HUMBERTO TREZZI*
As democracias ocidentais toleraram as milícias nazistas, entre os anos 1920 e 1930, porque serviam para barrar o avanço do comunismo na Europa. Deu no que deu. O Ocidente sustentou e armou os mujaheddin (guerreiros islâmicos) que enfrentaram os soviéticos no Afeganistão, nos anos 1980, entre eles alguém que ficaria famoso: Osama bin Laden. Deu no que deu: Bin Laden se virou contra seus patrocinadores e planejou o maior atentado terrorista da história, em 2001.
As democracias ocidentais, mais uma vez unidas, ajudaram a armar os rebeldes que destronaram o ditador Muamar Kadafi na Líbia, em 2011. A maioria dos jovens revolucionários usava jeans e camisetas, aspirava e ainda aspira a um país com eleições e aberto ao comércio internacional. O oposto do que viviam sob os 40 anos de ditadura kadafista. Tanto que o vencedor das recentes eleições na Líbia, as primeiras em quatro décadas, foi o partido Aliança das Forças Nacionais, liberal e alinhado com o Ocidente. O sonho dos seus integrantes é transformar o território líbio em porto seguro para o turismo e plataforma de exploração de petróleo, em parceria com europeus e americanos.
Mas, entre os guerrilheiros que acabaram por derrubar e matar Kadafi, existiam radicais de todos os matizes. Um dos extremados é o Wattan (Nação), partido radical islâmico liderado pelo rebelde Abdelhakim Belhadj, que já esteve preso por envolvimento em grupo alinhado com a Al-Qaeda. Esse partido ficou em terceiro e longínquo lugar na votação parlamentar, em julho, mas mantém milícias armadas. Não será surpresa se estiverem envolvidas na morte do embaixador americano. Afinal, uma milícia dessas ousou matar um comandante rebelde em Benghazi ano passado, mesmo que o assassinado e os milicianos atuassem juntos contra Kadafi. Quem radicaliza assim é capaz de tudo, em nome da ideologia. Ou de Alá.
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* Enviado por Zero Hora duas vezes em 2011 para cobrir a guerra civil na Líbia
Fonte: ZH on line, 13/09/2012
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