Priscila Pasko*
Falta amor. Falta tempo. Ao que tudo indica, parece que o homem
contemporâneo anda em déficit consigo mesmo. Passa-se em branco apesar
de tanto ruído, de tanto barulho.
Sem espaço para perplexidades e reflexões profundas, tenta-se
diagnosticar comportamentos dissonantes em uma época assimétrica.
Desencaixe entre o ideal e a teoria volátil.
Ainda que no calor da hora, a arte tenta traduzir a angústia cantando
o sofrimento e exorcizando a solidão de apartamentos de um dormitório, o
engarrafamento da cidade e o tempo escasso, que se esvai, que escapa,
que foge.
“Tem que correr, correr
tem que se adaptar
tem tanta conta e
não tem grana pra pagar”
é o que diz a música Dois cafés, da brasileira Tulipa Ruiz.
Pode-se dizer que ela - uma das grandes revelações entre os jovens
compositores do País - tenta expor em suas canções o drama do
homem-anos-2000. E, neste caso, é o urbanismo que sufoca e disputa
espaço com o sossego.
Ainda que se trate de outro perfil de artista, Criolo também pode ser considerado um nome de peso entre a nova geração da música brasileira.
Mesclando contestação e protesto, o rapper também procura
traduzir de forma dolorosamente melódica e crível a realidade não apenas
de São Paulo, mas de qualquer outra metrópole fechada em si mesma e que
carece de delicadeza.
O desabafo está na canção Não existe amor em SP, em que a
letra destaca com pessimismo:
“os bares estão cheios de almas tão
vazias
a ganância vibra
a vaidade excita
devolva minha vida e morra
afogada em
seu próprio mar de fel
aqui ninguém vai pro céu”.
Afinal, falta amor. Falta tempo.
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