segunda-feira, 9 de abril de 2018

Le Monde comenta prisão de Lula

 Juremir Machado da Silva* 
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O tão esperado e comemorado por muitos aconteceu: Lula está preso.

Talvez nunca antes na história deste país se tenha soltado foguete pela prisão de um homem. Os ansiosos tiveram de suportar 26 horas de 50 horas de espera até Lula se entregar à Polícia Federal. Uma decisão do juiz Sérgio Moro frustrou expectativas: não foi possível usar algemas. Não é que Lula pudesse representar perigo, mas, do ponto de vista da sociedade do espetáculo, no entender de parte da população, a imagem, a foto, ficaria muito melhor. O que vem agora? O que vem por aí?

O jornal francês “Le Monde” publicou editorial, espaço reservado para os assuntos mais importantes, sobre esse desfecho e sobre o futuro com um título de romance: “A desgraça de um presidente”. No texto, uma frase soa épica: “Grandeza e decadência de uma nação. Graça e desgraça de um Estadista”. O jornal louva o combate à corrupção da Lava Jato, mas se permite algumas observações: “A operação deve demonstrar ao país que a prisão de Lula não é um ato político. Que a prisão daquele que permanecerá como um dos líderes mais notáveis do país não significa o fim das ações. Depois de atingir figuras do Partido dos Trabalhadores até chegar ao seu líder histórico, a ‘Lava Jato’ deve atacar com igual severidade os outros caciques dos partidos do centro ou da direita”. Vai fazer isso?

O célebre e influente jornal francês, um dos mais respeitados do mundo por sua seriedade e por sua coragem, questiona as diferentes velocidades de investigação no contexto mais amplo das instituições brasileiras: “Aécio Neves, candidato à presidência em 2014 contra Dilma Rousseff, é suspeito de corrupção passiva e obstrução da justiça. Mas seu caso ainda não foi examinado pela Suprema Corte, apesar do pedido da Procuradora-Geral da República (…) há várias acusações contra Michel Temer. Mas estas permanecem bloqueadas pelo Congresso Nacional”. Vale lembrar quando o STF quer ele quebra o “foro privilegiado”. Exemplos não faltam. Quando não quer, deixa o parlamento decidir.
A abertura do editorial certamente não agradará a muitos brasileiros: “A tentação é grande de confundir o destino de Luiz Inácio Lula da Silva com o do Brasil. Uma nação emergente que, sob a presidência do ex-sindicalista, entre 2003 e 2010, embriagada de petróleo e empanturrada de soja, cana-de-açúcar e café, reduziu drasticamente a desigualdade, melhorou a educação e brilhou no cenário internacional. Hoje, o país está retornando à extrema violência, a miséria persiste, enquanto escândalos de corrupção pontuam as notícias políticas”. A prisão de Lula suscita reflexões quase por toda parte.

O jornal francês de direita, “Le Figaro”, escreveu: “Quando deixou o cargo em 1º de janeiro de 2011, Luiz Inácio Lula da Silva estava no auge de sua popularidade. Ao final de seus dois mandatos de quatro anos, oito em cada dez brasileiros tinham uma opinião favorável do ex-torneiro mecânico, que reduziu as desigualdades mais flagrantes, presidiu um forte crescimento e impôs o gigante sul-americano no cenário mundial”. Não se vive de passado, mas se pode morrer dele. Pelo jeito, Lula continuará sendo odiado e amado com intensidade. No STF a batalha vai continuar. Nesta quarta-feira terá jogo de novo?

Rosa Weber decidirá. Outra vez.

Consta que 15 dias antes de votar contra Lula em nome da colegialidade, ou seja, da jurisprudência em vigor desde 2016, ele votou em favor de um HC alegando que seria preciso esperar o julgamento das controversas ADCs 43 e 44, as ações declaratórias de constitucionalidade para saber se pode ou não prender depois da segunda instância. A rosa não tem porquê. Ou tem? Ainda saberemos.
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*Jornalista. Sociólogo. Escritor. Coordena o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS. Apresenta diariamente, ao lado de Taline Oppitz, o programa Esfera Pública, das 13 às 14 horas, na Rádio Guaíba. Colunista do Correio do Povo.
Fonte:  http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2018/04/10781/le-monde-comenta-prisao-de-lula/

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