Criador e criatura: a bordo da Estação Espacial
Internacional, o Robonauta (à esquerda), robô desenvolvido pela Nasa, e
um astronauta (à direita) reproduzem a clássica pintura de Michelangelo
na Capela Sistina (Itália). (foto: Nasa)
Pode parecer ficção, mas os robôs estão cada vez mais
integrados ao nosso dia a dia – e vieram para ficar. No Brasil, a área
ainda sofre com falta de incentivos, embora as equipes universitárias
nacionais façam sucesso nas arenas de competição pelo mundo.
Há décadas os robôs povoam o imaginário humano e a ficção científica, nos papéis de ajudantes domésticos, filhos substitutos, super-heróis ou mesmo algozes do homem.
Embora menos fantástica, a realidade não é tão diferente. Em algum
nível, já temos vários deles em nossas casas, muitos são empregados em
diversos ramos da indústria e sondas robóticas já conquistaram
até a superfície de Marte. Mas, segundo especialistas, isso é apenas o
começo: os robôs vieram para ficar e serão cada vez mais comuns no nosso
dia a dia.
Depois de revolucionar as linhas de montagem, a robótica chega a nossas casas a bordo de eletrodomésticos automáticos e carros autodirigidos, a um passo de invadir as ruas. Na medicina, cirurgias com precisos braços robóticos já são feitas no Brasil e próteses e exoesqueletos controlados pelo pensamento podem virar rotina. Na indústria bélica, robôs são usados para reconhecimento, transporte e até ‘combate’. Singrando terra, ar e mar, os robôs batem recordes de velocidade, literalmente chegam ao olho do furacão e até fazem plantão como salva-vidas, dançarinas, atrizes, educadores e mesmo cientistas.
“Os robôs estarão em nossas casas de forma mais eficiente,
vão dirigir nossos carros, trabalharão ombro a ombro com o homem nas
fábricas e vão dar assistência a quem precisar deles”
Mais do que uma presença constante em nosso cotidiano, para o engenheiro italiano Antonio Bicchi, da Universidade de Pisa, na Itália, e do Instituto Italiano de Tecnologia,
os desdobramentos da robótica vão mais longe. Ele prevê que o
desenvolvimento de robôs pessoais com as mais diversas capacidades
impulsionará uma revolução no mundo com um impacto potencial similar ao
da criação do automóvel.
“Temos vivido uma revolução intangível das comunicações e da
informação, um movimento que, aliado à capacidade de interação entre
homem e máquina, será catalisador da próxima revolução tangível: a
robótica, a tecnologia da ação”, acredita. “Os robôs estarão em nossas
casas de forma mais eficiente do que hoje, vão dirigir nossos carros,
trabalharão ombro a ombro com o homem nas fábricas e vão dar assistência
a quem precisar deles.”
Investimento e crise
Europeus, norte-americanos e japoneses aparecem como líderes na área
de robótica. A Alemanha, a América do Norte e o Japão concentram cerca
de dois terços dos mais de um milhão de robôs do mundo, segundo a Federação Internacional de Robótica – um mercado que movimenta quase 20 bilhões de dólares anuais. Em junho de 2012, os Estados Unidos anunciaram um programa de robótica que pretende colocar o país na liderança mundial da área.
Com tantos robôs por aí, um dos temores mais comuns é o aumento do desemprego estrutural. No Japão, por exemplo, pesquisas indicam
que os autômatos (utilizados em linhas de montagem) poderiam substituir
até 3,5 milhões de trabalhadores até 2025. Mesmo na China, famosa por
sua mão de obra barata, os robôs vêm ganhando espaço em diversos setores.
Para o engenheiro Marco Meggiolaro, coordenador da RioBotz, equipe de
robótica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), a tendência da robotização não é acabar com o emprego, mas justamente o contrário.
“As atividades de desenvolvimento, manutenção e operação dos robôs
criam postos de trabalho e estimulam a migração dos trabalhadores para
áreas mais nobres”, afirma. “O problema é que, quando temos um quadro de
recessão, queda da produção e do consumo, a tendência é manter os robôs e reduzir os empregados.”
Robotização, ainda que tardia
No Brasil, a robótica avançou muito nos últimos 20 anos e algumas escolas até incluíram a disciplina em seus currículos.
Mas os obstáculos ainda são grandes. “Em comparação com outros países, o
investimento é pequeno, a pesquisa é muito concentrada nas
universidades e há pouca mão de obra especializada”, afirma Meggiolaro.
“A maioria das soluções em robótica é importada. Mesmo para pesquisa é
preciso importar materiais, um processo lento e caro que atrasa o
desenvolvimento.”
Veja no vídeo abaixo um panorama da área de robótica
Hoje, as áreas com maior destaque no país são a dos robôs autômatos e a dos móveis
(veículos robóticos utilizados principalmente para monitorar e
inspecionar áreas de acesso restrito ao homem). O engenheiro Glauco
Caurin, da Universidade de São Paulo (USP), também destaca a aplicação
da robótica nacional no setor de petróleo, em especial na exploração do pré-sal.
Caurin é um dos idealizadores do primeiro centro de robótica do Brasil,
que será inaugurado pela USP no próximo ano. “O objetivo do centro é
criar tecnologias e produtos para outras áreas, criar novas indústrias”,
explica. “A robótica pode ajudar a atender as necessidades de nossa
sociedade – algumas tipicamente brasileiras –, com soluções que, se não
forem criadas localmente, não poderão ser importadas.”
Para o engenheiro, a inclusão da robótica de forma sólida na
indústria brasileira também passa pela criação de um ambiente favorável
ao investimento privado.
Atletas de metal
Na base do desenvolvimento desse complexo campo, estão iniciativas
que, à primeira vista, parecem mais brincadeira do que ciência: as
competições de robôs. Nelas, estudantes, engenheiros e fãs de robótica
competem em categorias que exigem habilidades específicas de cada tipo
de máquina, colocando à prova os mais novos conceitos e equipamentos.
Para Antonio Bicchi, “as competições representam um tremendo impulso
para a área, pois ajudam a capilarizar a robótica pela sociedade”.
As bases dos projetos dos robôs mais avançados não são muito
diferentes das que criamos. Nas competições são aprimoradas tecnologias úteis para diversas áreas de interesse do homem
A maior competição mundial de robótica é a RoboGames,
uma olimpíada com mais de 50 modalidades que reúne centenas de equipes
de vários países. O Brasil tem feito bonito no evento: esteve entre os
primeiros colocados das últimas quatro edições, com destaque para as
equipes Uai!rrior, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, e RioBotz, da PUC-Rio. Outras competições importantes são a BattleBots, para robôs de luta, e a Robocup, a copa do mundo do futebol robótico. No Brasil, entre os principais eventos estão a nossa olimpíada de robótica (confira matéria na CH On-line) e a RoboCore.
“Os campeonatos são divertidos, desafiadores e suas muitas categorias
estimulam o aprendizado das diversas áreas da robótica”, afirma o
estudante de engenharia Renan Martines, capitão da equipe Uai!rrior. Ele
completa: “As bases dos projetos dos robôs mais avançados do mundo não
são muito diferentes daquelas que criamos, apenas têm outras
finalidades. Por isso, nas competições são aprimoradas tecnologias para
serem aplicadas em diversas áreas de interesse da humanidade”.
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Reportagem por Marcelo GarciaFonte: Ciência Hoje On-line 13/09/2012
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