terça-feira, 12 de janeiro de 2016

To Facebook or not to Facebook

To Facebook or not to Facebook

O Facebook é a cidade ideal, onde tudo é instantaneamente acessível (Foto: Flickr/downloadsource.fr)

O Facebook engole, feliz, horas da existência dos incautos que se deixam seduzir ou até, quem sabe, engabelar

 
Dizia uma avó para outra: “Meu neto vai se casar!” “Que bom, e com quem?” “Uma moça muito simpática que ele conheceu em Feicebuque – só não me pergunta onde fica essa cidade, não tenho a menor ideia…”

Ah, se soubessem! Essa cidade é a maior do mundo, e além do mais, não tem problemas de trânsito, nem de lixo (bom, isso é discutível), nem de assaltos, nem de calor ou frio… A cidade ideal, onde tudo é instantaneamente acessível, onde não se precisa de telefone nem de botequim (nem de chopp, o que é melhor para a dieta) para ter bons papos, onde o único custo é o tempo…

Tocamos aí talvez no grande problema, pois de fato o mundo perfeito não existe: o Facebook engole, feliz, horas da existência dos incautos que se deixam seduzir ou até, quem sabe, engabelar. Começa assim, um olhadela de vez em quando, no meu caso com a desculpa de entrar um pouco no mundo dos meus filhos e netos, de saída os únicos “amigos”. Aí conversa vai, conversa vem, um assunto puxa outro, e os “amigos” se multiplicam, por mais que a gente tente ser seletivo. A lista vai crescendo, a leitura demora cada vez mais, responder fica irresistível, e lá se vão minutos e horas!

De manhã, ainda na cama, antes mesmo de escovar os dentes e de tomar café, a gente estica o braço para pegar o iPad – é só para dar uma espiada rápida nas novidades. Despachados os e-mails, passamos para o FB. E aí surge um caudaloso rio de notícias, críticas, artigos, conselhos, receitas, recados, saudações de amigos de longe, apresentações a novos amigos fascinantes que pensam como nós, cartoons e charges de morrer de rir, vídeos hilariantes… não é mais uma cidade, é todo um mundo novo, pelo qual viajamos praticamente de graça e sem ter que passar pelo crivo do check-in e dos controles de segurança – já que a única arma que tem trânsito ali é a poderosa palavra, às vezes letal, é verdade.

Tive que me render à evidência. Estou viciada, hooked como dizem os anglo-saxões, fisgada. Felizmente, ainda consigo manter certos limites e princípios, e alguma capacidade de discriminação, que se torna uma questão de vida ou de morte… cerebral. Só me permito a viagem matinal. Nada de passeios durante o dia, os outros afazeres me chamam, embora esteja aposentada. Não consigo entender os “amigos” ainda ativos profissionalmente que produzem diariamente uma tonelada de “posts”, alguns elaboradíssimos, longos, cheios de opiniões e comentários. Ou acordam com o galo, ou facebookam na hora do expediente, impensável!

Devo dizer que tenho me divertido muito e tenho aprendido um monte de coisas. Mas há três categorias de “postantes”que me irritam profundamente: os piegas, os devotos e os amigos dos animais. Mensagens edificantes sobre o amor e a amizade, apelos à religiosidade, suposta nos abrir as portas da felicidade eterna e do paraíso, e histórias intermináveis de gatos e cachorros, os melhores amigos do homem, é bem sabido, ocupam um espaço que, a meu ver, é puro desperdício. Eu me lembro de quando eu era jovem (já entenderam que sou uma velha coroca e ranzinza) e não existia internet, e-mail, FB nem mesmo telex e fax, e que o telefone era proibitivo, havia um meio de comunicação não muito prático mas bem barato, era o custo de um telefonema local: o rádio amador. Pois bem, era muito bom, assim dava para falar com frequência (sem trocadilho…) e sem se preocupar com o relógio, mas existiam regras quanto aos assuntos. Três eram terminantemente proíbidos: religião, política e dinheiro. Acho que se deveria estabelecer uma regulamentação parecida para o Facebook (lá vou eu ser acusada de censora e inimiga da liberdade de expressão), com exceção da política que é, de fato, a alma do negócio. Na sua falta, resta o recurso de “desamigar” a pessoa chata, o divórcio no país do Facebook. Não muito simpático, como também o fato de ignorar pedidos de virar “amigo”, que pode ser considerado uma grave “esnobada”, mas se se fazem casamentos no Feicebuque, é justo que também possam ser desfeitos!
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Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/317429/

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