sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Robin Li, do Baidu: “O dinheiro não é a medida mais importante do sucesso"

BILIONÁRIO Li na sede do Baidu, em Pequim. Ele quer conquistar idosos e novos consumidores, como a classe C do Brasil (Foto: Nelson Ching/Bloomberg/Getty Images)

O homem mais rico da China e fundador do maior concorrente do Google conta, em entrevista a ÉPOCA, como manobrou para evitar uma oferta do rival americano e aconselha os jovens empreendedores

GRAZIELE OLIVEIRA
Baidu, cujo significado literal é "centenas de vezes", representa a busca persistente para o ideal. Esta foi a inspiração para nomear o principal provedor de buscas na internet da China, que em julho colocou seus pés no Brasil lançando uma versão em português do Hao123, um diretório de links que permite a pesquisa de conteúdos na rede. Apesar de ainda não possuir dados do mercado brasileiro, na China, os números surpreendem: o Baidu é acessado por 95% dos usuários de internet naquele país, ou meio bilhão de pessoas, mostrando a dimensão da companhia comandada pelo chinês Robin Li, de 43 anos. Seu nome de batismo é Li Yanhong, e Robin foi uma escolha inspirada na infância. "Foi a partir de Robin Hood, um filme de que eu gostava quando eu era criança. Não havia muitos filmes estrangeiros disponíveis naquela época", afirma a ÉPOCA. Nascido na cidade de Yangquan, leste da província de Shanxi, único filho homem de um casal de operários, e quarto de uma linhagem de cinco irmãos, ele ocupa a 86ª posição na lista dos milionários deste ano da revista Forbes, com uma fortuna estimada de US$ 10,2 bilhões, e a 3ª posição no ranking de 2011 da revista Hurun, publicação local equivalente à americana.
Os críticos o enxergam como o rei da pirataria e dizem que seu crescimento advém da semelhança com sites como o Youku e Tudou, famosos por suas coleções de filmes pirateados e programas de televisão. A empresa nega, e afirma que remove os links piratas e trabalha em parceria com os detentores de direitos autorais, como as gravadoras Sony, Universal e Warner. Os ataques também envolvem uma possível colaboração do Baidu com as autoridades comunistas chinesas, fornecendo informações relevantes para a censura política local. Sobre isso, a companhia diz que opera seguindo as mesmas regras de mercado, e aplicáveis aos concorrentes, e que não desfruta de favorecimento por parte do governo.
Por outro lado, a empresa é fonte de admiração entre muitos na China, por simbolizar a figura do empresário chinês da internet que venceu fora das multinacionais poderosas, criando uma empresa capaz de lidar com usuários novatos, ou seja, ideal para países desenvolvidos que estão formando suas primeiras gerações digitais. Li ainda não esteve no Brasil, mas, em entrevista a ÉPOCA, deu dicas para os jovens empreendedores do país: "É necessário ser ousado o suficiente para inovar".

ÉPOCA – O senhor esperava tornar-se o homem mais rico da China tão jovem?
Robin Li –
Riqueza, no sentido amplo, não é um sinônimo real de felicidade. O dinheiro não é simplesmente a medida mais importante do sucesso. O que importa é fazer o que você ama, e se você está construindo uma meta de vida. Ser feliz não é ser o homem mais rico, mas o homem mais feliz. Por exemplo, quando eu ouvi o sino de abertura da Nasdaq no dia do nosso IPO (a empresa fez sua abertura de capital em 2005 na bolsa eletrônica norte-americana Nasdaq), eu me senti como um viajante que tinha alcançado um objetivo importante ao longo de sua jornada. Não quer dizer que eu tinha completado a viagem, ou que eu havia chegado.

ÉPOCA – Qual foi o momento mais difícil da sua vida até hoje?
Li –
As maiores dificuldades que enfrentei até agora não têm sido os concorrentes ou inimigos, mas as poderosas tentações do dia a dia. Quando uma grande empresa está pronta para assinar-lhe um cheque e fazer de você um bilionário do dia para a noite, é uma tentação. Durante o Road Show antes do IPO, para captar recursos, nossa última parada foi em Nova York. Um investidor perguntou: "Quando vai dizer ao Google se vamos vender?" Nesse ponto, nós já sabíamos que se precisássemos ir a público, a nossa avaliação viria em cerca de US$ 800 milhões. Responder a ele que eu não iria vender por preço nenhum teria sido uma irresponsabilidade. Eu tinha que convencer os investidores de que a aposta no Baidu valeu à pena. Por fim, eu disse que venderia por US $ 2 bilhões. Era uma resposta com a intenção de fazer o Google abandonar o seu lance e funcionou. Eles retiraram a oferta existente e fomos capazes de listar na bolsa Nasdaq em 5 de agosto de 2005.

ÉPOCA – Na sua opinião, como a China está lidando com a crise global e como o país deveria agir de agora em diante?
Li –
Eu acho que a crise econômica atual é como uma corrida de Fórmula 1, onde empresas e corporações podem ser pensadas como carros de corrida. Se cometerem um erro na volta, eles podem bater e sair da disputa ou perder posições. A reação natural é acionar os freios. No entanto, onde há risco também há oportunidade, e os melhores pilotos tendem a ultrapassar os outros carros nesses momentos. É a chance de superar a concorrência. O importante é manter os olhos na pista à sua frente, manter o controle firme do volante e pisar no acelerador.

ÉPOCA – Qual a sua impressão da economia brasileira e das nossas empresas?
Li –
Eu ainda não estive no Brasil, mas é claro que eu gostaria de visitar um dia. Minha impressão é a de que o país fez grandes avanços para se tornar a sexta maior economia do mundo. Eu acredito que há muitos paralelos entre a China e o Brasil, e muitas das mesmas oportunidades que naturalmente se apresentam em um ambiente de alto crescimento.

ÉPOCA – Qual mensagem o senhor deixaria para os empreendedores brasileiros que gostariam de seguir seu exemplo?
Li –
Eu diria as mesmas três coisas que eu diria para jovens que pretendem iniciar um negócio em qualquer lugar do mundo. Primeiro preparem-se para falhar, porque a realidade cruel é a de que 99% das startups vão falhar. O mesmo se aplica a mim. Quando me propus a criar uma empresa, eu disse a mim mesmo e aos outros que a probabilidade de fracasso era grande. Segundo, sejam ousados. Vocês precisam ser ousados o suficiente para inovar. Inovação, quase que por definição, acontece em domínios que ainda não são reconhecidos por grandes empresas. Estas são as únicas áreas em que as startups têm vantagens em relação a outros recursos, mais escassos. Terceiro, mantenham o foco. Depois de escolher uma direção, e decidirem que esta representará o futuro, busque-a, mesmo que os outros não vejam o que você vê. Você precisa se concentrar e derramar cada grama de seu esforço sobre isso.
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Fonte:  http://revistaepoca.globo.com/Negocios-e-carreira/noticia/2012/09/robin-li-do-baidu-o-dinheiro-nao-e-medida-mais-importante-do-sucesso.html

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