domingo, 29 de abril de 2018

A luz da vida

Lya Luft*
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Impressionante como somos vulneráveis às más notícias, aos horrores do mundo, que se derramam em nossa casa, em nossa vida, em nossa alma, o tempo inteiro. Quase esquecemos as coisas boas, belas e felizes, que também existem. 

No meu tempo de Escola Normal, as freirinhas do colégio diziam que "o bem murmura, o mal grita". Ou que "na outra vida veremos o verdadeiro risco do bordado, aqui só vemos o lado avesso, cheio de fios cruzados e nós e imperfeições". 

Certamente, alguma coisa dessas cândidas lições ficou e floresceu em mim, pois, apesar de tudo, do mundo lá fora e das rasteiras da vida, da sorte, da morte, acho que sou uma otimista. Acredito que a vida vale a pena. Acredito que o amor ilumina. Acredito que boas amizades são ótimas porque amizade não conhece ciúme, competição, cobrança, nem precisa de assiduidade para durar.
Enfim, acredito no bom e no bem, mesmo que eu também saiba, veja, sinta, observe que somos animais. Animais não muito bons: não passarinhos, borboletas, golfinhos, cachorrinhos amorosos ou gatos indolentes, mas bichos predadores mesmo. 

Assim nem preciso escrever, como comentei na coluna passada, sobre a animalização dos humanos. Está aí, exposta e escrachada, na violência, na maldade, na futilidade criminosa, na insanidade geral e na irresponsabilidade mortal. Também nas pequenas picuinhas e maldades cotidianas, com que às vezes, tantas vezes, tratamos os outros. Na irresponsabilidade com que muitos governantes manejam seu país e sua gente. Na indigência (Vicente gosta dessa palavra...) mental e moral de tantos líderes, até em setores antes sagrados. Tudo isso que nos deixa perplexos, embasbacados, impotentes, inseguros e desamparados. 

De modo que, sim, nos falta encontrar, cultivar, manter e curtir aquelas coisas, às vezes simplíssimas, que são a luz da vida. Um olhar de afeto, um sorriso alegre, um gesto de entendimento, um WhatsApp dando coragem, ou uma visita que nos anime, seja o que for, nos ilumina se nos abrirmos para isso tudo, que parece pouco, mas é tudo. Borboletas azuis no jardim do bosque na Serra, o tucano pousado bem baixinho, os bugios com filhote nas costas saltando nas árvores, as paineiras diante da janela aqui em Porto Alegre e, nestes dias, a minúscula cachorrinha, nossa nova bebê, que ia se chamar Pandora, mas rebatizei de Penélope: melhor de pronunciar, e sou fã da Penelope Garcia do Criminal Minds. (Ou vocês achavam que só assisto a filme cult e só leio Goethe?) Ainda tem quem se espante de me encontrar em lugares normais como caixa de supermercado: "Nunca imaginei ver a senhora num supermercado!". "Ué", respondo pela centésima vez, "minha família também come...". 

Fim para as ilusões, que venha a real luz da vida, rara e essencial.
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* Escritora
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