segunda-feira, 3 de setembro de 2012

“A pesquisa não dita a última palavra”

Márcia Cavallari Nunes, diretora executiva do Ibope

Formada em Estatística pela USP, a diretora executiva do Ibope, Márcia Cavallari Nunes, 53 anos, é uma veterana das pesquisas eleitorais e conhece seus limites como ninguém. Em três décadas de trabalho no instituto, perdeu as contas de quantos levantamentos comandou.
– A pesquisa é um diagnóstico, não um prognóstico. A gente não obriga o entrevistado a assinar um papel dizendo que não vai mudar de opinião – brinca.

A seguir, confira os principais trechos da entrevista concedida a Zero Hora na última sexta-feira.

Zero Hora – Qual é a metodologia utilizada pelo Ibope nas pesquisas eleitorais?
Márcia Cavallari Nunes – A única metodologia que assegura que você de fato atinge o eleitorado é aquela que envolve entrevistas face a face. Existem duas formas de fazer isso: nos domicílios ou em pontos de fluxo. O Ibope coleta as informações nos domicílios. Selecionamos os setores censitários para aplicar as entrevistas, e nossos entrevistadores abordam apenas os moradores que têm título eleitoral e que votam na cidade.

ZH – Os entrevistados representam a totalidade dos eleitores?

Márcia – Sim. Quando a gente faz uma amostra, o objetivo é esse. Se você faz um exame de sangue, não precisa tirar o sangue inteiro. Basta tirar uma amostra. A ideia é que você consiga uma amostra tão representativa que, através dela, seja possível estimar o que todos fariam se você pudesse entrevistar todos. O segredo, para isso, é assegurar que a totalidade dos grupos sociais e que todas as regiões geográficas da cidade estejam representados na amostra, em proporção semelhante à existente no universo.

ZH – Quais são os limites da pesquisa eleitoral?

Márcia – A pesquisa é um diagnóstico e não um prognóstico. Deve ser lida no contexto no qual foi realizada, porque a opinião pública é dinâmica e responde aos estímulos que recebe durante a campanha. A gente não obriga o entrevistado a assinar um papel dizendo que não vai mudar de opinião até o dia da eleição. Por isso, a pesquisa não é infalível e não dita a última palavra. Serve apenas para apontar tendências. Não deve ser usada para projetar o futuro.

ZH – Pesquisa influencia voto?

Márcia – No mundo inteiro, não existe nenhum estudo que confirme que o eleitor é influenciado diretamente pelo resultado de pesquisa. Se existisse mesmo essa influência maléfica, no sentido de que todo mundo vota de acordo com ela, nunca haveria viradas. E não é isso que a prática mostra. A pesquisa acaba sendo uma informação a mais para o eleitor. E faz parte do processo democrático o eleitor ter o maior número possível de informações.

ZH – Por que o Ibope não apresenta aos entrevistados o candidato junto com o partido?

Márcia – Porque a gente acredita que essa é uma informação que o eleitor aprende ao longo da campanha. Quando você começa as pesquisas, o eleitor ainda não está no clima da eleição. Se você coloca isso, você está dando uma informação privilegiada apenas para a sua amostra. Se o objetivo da amostra é representar a população como um todo, acredito que não temos de dar essa informação.

ZH – O Ibope realiza pesquisa para candidatos e partidos?

Márcia – Sim. A gente faz para todos. Não damos exclusividade para nenhum. E tem uma diferença grande entre as pesquisas feitas para os candidatos e partidos e para os veículos de comunicação. No caso dos veículos, o objetivo é informar o cidadão. Então, as pesquisas são bem mais objetivas, curtas. Para candidatos, o objetivo é mais estratégico. Não visa só a auferir a intenção de voto.
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Reportagem POR JULIANA BUBLITZ
Fonte:  http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3872987.xml&template=3898.dwt&edition=20328&section=1007

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