segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O baile da indiferença

Priscila Pasko*

O instantâneo e o instável. Ainda que no calor da hora, a arte tenta traduzir a angústia cantando o sofrimento e exorcizando a solidão do homem contemporâneo.
Falta amor. Falta tempo. Ao que tudo indica, parece que o homem contemporâneo anda em déficit consigo mesmo. Passa-se em branco apesar de tanto ruído, de tanto barulho.
Sem espaço para perplexidades e reflexões profundas, tenta-se diagnosticar comportamentos dissonantes em uma época assimétrica. Desencaixe entre o ideal e a teoria volátil.
Ainda que no calor da hora, a arte tenta traduzir a angústia cantando o sofrimento e exorcizando a solidão de apartamentos de um dormitório, o engarrafamento da cidade e o tempo escasso, que se esvai, que escapa, que foge. 

“Tem que correr, correr
tem que se adaptar
tem tanta conta e 
não tem grana pra pagar” 

é o que diz a música Dois cafés, da brasileira Tulipa Ruiz. Pode-se dizer que ela - uma das grandes revelações entre os jovens compositores do País - tenta expor em suas canções o drama do homem-anos-2000. E, neste caso, é o urbanismo que sufoca e disputa espaço com o sossego.

Ainda que se trate de outro perfil de artista, Criolo também pode ser considerado um nome de peso entre a nova geração da música brasileira.

Mesclando contestação e protesto, o rapper também procura traduzir de forma dolorosamente melódica e crível a realidade não apenas de São Paulo, mas de qualquer outra metrópole fechada em si mesma e que carece de delicadeza.

O desabafo está na canção Não existe amor em SP, em que a letra destaca com pessimismo: 

“os bares estão cheios de almas tão vazias
a ganância vibra
a vaidade excita
devolva minha vida e morra afogada em
seu próprio mar de fel
aqui ninguém vai pro céu”. 

Afinal, falta amor. Falta tempo.
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* Priscila Pasko é jornalista. Ainda não tem uma opinião formada sobre a sua pessoa, mas tem certeza de que se puder escrever será alguém feliz..
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Fonte:  http://lounge.obviousmag.org/

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