Paulo Yokota*
O site do The Economist já antecipa o artigo sobre o Brasil
que deverá sair no próximo número que leva a data de 18 de agosto.
Afirma que chegou a hora da verdade para a Dilma, que terá que cortar o
custo Brasil, para que a economia brasileira saia do atual crescimento
modesto. Cita Warren Dean, um historiador econômico que há cerca de um
século afirmou que o comércio exterior brasileiro aparenta limitado às
commodities em que as vantagens comparativas esmagadoras compensam os
elevados custos de produção e comercialização, bem como altos impostos.
Que tanto o governo como o setor privado não dá a devida atenção à
competitividade. A renomada revista internacional afirma que ainda hoje
esta realidade parece válida.
O crescimento elevado observado na última década no Brasil deveu-se a
demanda chinesa de minério de ferro, soja e seu óleo, que permitiu
elevados salários e créditos que permitiram aumentar o poder de compra
de milhões de brasileiros. Poderia se acrescentar que o desenvolvimento
que ocorreu no mundo também beneficiou o Brasil, que nada fez de
especial que elevasse a sua competitividade. Depois de superar as
dificuldades decorrentes de 2008 com uma ampliação da demanda interna,
agora o Brasil vem cortando suas taxas de juros e desvalorizou o seu
câmbio, ofereceu incentivos localizados e créditos, procura um
crescimento do PIB de 4,5% ao ano para o futuro próximo. Mas as medidas
tomadas de ampliação de sua demanda interna no passado não proporcionam
maiores efeitos, pois os consumidores brasileiros necessitam pagar pelos
empréstimos contraídos.
A economia mundial, com seu baixo crescimento, também não
favorece mais o Brasil. Tornou-se mais barato importar, por exemplo, o
aço da Coreia com o minério brasileiro a produzi-lo no Brasil, segundo
Carlos Ghosn.
Segundo o The Economist, existem muitas razões para tanto. Um
que a carga tributária atingiu os níveis europeus de 36%, mesmo que os
serviços prestados pelo governo sejam bem inferiores. Delfim Netto
aponta que os investimentos públicos privados brasileiros eram de cerca
de 4% do PIB, quando a carga era de 25%, e agora está reduzida a menos
de 2%, mesmo com a elevação dos impostos. Entre 2003 a 2010, os salários
do setor público tiveram acréscimos de 50% reais provocando a elevação
das despesas públicas, sem que benefícios adicionais fossem oferecidos à
população e ao setor privado. Também foram elevadas as pensões e o
salário mínimo.
Parece que a presidente Dilma Rousseff entendeu o problema, segundo a
revista, ficando consciente da necessidade de mudanças. Ela vem
estimulando as privatizações que começaram no setor dos aeroportos e
agora se estende às rodovias e às ferrovias, devendo chegar aos portos,
assunto que é tratado na revista em outro artigo. Mas existem
preocupações com a inflação, mesmo que a economia esteja sendo
beneficiada novamente por bons preços das commodities agrícolas.
Existem conversas sobre a redução de impostos e custo da energia, bem
como custos relacionados com as folhas de pagamento. Para que tudo isto
seja feito sem o aumento do déficit público, ela necessita diminuir os
gastos públicos. É preciso reduzir a aposentadoria precoce, bem como
resistir às pressões com as greves para aumentar os salários do setor
público. Tudo isto ajuda, mas provoca efeitos de prazo mais longo,
quando há necessidade de um crescimento imediato.
Dilma Rousseff, segundo a revista, necessita tomar medidas cruciais
nos próximos meses, evitando o crescimento do setor público.
Restabelecer a competitividade da economia brasileira depende de
decisões duras, que podem ser o melhor caminho para a conquista de um
segundo mandato.
Certamente, existe um conjunto de outras medidas a serem tomadas, mas
é preciso estar consciente que milagre não existe e tudo vai exigir
sacrifícios e muitos trabalhos persistentes, mas o final de 2012 como
2013 pode ser ajudado ainda pelos elevados preços das commodities
agrícolas que ajudarão o setor rural. Mas,, para um desenvolvimento
sustentável de prazo mais logo, há que se conquistar a competitividade
do setor industrial e de serviços, com empregos da melhor qualidade.
Educação, saúde, pesquisas ainda serão necessárias, com a ajuda do
setor privado nacional e estrangeiro, que necessitam de perspectivas de
retornos razoáveis para os seus investimentos.
-------------------
* Paulo Yokota, economista brasileiro (dupla
nacionalidade japonesa), ex-professor da USP, ex-diretor do Banco
Central do Brasil, ex-presidente do INCRA. Viveu e trabalhou nestas
regiões. Foi comissário do governo brasileiro, temporariamente, na Expo
Tsukuba 85. Supervisionou os escritórios de uma trading brasileira na
Ásia. Viajou para lá mais de uma centena de vezes. Percorreu por
lugares mais afastados de alguns destes países de ambas as regiões. Tem
alguns livros publicados e centenas de artigos escritos sobre o
intercâmbio entre estas regiões. Fez parte de alguns Conselhos que
cuidaram deste intercâmbio, inclusive para o século XXI. Procura estar
sempre atualizado sobre a Ásia. Viajou e trabalhou também pela Europa e
a América do Norte, acumulando elementos para comparações. Ele contará
com a colaboração de outros amigos com a vivência e experiência
similares.
Fonte: http://www.asiacomentada.com.br/2012/08/the-economist-afirma-que-a-hora-da-verdade-para-a-dilma/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+AsiaComentada+%28Asia+comentada%29
Nenhum comentário:
Postar um comentário