Enio Rodrigo*
O resultado é de uma pesquisa canadense, publicada no periódico Human Relations, que acompanhou profissionais de saúde em ambientes onde o bullying ocorria contra colegas de trabalho. Os profissionais que trabalhavam juntos com esses alvos de bullying eram, de acordo com seus relatos, tão ou mais impactados por este tipo de violência.
“As empresas que não coíbem, ou fazem de conta que o problema não
existe, têm muito a perder, pois o número de pessoas impactadas pelo bullying não
se limita àquelas que são agredidas por colegas ou chefias”, explica
Marjan Houshmand, um dos autores do estudo feito pela Universidade da
Colúmbia Britânica, no Canadá.
O estudo partiu da análise de dados coletados de mais de 350
profissionais da área de saúde em 41 hospitais diferentes, o que indica
também que o problema não é algo pontual, mas mais comum nos ambientes
de trabalho do que se imagina.
De acordo com os pesquisadores, os alvos das agressões têm
pensamentos constantes de sair da empresa e irem para outros locais,
assim como aqueles que presenciam os bullies (quem comete o ato
de agressão) também são mais propensos a isso. Mesmo empregados que
trabalham em outras áreas longe de onde o bullying ocorre – e ficam sabendo dos atos por meio de terceiros – também engrossam as fileiras do chamado turnover (um jargão usado para indicar alta rotatividade de empregados dentro de uma empresa).
Turnover custa caro
O turnover é custoso, já que os investimentos feitos no
empregado (ajustes às escalas e métodos de trabalho, cursos, integração à
nova equipe) são altos e acabam aumentando ainda mais quando há
necessidade de retomar a formação de um novo empregado. Além disso, um
ambiente de trabalho onde o bullying ocorre acaba sendo visto
por novos candidatos como um local negativo, o que afasta bons
profissionais ou atrai o tipo de trabalhador que precisa apenas de um
local de trabalho temporário enquanto procura lugares melhores para se
trabalhar.
“O índice de turrnover pode ser previsto pelo nível de episódios de bullying
no ambiente profissional. E o mais interessante é que os
administradores preferem acreditar que um bom ambiente de trabalho é
aquele que traz boas experiências pessoais para o trabalhador. Mas nosso
estudo mostra que, mesmo que o empregado não seja alvo de agressões,
ele tende a simplesmente esquecer tudo de bom que a empresa possa ter
oferecido anteriormente. Isto é muito ruim para as empresas e
administradores”, diz Houshmand.
Os trabalhadores não impactados indiretamente pelo bullying,
em hipótese, se sentem indignados com o que ocorre com os outros e
também tendem a achar que o que ocorre não é justo, responsabilizando a
empresa pela situação (o que não está errado).
Isso, dizem os pesquisadores, pode se tornar um círculo vicioso e
apenas os profissionais com menos empatia por outras pessoas acabam se
estabilizando no emprego. No longo prazo, o ambiente de trabalho acaba
sendo formado apenas por profissionais com pouco ou nenhum trato
pessoal, pouco empáticos – não se propõem a ajudar em problemas alheios e
não se envolvem com os companheiros de trabalho – e que tendem a
trabalhar de forma individual em detrimento do grupo.
“Aqueles com maior senso de justiça e que ficam nesse tipo de
organização também podem se tornar um problema, já que podem passar a
desafiar constantemente as ordens que lhe são passadas, não se sentindo
na obrigação de cumprir metas e mesmo trabalhar contra a empresa como
forma de ‘vingar’ seus colegas agredidos”, finaliza o pesquisador.
(O que eu tenho) -------------------
*Jornalista.
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/ 01/08/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário