RICHARD SIPE
Ex-monge e padre beneditino, sociólogo, especializou-se em atendimento de padres,
Ex-monge e padre beneditino, sociólogo, especializou-se em atendimento de padres,
religiosos e religiosas com
dificuldades psicológicas, é autor de livros sobre o assunto.
dificuldades psicológicas, é autor de livros sobre o assunto.
Redação
O psicoterapeuta e ex-padre americano RICHARD SIPE (1)foi
conselheiro e professor de mais de 1000 padres com histórico de
envolvimento sexual. Ele diz que os escândalos são apenas o sintoma de
uma estrutura eclesiástica que não lida com a sexualidade humana.
O que há na mente dos padres abusadores?
Richard Sipe:
Primeiro, têm uma adaptação social imatura e evitam pessoas. São também
voltados à própria satisfação e não identificam o sofrimento de sua
vítima. Por outro lado, conseguem passar uma excelente imagem: se
vestem de forma impecável, adoram cerimônias e tudo que os coloca no
centro das atenções. Mas não têm controle interno. Nem compaixão.
Como lidar com eles?
Richard Sipe: É preciso mudar o sistema que produz esses padres.
É um sistema psicopata que está tão corrompido agora como no século 12.
Ele omite os crimes e muda os abusadores de paróquia em paróquia.
Assim, mantém pessoas doentes e outras em perigo.
Qual a solução para padres abusadores seriais?
Richard Sipe: Ela deve atacar 3 áreas: criminal, moral - porque a Igreja ensina que todo sexo é pecado - e psiquiátrico. Se houver crime, a pessoa deve ser tratada como um criminoso. Abusadores também não devem mais trabalhar como padres,
pois aproveitam sua condição de conselheiros para seduzir menores. E,
se precisarem, devem receber medicamentos e terapias. Mas o mais importante é que sejam monitorados. São como os alcoólatras: se quiserem se controlar, há meios para isso. Mas estamos falando mais de controle que de cura.
Como isso pode ser feito?
Richard Sipe: Acabo
de visitar um grupo de 10 ex-padres, quase todos pedófilos, que moram
juntos numa casa sob a supervisão de outros padres. Não foram presos
porque seu crime prescreveu, mas vivem confinados. Ali eles tentam
reconstruir sua vida espiritual, mas não podem sair sem acompanhamento. O
oposto é outro mosteiro que visitei, onde pedófilos podiam pegar o
carro e sair sozinhos. A falta de supervisão é desastrosa, pois quem tem tal vício não consegue se controlar.
E qual a proporção de pedófilos no clero?
Richard Sipe: Coletei dados durante 25 anos (1960-1985) e a conclusão foi que, em qualquer época, não mais de 50% dos padres e bispos praticam o celibato. Uns têm relações sexuais com mulheres, outros com homens. E cerca de 6% se envolvem com crianças.
Mas isso aumenta quando você estuda dioceses individuais. Na
Arquidiocese de Los Angeles, 11,5% dos padres que trabalhavam em suas
paróquias em 1983 foram mais tarde acusados de abuso sexual de menores.
Qual a raiz do problema?
Richard Sipe: Os padres não são bem preparados nos seminários.
Muitos podem ser disciplinados nos anos de formação, mas começam a se
envolver com adultos ou menores ao mudar para suas paróquias. A questão é
que muitas pessoas têm a vocação para ser padre, mas não para o celibato. É aí que o conflito aparece.
A solução é o fim do celibato?
Richard Sipe: O problema vai além disso: ele reflete todo o ensino da Igreja sobre sexualidade, e o abuso de crianças pelo clero é apenas um sintoma desse sistema.
NOTA
[ 1 ] Richard Sipe participa do filme Spotlight – Segredos Revelados, em cartaz nos cinemas nacionais e comentado no artigo anterior.
Fonte: Revista Super Interessante– Edição 288 – Fevereiro de 2011 – Internet: clique aqui.
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