LETICIA WIERZCHOWSKI*
Conheci primeiro as suas obras. Me tinham contado de um
livro... Las Cartas que No Llegaron. Procurei no litoral uruguaio
durante umas férias, mas só fui tê-lo em mãos dois anos mais tarde, em
Frankfurt – presente do Jordi, um cara joia que trabalha com a minha
agente Nicole Witt. E foi num trem para Berlim que conheci a família
Rosencof e a sua vida em Montevidéu: o alfaiate Isaac, que esperava as
cartas da família que nunca chegariam da Polônia ocupada pelos nazistas,
Rosa, sua mulher, León e o pequeno Maurício. Nesse trem, chorei o mais
profuso pranto que um livro já provocou em mim. E tanto que os
passageiros me olhavam, constrangidos, e meu marido tentava acalmar-me
em vão, já meio estranhado ele também, pois em plena viagem pela Europa
eu tinha me metido naquela outra viagem, através do tempo e da guerra,
pelas mãos de Rosencof.
O livro tanto me tocou que o traduzi. As Cartas que Não Chegaram (editora Record), estará nas livrarias em março de 2013. Mas Rosencof, mesmo depois de vários e-mails trocados, eu não conhecia pessoalmente. Conhecia, isso sim, a sua história. Uma história de coragem e de sofrimento. De superação e de literatura. Mauricio Rosencof foi um dos dirigentes do Movimento Tupamaro no Uruguai e, preso em 1972, foi mantido numa solitária por 11 anos, seis meses e alguns dias – sem ver ninguém, sem enxergar a luz do sol.
Nessa prisão tumular, teve a companhia de dois outros homens com os quais nunca falou, mas com quem desenvolveu a artimanha de se comunicarem através das paredes, em código morse. Esses seus companheiros foram (vejam só!) José Mujica, hoje presidente do Uruguai (presidente que, saibam, doa seu salário integralmente para entidades filantrópicas uruguaias), e Eleuterio Fernández Huidoro, jornalista como Rosencof, hoje ministro da Defesa Nacional. O próprio Rosencof foi, até pouquíssimo tempo atrás, diretor de Cultura de Montevidéu. A história desses anos de masmorra está no livro Memorias del Calabozo.
Na última quinta-feira, porque ele veio à cidade para assistir ao Porto Alegre em Cena, fui conhecer Mauricio Rosencof e sua esposa, Matilde. Mesmo sendo uma escritora, nunca me desassocio da estranheza de conhecer um autor que admiro muito. Ao ver Maurício, porém, não me veio nenhuma timidez. Me veio, isso sim, inteirinho, um trecho de Las Cartas que No Llegaron: “... a primeira coisa que eu conheci foram os olhos. Uns olhos claros, transparentes, astutos, bons e travessos, que sempre estavam sorrindo. Meu pai tinha os melhores olhos do mundo”. Mauricio herdou os olhos do pai, Isaac. Nunca vi tamanho azul, nem tão lindo. Nenhum calabouço, nenhuma ditadura poderia apagar a luz daquele azul. Os olhos de Mauricio são duas janelas para o céu. E os seus livros, memoráveis.
O livro tanto me tocou que o traduzi. As Cartas que Não Chegaram (editora Record), estará nas livrarias em março de 2013. Mas Rosencof, mesmo depois de vários e-mails trocados, eu não conhecia pessoalmente. Conhecia, isso sim, a sua história. Uma história de coragem e de sofrimento. De superação e de literatura. Mauricio Rosencof foi um dos dirigentes do Movimento Tupamaro no Uruguai e, preso em 1972, foi mantido numa solitária por 11 anos, seis meses e alguns dias – sem ver ninguém, sem enxergar a luz do sol.
Nessa prisão tumular, teve a companhia de dois outros homens com os quais nunca falou, mas com quem desenvolveu a artimanha de se comunicarem através das paredes, em código morse. Esses seus companheiros foram (vejam só!) José Mujica, hoje presidente do Uruguai (presidente que, saibam, doa seu salário integralmente para entidades filantrópicas uruguaias), e Eleuterio Fernández Huidoro, jornalista como Rosencof, hoje ministro da Defesa Nacional. O próprio Rosencof foi, até pouquíssimo tempo atrás, diretor de Cultura de Montevidéu. A história desses anos de masmorra está no livro Memorias del Calabozo.
Na última quinta-feira, porque ele veio à cidade para assistir ao Porto Alegre em Cena, fui conhecer Mauricio Rosencof e sua esposa, Matilde. Mesmo sendo uma escritora, nunca me desassocio da estranheza de conhecer um autor que admiro muito. Ao ver Maurício, porém, não me veio nenhuma timidez. Me veio, isso sim, inteirinho, um trecho de Las Cartas que No Llegaron: “... a primeira coisa que eu conheci foram os olhos. Uns olhos claros, transparentes, astutos, bons e travessos, que sempre estavam sorrindo. Meu pai tinha os melhores olhos do mundo”. Mauricio herdou os olhos do pai, Isaac. Nunca vi tamanho azul, nem tão lindo. Nenhum calabouço, nenhuma ditadura poderia apagar a luz daquele azul. Os olhos de Mauricio são duas janelas para o céu. E os seus livros, memoráveis.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 13/09/2012
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