sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

FIM DO DINHEIRO

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Juremir Machado da Silva* 
 
A primeira notícia de 2016 a me impressionar, sem contar a de que um financiador de campanha de Michel Temer foi beneficiado com um jabuti numa lei, vem da Suécia: o dinheiro acabou. Não, a Suécia não ficou pobre de repente. Apenas não quer mais lidar com moedas de cédulas. Considera-se muito perigoso ficar guardando tesouro cobiçado. Até os cartões de crédito começam a ficar ultrapassados por lá. A moeda corrente é o pagamento por aplicativo. O dinheiro, como  livro impresso, era uma tecnologia prática, ao portador. Não exigia nem aparelhos especiais nem energia na hora do uso – salvo  para não errar o pagamento feito à noite –, mas servia uma vela ou um isqueiro.

Nem os bancos suecos, porém, aceitam mais dinheiro. Os suíços  é que não têm preconceitos. Quando uma juíza brasileira bloqueou o Whatsapp muita gente se desesperou. Juro que ouvi esta conversa:
-       Meu Deus, que faço agora?
-       Uma e-mail.
-       E-mail? Ainda existe isso? Nem sei como se usa.
-        
E-mail, como sentar, é coisa velha. A terceira idade, contudo é um nicho de mercado incrível. Já li livro volumoso sobre o fim do trabalho, do cinema, da literatura, do desejo e da história. O fim é uma obsessão. Paul Mason, colunista do jornal britânico The Guardian, lançou livro no final de 2015 anunciando o começo do fim do capitalismo. Nada a ver com o começo do comunismo. Segundo ele, a tecnologia  vai diminuir cada vez mais a necessidade de trabalho e a margem de lucro na produção seriada. Custará cada vez menos produzir cada vem mais do mesmo.. E a economia colaborativa vai se impor. O capitalismo, nessa linha de raciocínio, vai se autodevorar. Será?
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Ambulante com máquina de cartão de débito e crédito virou rotina. Flanelinha vai ter muito em breve. O dinheiro perdeu crédito. Não é tendência. Dinheiro é coisa de pobre. A verdade é que o dinheiro nunca passou de uma ficção de valor. Agora já é apenas uma mensagem virtual. Transfere-se de um lado para outro um código. A humanidade viveu a era do sólido. O lastro ouro fez parte desse época de apego ao material. O livro talvez venha a ser o lastro da cultura, armazenado em bibliotecas para o caso de uma catástrofe que impeça o acesso ao virtual.  Sei que muitas pessoas não gostam disso. É o nosso passado que morre. Como era uma viagem de fim de ano há três décadas? Todos num carro duas portas sem ar, as janelas abertas, o vento quente fazendo um barulho danado, as pessoas gritando para se faze ouvir, o motorista tomando uma cerveja ao volante, nada de cinto.

O dinheiro acabou. O passado tenta sobreviver. A tecnologia, porém, nada perdoa, especialmente os nostálgicos. Quem não se lembra dos jornalistas agarrados às suas máquinas de escrever como bárbaros amarrados aos seus instrumentos? Diziam ser incapazes de escrever uma linha sem o barulho das teclas, a fumaça do cigarro e as escapadas pela meia-noite para um trago na esquina. Tudo passa. A Suécia não quer mais dinheiro. O capitalismo corre risco de extinguir-se por excesso de desempenho. A humanidade avança. Para onde, José?
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* Jornalista. Sociólogo. Escritor.

Fonte: Correio do Povo impresso, 06/01/2016 pág. 2.
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