O Facebook é a cidade ideal, onde tudo é instantaneamente acessível (Foto: Flickr/downloadsource.fr)
O Facebook engole, feliz, horas da existência dos incautos que se deixam seduzir ou até, quem sabe, engabelar
Dizia uma avó para outra: “Meu neto vai se casar!” “Que bom, e
com quem?” “Uma moça muito simpática que ele conheceu em Feicebuque – só
não me pergunta onde fica essa cidade, não tenho a menor ideia…”
Ah, se soubessem! Essa cidade é a maior do mundo, e além do mais, não
tem problemas de trânsito, nem de lixo (bom, isso é discutível), nem de
assaltos, nem de calor ou frio… A cidade ideal, onde tudo é
instantaneamente acessível, onde não se precisa de telefone nem de
botequim (nem de chopp, o que é melhor para a dieta) para ter bons
papos, onde o único custo é o tempo…
Tocamos aí talvez no grande problema, pois de fato o mundo perfeito
não existe: o Facebook engole, feliz, horas da existência dos incautos
que se deixam seduzir ou até, quem sabe, engabelar. Começa assim, um
olhadela de vez em quando, no meu caso com a desculpa de entrar um pouco
no mundo dos meus filhos e netos, de saída os únicos “amigos”. Aí
conversa vai, conversa vem, um assunto puxa outro, e os “amigos” se
multiplicam, por mais que a gente tente ser seletivo. A lista vai
crescendo, a leitura demora cada vez mais, responder fica irresistível, e
lá se vão minutos e horas!
De manhã, ainda na cama, antes mesmo de escovar os dentes e de tomar
café, a gente estica o braço para pegar o iPad – é só para dar uma
espiada rápida nas novidades. Despachados os e-mails, passamos para o
FB. E aí surge um caudaloso rio de notícias, críticas, artigos,
conselhos, receitas, recados, saudações de amigos de longe,
apresentações a novos amigos fascinantes que pensam como nós, cartoons e
charges de morrer de rir, vídeos hilariantes… não é mais uma cidade, é
todo um mundo novo, pelo qual viajamos praticamente de graça e sem ter
que passar pelo crivo do check-in e dos controles de segurança – já que a
única arma que tem trânsito ali é a poderosa palavra, às vezes letal, é
verdade.
Tive que me render à evidência. Estou viciada, hooked como
dizem os anglo-saxões, fisgada. Felizmente, ainda consigo manter certos
limites e princípios, e alguma capacidade de discriminação, que se torna
uma questão de vida ou de morte… cerebral. Só me permito a viagem
matinal. Nada de passeios durante o dia, os outros afazeres me chamam,
embora esteja aposentada. Não consigo entender os “amigos” ainda ativos
profissionalmente que produzem diariamente uma tonelada de “posts”,
alguns elaboradíssimos, longos, cheios de opiniões e comentários. Ou
acordam com o galo, ou facebookam na hora do expediente, impensável!
Devo dizer que tenho me divertido muito e tenho aprendido um monte de
coisas. Mas há três categorias de “postantes”que me irritam
profundamente: os piegas, os devotos e os amigos dos animais. Mensagens
edificantes sobre o amor e a amizade, apelos à religiosidade, suposta
nos abrir as portas da felicidade eterna e do paraíso, e histórias
intermináveis de gatos e cachorros, os melhores amigos do homem, é bem
sabido, ocupam um espaço que, a meu ver, é puro desperdício. Eu me
lembro de quando eu era jovem (já entenderam que sou uma velha coroca e
ranzinza) e não existia internet, e-mail, FB nem mesmo telex e fax, e
que o telefone era proibitivo, havia um meio de comunicação não muito
prático mas bem barato, era o custo de um telefonema local: o rádio
amador. Pois bem, era muito bom, assim dava para falar com frequência
(sem trocadilho…) e sem se preocupar com o relógio, mas existiam regras
quanto aos assuntos. Três eram terminantemente proíbidos: religião,
política e dinheiro. Acho que se deveria estabelecer uma regulamentação
parecida para o Facebook (lá vou eu ser acusada de censora e inimiga da
liberdade de expressão), com exceção da política que é, de fato, a alma
do negócio. Na sua falta, resta o recurso de “desamigar” a pessoa chata,
o divórcio no país do Facebook. Não muito simpático, como também o fato
de ignorar pedidos de virar “amigo”, que pode ser considerado uma grave
“esnobada”, mas se se fazem casamentos no Feicebuque, é justo que
também possam ser desfeitos!
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Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/317429/
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