Marcelo Gleiser *
Será o nosso Universo só um entre uma
multidão de outros, todos parte
de um multiverso eterno?
É bom começar explicando esse título que, sem dúvida, deve parecer estranho aos não especialistas.
A ideia é que nosso Universo (com "U" maiúsculo) é só um entre uma
multidão de outros universos, todos parte de um multiverso que pode ter
existido por toda a eternidade.
Com isso, o que chamamos de Big Bang seria apenas o evento que marcou o
início da nossa narrativa cósmica. Outros universos teriam os seus big
bangs e as suas histórias.
Existem vários tipo de multiverso, mas todos têm essa característica em
comum, de serem genitores de universos. Por exemplo, algumas teorias
sugerem que as leis da natureza podem variar de região a região no
multiverso. Nesse caso, diferentes universos poderiam ter diferentes
leis da física. No momento, essas teorias são mais metafísicas do que
físicas.
Em outras teorias, os diferentes universos têm as mesmas leis, mas as
constantes da natureza (a massa e a carga do elétron, a massa do próton,
a constante que determina a intensidade da força da gravidade etc.) é
que variam.
Esta última hipótese vem da teoria de supercordas, a tentativa de
construir uma teoria de todas as forças da natureza (são quatro ao
todo), a chamada "Teoria de Tudo".
No momento, não temos qualquer indicação de que o multiverso possa
existir. Ou, se existir, se poderemos determinar sua existência. É
possível que exista apenas o nosso Universo e ponto final. Porém, se for
este o caso, temos o problema de explicar por que esse Universo e não
outro. Especialmente se levarmos as previsões da teoria de supercordas a
sério e concluirmos que o multiverso é inevitável e que um número
enorme de universos existe, cada qual com suas constantes físicas e,
portanto, com uma física diferente.
Universos como o nosso são comuns entre eles ou raros? Como determinar isso?
Uma resposta óbvia é que, se nosso Universo não existisse, não
estaríamos aqui nos perguntando sobre sua existência. Ele existe e
pronto. Mas essa resposta não é muito satisfatória, pois estamos
programados para buscar explicações finais, narrativas que justifiquem o
começo, o meio e o fim de uma história.
É difícil imaginar algo que não tenha tido um início, como o temos nós e
todas as formas de vida. Mais difícil ainda é imaginar que algo possa
surgir sem uma causa inicial.
A existência ou não do multiverso, para que seja uma questão científica e
não filosófica ou teológica, precisa ser determinada experimentalmente,
por alguma observação.
No momento, existem tentativas de fazer isso, estudando o efeito sobre
dois universos vizinhos que tivessem sofrido uma colisão no passado.
Infelizmente, esses modelos ainda são bem simples, e está faltando muita
coisa.
Um dos problemas que a ciência enfrenta com esse debate é a questão do
infinito. Se teorias afirmam que o multiverso existiu e existirá para
sempre, como comprovar isso? Mesmo com o nosso Universo e seu futuro:
para determinar se ele existirá para sempre, precisaríamos de um
experimento que durasse também para sempre.
A crise aqui vem da colisão entre conceitos como o infinito e as
limitações concretas da passagem do tempo da qual a ciência, enquanto
obra humana, prescinde.
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Estou propenso a acreditar que exista outras vidas e outros universos, fora este do qual fazemos parte . Interessante está matéria .
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