Paulo Ghiraldelli Jr.*
Há
um erro profundo no desejo de lidar com a liberdade como alguma coisa
do âmbito da teoria. Sabemos o que é a liberdade quando a perdemos.
Agora, na prática, ou seja, no campo da vida moral, aí sim é que compreendemos a
liberdade. Nesse caso, trata-se de um exercício e de uma experiência
constante. É o que conta para Sartre, ao dizer que o homem está cativo
da liberdade. Sim, pois a liberdade se manifesta na decisão e o homem,
afinal de contas, tem de decidir a todo instante. Quando diz não
decidir, também já tomou uma decisão. Não pode não decidir e exatamente
por ir de decisão em decisão perpetua sua liberdade.
Mas a questão de Sartre é ainda maior. A
cada decisão o homem projeta uma sua vontade no mundo e, então, faz
algo mais ou menos com a jurisprudência: deixa gravado um sulco no mundo
que um novo caminho. A partir daí toda a humanidade tem todos os
caminhos já abertos e mais este caminho recém sulcado. A humanidade
ganha com a liberdade de um homem mais possibilidades de decisões e,
então, amplia seu leque de liberdade. Assim, a liberdade de cada um, uma
vez exercida e, enfim, só existente porque exercida, amplia a liberdade
de todos.
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* Filósofo. Prof. Universitário. Escritor.
Fonte: http://ghiraldelli.pro.br/2012/09/07/liberdade/
Imagem: Pássaro da Liberdade- 1975. Por Clarice Lispector
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