Gianni Carta*
Até que ponto é real a religiosidade de Vladimir Putin? Certamente
ele segue o exemplo do ex-presidente Boris Yeltsin, de quem era protégé. Yeltsin demonstrava sua fé em todos os eventos da Igreja Ortodoxa.
Mas, esses comunistas convertidos em “democratas” do mercado livre,
cuja fé outrora era aquela por uma religião secular, o comunismo,
conhecem as tradições do cristianismo?
Por sua vez, a Igreja Ortodoxa russa, que reemergiu após o colapso do
comunismo, como ela age nessa contenda contra a banda punk Pussy Riot?
Como nos tempos da Inquisição. Três das moças da banda foram condenadas a
dois anos de cárcere por blasfêmia e “hooliganismo e incitação ao ódio
religioso”.
Russos ortodoxos concordam que as moças foram imaturas ao cantar uma
“oração” na qual pedem para a mãe de Deus tirar Putin do Poder. Mas dois
anos de cana por uma canção de 30 segundos na Catedral de Cristo, o
Salvador, em Moscou, não seria uma pena excessiva?
As moças, ressalte-se, queriam, além de se desfazer de Putin, mostrar
como a Igreja Ortodoxa apoia o presidente, inclusive no pleito
presidencial manipulado de março. Se nos tempos do comunismo a Igreja
Ortodoxa era, como a Igreja Católica na Polônia, respeitada por se opor
ao regime ditatorial, hoje ela é contrária a qualquer ideia liberal. Na
condenação das três moças da Pussy Riot venceram as forças religiosas
mais obscuras.
Ficou claro outro fato: a Igreja Ortodoxa fecha-se em copas com o poder, ou seja, com Putin.
A Rússia, sejamos claros, e para a ira de uma pseudo e arcaica
esquerda brasileira que vê em Putin uma espécie de ícone para combater o
Ocidente ainda (embora por pouco tempo) dominado pelos EUA, está longe
de ser um Estado de direito. Disse Nadejda Tolokomnikova, da Pussy Riot:
“Não há tribunal, é uma ilusão”.
De fato, o sistema judiciário russo é uma piada, visto que tribunais
não estabelecem a verdade. Tribunais, como a Igreja Ortodoxa, obedecem
ao Kremlin, e, por tabela, a Putin.
Os dois anos de prisão para Tolokomnikova, Yekaterina Samutsevitch, e
Maria Alyokhina, todas com menos de 30 anos, representa a crise do
poder do Estado russo.
Putin, reeleito presidente três vezes, e, no meio tempo, foi premier
para poder forjar uma lei para ser reeleito pela terceira vez, não passa
de um ditador. Ele oprime seus opositores, sejam eles empresários,
jornalistas, militantes políticos e até ONGs. E, como todo homem formado
pela KGB, sua tática-mor é instilar o medo.
As três sorridentes moças da Pussy Riot são heroínas.
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* Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas
Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas
Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S.
Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.b
Foto: As Pussy Riot Nadezhda Tolokonnikova, Maria Alyokhina e Yekaterina Samutsevich, presas por protestar dentro da igreja Foto: AFP
Fonte: Carta Capital on line. 18/08/2012
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