Protesto contra os bombardeamentos da Síria, Londres 28 de novembro de 2015
– Foto de Alisdare Hickson/flickr
“O chamado Estado Islâmico
não tem nada de misterioso… Atualmente, é talvez o fenómeno mais
estudado e analisado de todo o mundo”, diz Gilbert Achcar em entrevista a
Faruq Sulehria. Achcar salienta que não há possibilidade de sair da
tragédia síria sem a “remoção de Assad” e defende que “a primavera árabe
está longe de ter terminado”.
“O
chamado Estado Islâmico não tem nada de misterioso… Atualmente, é
talvez o fenómeno mais estudado e analisado de todo o mundo”, diz
Gilbert Achcar, professor de Estudos sobre o Desenvolvimento e Relações
Internacionais na Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) de
Londres. Achcar, nascido no Líbano, antes de integrar a SOAS ensinou na
Universidade de Paris VIII e é um dos comentadores mais relevantes sobre
o Médio Oriente. Escreveu e editou vários livros, entre os quais Perilous Power, uma conversa com Noam Chomsky sobre o Médio Oriente e a política externa dos EUA; The Arabs and the Holocaust, aclamado pela crítica, e The People Want, sobre a revolta árabe. Numa entrevista a The News on Sunday (TNS), analisa a revolta árabe e a ascensão do Estado Islâmico (EI). Eis aqui alguns extratos:
TNS: Sobre o Estado Islâmico ou Daesh tecem-se muitos mitos.
Os teóricos da conspiração apresentam-no como um cavalo de Troia
imperialista. Outros veem nele um instrumento dos sauditas. Todos os
analistas sérios, no entanto, assinalam a sua relação com a guerra do
Iraque. Alguns deles destacam o papel do regime de Bachar al Assad no
aparecimento do EI. Que opina do mistério que rodeia o EI e os seus
vínculos duvidosos com forças tão díspares?
Gilbert Achcar (GA): O chamado Estado Islâmico é,
antes de mais, uma continuação da Al Qaeda no Iraque. É fácil traçar as
origens da Al Qaeda até à Arábia Saudita. Não esqueçamos que 15 dos 19
autores dos atentados suicidas do 11 de Setembro de 2001 eram cidadãos
sauditas. No entanto, isto não significa que o reino saudita planeou e
executou aqueles atentados. A história é bem conhecida: quando
participava na luta contra a ocupação soviética do Afeganistão, Osama
bin Laden - membro de uma família rica saudita - recebeu o apoio da
Arábia Saudita, bem como da CIA e dos serviços secretos paquistaneses.
Voltou-se contra a Arábia Saudita em 1990 devido à intervenção militar
dos EUA contra o Iraque de Saddam Hussein. Opôs-se à decisão saudita de
acolher tropas norte-americanas no seu território e desde então
converteu-se em inimigo da família real saudita, ao mesmo tempo que a Al
Qaeda deixou de ser um grupo anti-soviético para se converter numa
organização anti-norte-americana.
Quando os EUA ocuparam o Iraque em 2003 e deram poder a forças xiitas
pro-iranianas como o Conselho Supremo da Revolução Islâmica do Iraque e
o partido Dawa, que eram aliados de Washington, isto provocou um
profundo ressentimento entre os árabes sunitas. Este ressentimento
contra a ocupação norte-americana exacerbou-se pelo facto de que o Irão
se estava a aproveitar disso para estender a sua influência, preparando o
terreno para o crescimento da Al Qaeda nas regiões árabes sunitas. Um
processo paralelo foi a intensificação da ideologia anti-xiita da Al
Qaeda. O sectarismo anti-xiita é um elemento fundamental do wahabismo, a
ideologia oficial da Arábia Saudita. De facto, a doutrina da Al Qaeda
não é mais que uma versão extrema do wahabismo, que se confronta com a
versão oficial preconizada pela dinastia reinante na Arábia Saudita.
Assim, a Al Qaeda passou a atuar tanto contra a ocupação
norte-americana, tal como contra a população xiita no Iraque.
A presença crescente da Al Qaeda no Iraque era um importante desafio
para os ocupantes norte-americanos, já que estes tinham invadido o
Iraque com o pretexto, entre outros, de golpear a Al Qaeda. O governo de
Bush tinha declarado que esta contava com o apoio do regime de Saddam. A
verdade, no entanto, é que no momento da invasão dos EUA pouca
atividade da Al Qaeda havia no Iraque. Sob a ocupação norte-americana, a
Al Qaeda não só emergiu em força no Iraque, como tomou o controle de
grande áreas do país. Nisto ajudaram-na os conhecimentos de muitos
antigos membros do aparelho militar e de segurança de Saddam Hussein. O
ódio comum à ocupação norte-americana e a animosidade partilhada e
sectária contra os xiitas levaram um grande número de antigos leais de
Saddam Hussein a unir-se à Al Qaeda. Em 2006, a organização passou a
denominar-se Estado Islâmico do Iraque. Depois, os EUA mudaram de
estratégia e começaram a dar poder às tribos árabes sunitas,
fornecendo-lhes dinheiro e armas. Quando essas tribos passaram para o
lado dos EUA, os ocupantes conseguiram marginalizar o Estado Islâmico ou
até derrotá-lo completamente.
TNS:Como é que recuperou se tinha sido quase derrotado?
GA: Dois factos importantes de 2011 explicam esta
recuperação. Por um lado, nos finais desse ano as tropas
norte-americanas abandonaram o Iraque num clima de fracasso total,
deixando atrás um país destroçado, cada vez mais dominado por Teerão, o
arquirrival regional de Washington. Livre da tutela norte-americana, o
governo proiraniano de Maliki aplicou a sua própria política sectária
xiita, revoltando de novo os árabes sunitas. Maliki conseguiu reverter
muito rapidamente o que os EUA tinham conseguido nos anos anteriores à
sua retirada. Em 2012, os árabes sunitas do Iraque realizaram ações
massivas de caráter pacífico de uma magnitude impressionante, mas o
governo de Maliki negou-se a ceder a qualquer das suas reivindicações.
Isto criou um terreno fértil para o ressurgimento do EI no Iraque.
Por outro lado, em finais de 2011, a revolta na Síria começou a
transformar-se em resistência armada, quando as crescentes deserções do
exército sírio tiveram a possibilidade de se oporem com armas à
repressão, cada vez mais violenta, do regime de Assad. Em 2012, a Síria
mergulhou numa guerra civil, e aproveitando essa oportunidade, os que
restavam do EI entraram na Síria e criaram o ramo sírio da Al Qaeda, a
Frente Al Nusra, que se cindiu mais tarde para fundar o Estado Islâmico
do Iraque e da Síria (ISIS, em inglês, ou Daesh em árabe),
posteriormente convertido em “Estado Islâmico”. Um fator importante
neste processo é o facto de o regime sírio ter facilitado a penetração
da Al Qaeda na Síria, depois de também ter facilitado a infiltração de
militantes da Al Qaeda no Iraque, durante os primeiros anos de ocupação
norte-americana.
TNS:Como é que a Al Qaeda recebeu ajuda de um regime “laico”, aliado do Irão?
O regime de Assad também precisava de demonstrar que a única alternativa à ditadura era o jihadismo e o caos. Esta é a razão pela qual ajudou a Al Qaeda a se estabelecer no Iraque
GA: O regime de Assad estava interessado em que
fracassasse a ocupação norte-americana. Sentia-se ameaçado pela “mudança
de regime” no Iraque, especialmente quando, tanto o Iraque como a
Síria. eram governados pelo partido Baas, ainda que por alas mutuamente
hostis do mesmo. O regime de Assad também precisava de demonstrar que a
única alternativa à ditadura era o jihadismo e o caos. Esta é a razão
pela qual ajudou a Al Qaeda a se estabelecer no Iraque. No entanto, teve
que renunciar a esta política por pressões de Bagdade e Teerão, a
partir de 2007. Apesar disso, os serviços secretos sírios continuaram
infiltrados na Al Qaeda, permitindo a esta entrar na Síria para
contribuir para militarizar o que tinha começado, em março de 2011, como
revolta pacífica. A lógica subjacente era a mesma: demonstrar que a
única alternativa à ditadura é o jihadismo. Com este fim, o regime de
Assad não só deixou a Al Qaeda penetrar na Síria, como também pôs em
liberdade, no outono de 2011, uma série de militantes jihadistas que
estavam encarcerados. No verão de 2014, o EI lançou uma vasta ofensiva
desde a Síria até ao interior do Iraque, aproveitando o ressentimento
que se tinha propagado entre as tribos árabes sunitas.
TNS: Como o EI financia as suas necessidades militares e administrativas? Quem lhes proporciona fundos?
GA: Na maior parte autofinanciam-se. Conseguiram
controlar poços petrolíferos, desde o início, e vendem petróleo ao
regime de Assad e a traficantes turcos. Também apreenderam enormes
quantidades de dinheiro nos bancos das cidades que capturaram. Recebem,
além disso, o apoio de doadores privados, principalmente dos Estados do
Golfo, ainda que não dependam de nenhum apoio estrangeiro. De facto, o
chamado Estado Islâmico não tem nada de misterioso. O processo da sua
criação, as suas fontes de financiamento e o seu modo de funcionamento
estão plenamente documentados. Neste momento é talvez o fenómeno mais
estudado e analisado de todo mundo. Agentes dos serviços secretos de
Moscovo a Washington, investigadores, académicos e um conjunto de outros
atores estão a estudar o “Estado Islâmico”.
A barbárie imperialista é a causa primária que conduz à emergência de contra-barbáries do tipo da Al Qaeda. Na Síria, a barbárie do regime de Assad - apoiado por Rússia e Irão - provocou a expansão da contra-barbárie do chamado Estado Islâmico
Este fenómeno encaixa plenamente no que qualifiquei de “choque de
barbáries” no meu livro com o mesmo título, escrito pouco depois dos
atentados do 11 de Setembro. Aí, expliquei que a barbárie imperialista é
a causa primária que conduz à emergência de contra-barbáries do tipo da
Al Qaeda. Na Síria, a barbárie do regime de Assad - apoiado por Rússia e
Irão - provocou a expansão da contra-barbárie do chamado Estado
Islâmico. O que gera essa violência fanática é o grau de ódio, criado
pela violência face a quem reage.
TNS: Ainda que você, nos seus escritos e entrevistas, não
culpe unicamente o Ocidente pela violência no Médio Oriente, há no
entanto uma tendência para culpar o Ocidente de tudo o que está mal no
Médio Oriente. No seu livro sobre o choque de barbáries, a
responsabilidade principal é atribuída de novo ao Ocidente. Que me diz
da ideologia que empurra os jihadistas para a violência? Não existirão
outros fatores que contribuíram para o aumento da violência religiosa
que emana do Médio Oriente e para a radicalização da juventude muçulmana
no Ocidente?
As circunstâncias que radicalizaram os jovens muçulmanos, poderiam tê-los radicalizado à esquerda. Se a esquerda radical na Europa tivesse conseguido construir pontes com a juventude da imigração muçulmana e se se tivesse posto à cabeça das suas lutas sociais, seriam muitos menos os jovens seduzidos pela via fundamentalista reacionária, para manifestar a sua frustração social
GA: Há muitos mais fatores, é claro. Um fator
importante é o fracasso da esquerda. As circunstâncias que radicalizaram
os jovens muçulmanos, poderiam tê-los radicalizado à esquerda. Se a
esquerda radical na Europa tivesse conseguido construir pontes com a
juventude da imigração muçulmana e se se tivesse posto à cabeça das suas
lutas sociais, seriam muitos menos os jovens seduzidos pela via
fundamentalista reacionária, para manifestar a sua frustração social.
Mas isto não tem a ver com a ideologia. Sempre existiram ideologias
fanáticas reacionárias. Por que assistimos atualmente à sua expansão nas
formas opostas de fundamentalismo islâmico, por um lado, e racismo
antimuçulmano por outro, entre outras formas? De facto, estas
manifestações de profunda frustração social não podem dissociar-se do
desmantelamento do Estado Social, do aumento do desemprego e da
crescente precariedade da vida, provocados pelas políticas neoliberais.
Os governos da França e do Reino Unido apelam aos imãs a combaterem o
fundamentalismo islâmico radical. No entanto, não se pode derrotar estas
correntes apenas mediante a luta ideológica. Antes de mais, é preciso
acabar com a situação que constitui o caldo de cultura das suas
ideologias, isto é, as circunstâncias sociais, económicas e políticas em
que estão imersas.
TNS: Qual é o futuro do Estado Islâmico?
GA: Todas as potências mundiais combatem, lado a
lado, contra o chamado Estado Islâmico. Enquanto a Turquia e a Síria
mantêm uma relação ambígua com ele, Arábia Saudita e Irão, bem como
Rússia e EUA, são inimigos do EI, apesar de apoiarem lados opostos na
Síria. No entanto, as potências ocidentais não estão dispostas a enviar
tropas terrestres para lutar contra o EI, e por isso, para o derrotar,
precisam da participação de forças sunitas locais. Lutar contra uma
força sectária sunita como o EI, com forças sectárias xiitas ou com
tropas do regime de Assad, só irá reforçar a sua capacidade de
recrutamento. Os EUA estão conscientes disso, e por isso Washington
aspira a criar uma força árabe sunita para enfrentar o EI, do mesmo modo
que trata de apoiar os seus parceiros árabes sunitas que se aliam com
as forças curdas. Na Síria, Washington deseja unificar toda a oposição
inteira, com exceção da Frente al Nusra e do EI. O governo de Obama
também sabe que uma condição indispensável para pôr fim à guerra à Síria
é a retirada de Assad. Washington espera que a Rússia possa contribuir
para isso, mas Putin ainda não deu sinais de estar disposto a lhe fazer
este favor. Assim, enquanto não se resolvem estes problemas, o chamado
EI está para ficar. Não poderá ser derrotado, nem marginalizado de novo,
apenas com bombardeamentos.
TNS: No verão de 2014, depois da sua repentina incursão no
Iraque cruzando a fronteira, o EI proclamou “o fim de Sykes-Picot”. Está
sobre a mesa a divisão da Síria?
GA: Há duas questões diferentes nesse terreno. É
muito provável que a constituição de Estados autónomos curdos seja já
irreversível. A autonomia das regiões curdas do Iraque e da Síria
corresponde às aspirações do povo curdo, a dispor de um território
soberano próprio. Tirando proveito da proibição de sobrevoar a parte
curda do Iraque, imposta pelos EUA, o Curdistão iraquiano converteu-se
num Estado independente, para todos os efeitos. De facto, este Estado
tem a sua própria bandeira e o seu próprio exército. O Iraque passou a
ser uma confederação. Acho que o Iraque só poderá sobreviver sendo uma
confederação entre entidades soberanas, nem sequer como federação. Na
Síria, pelo contrário, a situação é diferente.
Rojava, ou o Curdistão Ocidental, emergiram na forma de cantões
curdos autónomos. Do ponto de vista da correlação de forças, os curdos
não são tão fortes na Síria como no Iraque. No entanto, ambas as regiões
estão interligadas de muitas maneiras. Os curdos da Síria não pedem a
separação, apesar de a dinâmica da situação apontar atualmente nessa
direção, agora que o país se encontra em plena efervescência. Por outro
lado, a partição da Síria não entra nos planos de ninguém. O regime de
Assad não pode advogar a partição, porque o regime também conta com uma
base sunita. E a oposição está claramente contra a partição.
TNS: Você tem dito que a renúncia de Assad é indispensável
para que se possa progredir na Síria. No entanto, a alternativa não
parece soar a progresso, certo?
GA: O caso é que não pode haver progresso algum para
sair da tragédia síria sem a remoção de Assad. Depois de semelhante
carnificina, não se pode parar uma guerra quando o principal culpado
continua no posto de comando. Não há nenhuma possibilidade de a oposição
depor as armas, enquanto Assad continuar no poder. No início da revolta
síria, eram possíveis alternativas progressistas ao regime, mas a
militarização da revolta, por um lado, e o apoio dado pela Arábia
Saudita e o Qatar aos grupos fundamentalistas islâmicos, por outro,
tornam, efetivamente, pouco provável uma alternativa progressista. Isso é
o que pretendia o regime de Assad desde o início, fazendo todo o
possível para que se cumprisse esse propósito.
Não pode haver progresso algum para sair da tragédia síria sem a remoção de Assad. Depois de semelhante carnificina, não se pode parar uma guerra quando o principal culpado continua no posto de comando
Devido a isto, não existe nenhuma saída realista que tenha uma
perspetiva progressista. O colapso total do Estado sírio seria,
efetivamente, bastante perigoso. A prioridade, no entanto, é deter a
sangria e a destruição. Daí que qualquer solução que permita parar a
guerra, como um acordo de transição entre a oposição e o regime, poderá
ser um avanço. Isto não pode acontecer sem a saída de Assad. Se este se
tivesse demitido no começo da revolta, a Síria poderia ter poupado todo
este caos sangrento. Quanto a quem, no Ocidente, pensa que a Al Qaeda e o
chamado Estado Islâmico são o problema principal, deveria ficar claro
que este problema não se resolverá enquanto Assad estiver no poder. Por
isso, é um completo disparate propugnar uma aliança com Assad para
combater o EI, especialmente sabendo que Asad está muito mais preocupado
em combater o resto da oposição do que o EI.
TNS: Para além de Síria, a primavera árabe converteu-se, ouso
dizer, num pesadelo árabe. Enquanto a Líbia e o Iémen mergulharam numa
guerra civil, o exército volta a mandar no Egito. Na Tunísia, a situação
é instável. No entanto, você continua otimista. No seu livro sobre a
revolta árabe, The People Want, descreve-a como um processo revolucionário prolongado. Em que se baseia a sua perspetiva otimista?
GA: Eu nunca estive “otimista”. Pelo contrário, no
início acusavam-me de ser pessimista precisamente porque insisti que o
processo seria longo e difícil. Quando eclodiu a chamada primavera
árabe, a maioria das pessoas esperava uma transição democrática pacífica
e rápida. Eu sublinhei que a revolta árabe era um processo a longo
prazo, que passaria por uma alternância de revolução e contrarrevolução,
de revolta popular e restauração reacionária, de derrotas e vitórias,
como todos os grandes processos revolucionários da história. Com o que
está a ocorrer agora, a euforia dominante de 2011 converteu-se em
depressão profunda. Assim, quando agora insisto que a primavera árabe é
um processo prolongado, parece que estou a ser otimista. No entanto, não
o sou: só insisto que a primavera árabe está longe de ter terminado e o
seu potencial revolucionário está longe de se ter esgotado.
A revolta árabe é na sua origem uma rebelião contra circunstâncias sociais, económicas e políticas repressivas, que são comuns a toda a região. A não ser que se eliminem essas circunstâncias, a região continuará em tumulto
Penso que a revolta árabe ainda se encontra na sua fase inicial.
Ainda há muito para acontecer. Os processos revolucionários históricos
demoram décadas a completar-se: as revoluções inglesa, francesa e
chinesa desenvolveram-se durante dezenas de anos. Há muito pouco tempo,
no Iraque e no Líbano, dois países em que o sectarismo é uma
característica do Estado, ocorreram mobilizações massivas pacíficas em
torno de questões sociais, por cima das divisões sectárias. Refletem o
facto de que o potencial de uma luta social progressista continua vivo. A
revolta árabe é na sua origem uma rebelião contra circunstâncias
sociais, económicas e políticas repressivas, que são comuns a toda a
região. A não ser que se eliminem essas circunstâncias, a região
continuará em tumulto.
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Entrevista a Gilbert Achcar, por Faruq Sulehria publicada a 27 de dezembro de 2015 em tns.thenews.com.pk e traduzida para espanhol por Viento Sur. Tradução para português por Carlos Santos para esquerda.net
Fonte: http://www.esquerda.net/artigo/o-estado-islamico-nao-tem-nada-de-misterioso-afirma-gilbert-achcar/40438
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