A proposta do livro Alfabeto: cada letra do alfabeto inicia um fragmento
de versos variados. Em relação ao K e ao W, Valéry pede desculpas, eram
letras muito incômodas. Assim, a tradução para o português de Tomaz
Tadeu respeita a primeira letra nos mais de 24 fragmentos (G, J, M, O, T
se repetem)
A princípio será o sono, o silêncio, a ausência, o tempo.
Braços e pernas encolhidos, a ausência regressa.
Como é possível que se ouse adormecer diante dessa fraqueza existencial?|
De pé, de pé!
Existência, todas as coisas existem neste exato momento e existem como se não existissem.
Faz tornar puramente possível tudo o que existe.
Grande é a impaciência.
Há em vós algo que é igual ao que vos ultrapassa.
Inspirar, expirar. Já não sei o que vejo, já não sei o que penso, já não sei o que sou.
Lentidão, carregada de cargas invisíveis.
Mesmo passo, lado a lado.
Numa ausência dolorosa de olhares.
Ouvimos e nos calamos.
Profundo é o silêncio agora, feito de nós dois.
Que palavra tão vazia: alma.
Reduzido em organismo tão frágil é o homem, refugiando-se na existência.
Silêncio nos separa, silêncio nos une.
Tristes sombras dos pensamentos…
Uma dor atravessa a substância do presente.
Vem, é preciso sucumbir enfim.
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Fonte: http://www.artnativa.com/literatura/como-e-possivel-que-se-ouse-adormecer/
Foto: Valéry em sua biblioteca.
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