte crise alérgica. Recuperando-se na casa de Lota de Macedo Soares, as duas se apaixonaram e passaram a viver juntas na casa de Lota em Samambaia, perto de Petrópolis. Em 1960, voltaram para o Rio de Janeiro onde Lota, a convite do recém-eleito governador Carlos Lacerda, assumiu a coordenação das obras do parque do Aterro do Flamengo. A partir dessa época, as relações entre as duas ficaram cada vez mais difíceis. Quando Bishop publicou seu terceiro livro, Questions of Travel, ela decidiu retornar aos Estados Unidos. Em 1967, Lota lhe fez uma visita em Nova York e suicidou-se, morrendo, após um período de coma, em seus braços.
A obra de Elizabeth Bishop sofreu uma grande influência do Brasil, país onde morou por quase vinte anos, como revelam, por exemplo, os poemas “Brasil, 1º de Janeiro de 1502”, “Manuelzinho”, “O Ribeirinho”. Além disso, traduziu poemas de Drummond, João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes, entre outros, assim como Minha vida de menina, de Helena Morley. Ganhou o prêmio Pulitzer em 1956; o National Book Award em 1969 e, por fim, em 1976 foi a primeira mulher a receber o importante prêmio literário Neustadt for Literature. Pouco tempo depois de ganhar o prêmio, Bishop publicou seu último livro, Geography III, uma pequena coletânea que contém algumas de suas obras-primas.
O sentimento profundo de orfandade, o alcoolismo e o homossexualismo, seus companheiros ao longo da vida, imprimiram um lirismo pungente à sua obra. Mas como escreveu Paulo Henriques Britto em um dos textos introdutórios do livro, “como todo poeta lírico, Bishop toma sua própria experiência individual como matéria-prima; como todo artista maior, com base nesse material pessoal ela cria obras cujo interesse vão além do puramente autobiográfico e pessoal”. Este livro é um mergulho fascinante na literatura de poesia e no mundo complexo de Elizabeth Bishop.
--------------------
Reportagem  por Marisa Motta
Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/elizabeth-bishop-a-arte-de-perder-nao-e-nenhum-misterio/

Nenhum comentário:

Postar um comentário