terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Beber (perdão), dormir para esquecer? Há um estudo que diz que sim

© Andreia Reisinho Costa

Há um estudo de dois biólogos da Universidade de Wisconsin-Madison que tenta comprovar que dormimos para o cérebro poder selecionar as memórias do dia. Mas há quem tenha dúvidas.
  • Ana Pimentel
Para poupar energia, limpar o desperdício celular do cérebro ou escondermo-nos dos predadores. Quando a pergunta é “por que motivo dormimos?”, não faltam teorias para a resposta. A mais recente é simples (e nada tem a ver com a ingestão de bebidas alcoólicas): afinal, dormimos para esquecer. Ou, pelo menos, para esquecer algumas das coisas que absorvemos durante o dia.

Dois biológos da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, explicam que, para conseguirem aprender, os seres humanos precisam de fazer crescer as ligações – as sinapses – entre os neurónios que têm no cérebro, porque são elas as responsáveis por uma emissão rápida e eficiente de sinais entre os neurónios. É lá que guardamos as nossas memórias.

O estudo de Giulio Tononi e Chiara Cirelli foi publicado na revista Science (e citado pelo The New York Times) na quinta-feira, mas os biólogos começaram a trabalhar nesta hipótese em 2003. Descobriram que, durante o dia, estas sinapses crescem de forma tão exuberante que os circuitos do cérebro ficam cheios de “ruído” e que, quando dormimos, o cérebro repara estas ligações para elevar o sinal sobre o ruído.

Há quatro anos, Giulio Tononi e Chiara Cirelli testaram a teoria em ratos de laboratório, juntamente com a cientista assistente Luisa de Vivo. Descobriram que as sinapses no cérebro dos ratos que estavam a dormir eram cerca de 18% mais pequenas do que as que existiam no cérebro dos acordados.

Houve mais investigações e mais testes em laboratório, mas também alertas para o tema. Alguns investigadores chegaram, inclusive, a afirmar que não havia provas suficientes para sustentar a teoria. O investigador do sono Marcos G. Frank, que trabalha a partir da Washington State University, disse que era difícil assegurar que as mudanças percecionadas pelos cientistas nos cérebros eram causadas pelo sono ou pelo relógio biológico. “É um problema comum nesta área”, disse.

Já Markus H. Schmidt, do Ohio Sleep Medicine Institute, questionou, também, se esta seria a principal explicação para o facto de o ser humano precisar de dormir: “Este trabalho está ótimo, mas a pergunta que devemos fazer é: é esta uma função do sono ou é a função?”. O investigador explicou que, além do cérebro, existem outros órgãos a trabalhar enquanto dormimos e que podem interferir no processo de seleção das memórias.

Estima-se que, no futuro, a medicina do sono possa identificar com precisão as moléculas que estão envolvidas no sono e que asseguram que estas sinapses são aparadas. “Assim que se souber um pouco sobre o que acontece no terreno de base, podemos ter uma ideia melhor do que fazer para encontrar uma terapia”, explicou Giulio Tononi.
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Fonte: http://observador.pt/2017/02/06/beber-perdao-dormir-para-esquecer-ha-um-estudo-que-diz-que-sim/

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