José Roberto de Toledo
MEMBROS DO BLACK BLOC EM MANIFESTAÇÃO
Invariavelmente, apelam para a depredação e o vandalismo!!!
Invariavelmente, apelam para a depredação e o vandalismo!!!
Quanto mais homogêneo o grupo,
mais a falsa informação
se propaga,
como epidemia
Aumento de tarifa, protestos, bombas, bagunça. 2016 revive 2013. Esperar
resultados diferentes de ações recorrentemente iguais e infrutíferas
não define insanidade. Tampouco denota perseverança. É burrice mesmo. A falta de inteligência vem da incapacidade de a sociedade aprender com os próprios erros. Se é difícil identificar onde a espiral de equívocos começa, torna-se previsível o seu desfecho: recessãoe desemprego.
A
culpa é da tropa de choque, que reprime protestos com violência
desmesurada? Ou culpados são os black blocs mascarados que depredam o
transporte público que supostamente defendem? Mas quem começou tudo não
foram os movimentos pelo passe livre nas catracas, que marcaram as
manifestações? Ou seriam os prefeitos que elevaram o preço da passagem
de ônibus em 30 ou 40 centavos?
Pode-se
continuar regredindo nas perguntas sobre de quem é o engano original
até chegarmos à política econômica que desandou em inflação e precipitou
reajustes de tarifas públicas. Mas por que parar aí? Será que seus
autores teriam sido eleitos sem a ajuda de quem, quando estava no poder,
insistiu em uma política que, após início promissor, deu em desemprego e
recessão?
E, assim, recomeçamos tudo de novo, rumo ao indefectível final.
Enquanto
o círculo vicioso da economia gira, o pêndulo da política oscila de
igualitários a libertários, de socialistas a liberais – até virar
bate-boca no qual o único argumento é chamar o rival de petralhaou coxinha.
Quando muito, cada lado pinça estatísticas que só servem aos seus
interesses e – como as melhores lingeries – revelam tudo, menos o que
importa.
Variações
dessa metáfora são frequentemente atribuídas ao falecido ministro
Roberto Campos. Mas, assim como não foi Albert Einstein quem perpetrou a
falsa definição de loucura (“fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes”), tampouco Bob Fields foi o pioneiro na comparação. Seu autor foi o norte-americano Aaron Levenstein: “Statistics are like bikinis. What they reveal is suggestive, but what they conceal is vital” [trad.: Estatísticas são como biquínis. O que elas revelam é sugestivo, mas o que elas escondem é vital].
Do mesmo modo que citações equivocadas são copiadas e coladas internet afora, perpetuando mitos, o facciosismo
político-partidário desbunda sempre em um frenesi acusatório no qual os
acusadores dos dois lados não raramente projetam no rival seus próprios
defeitos. Invariavelmente, ambos têm razão.
Nesse ponto, este texto normalmente enveredaria sobre como a
política, quando deixa de ser a solução, vira o problema – e como, sem
reformá-la, o País condena-se a repetir seu passado meia cura, nunca
maturando todo seu potencial. Desta vez, não. Em vez de entrar no
mesmo beco sem saída onde políticos profissionais legislam sempre em
causa própria, talvez valha a pena olhar para a esplanada de erros de
quem os elege. Ou ao menos um deles: a maneira como reforçamos nossos preconceitos.
A informação incorreta
se tornou tão difundida nas mídias sociais digitais que o Fórum
Econômico Mundial a considera uma das principais ameaças à sociedade
humana. No mais recente artigo sobre o tema, publicado na prestigiosa
revista da Academia de Ciências dos EUA, pesquisadores italianos e norte-americanos detalham como as balelas se espalham online.
Usuários
do Facebook em geral tendem a escolher e compartilhar uma narrativa – a
que reforça suas crenças – e ignorar todas as demais.
A repetição desse hábito tende a formar agrupamentos socialmente
homogêneos e polarizados que funcionam como câmaras de ressonância dos
boatos. Quanto mais homogêneo o grupo, menor a resistência, e mais a
falsa informação se propaga – como epidemia. Resultado: desconfiança entre diferentes e paranoia.
Cuidado com o que você compartilha. Há um black bloc em cada um, pronto a tocar fogo no circo. Ele se alimenta da segregação. MISTURE-SE.
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